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Um telefonema, mas o seu.

    Saudades de quando a gente ficava horas no telefone falando sobre tudo e sobre nada. Todos os minutos eu ficava com um sorriso estampado no meu rosto, muito boba, e pelo tom da sua voz eu sabia que você sorria igualmente. Saudades de como às vezes você me escutava tão bem e às vezes não me deixava falar nem por um segundo. Saudades de quando chegava um momento em que o assunto acabava e sua respiração era o ponto mais calmo e aconchegante que eu já pude encontrar. Dizem que o silêncio cômodo é o ponto de maior intimidade e me sinto assim com você. O silêncio e a sua presença eram tão confortantes e relaxantes que não me importava de deitar naquele banco de madeira que fazia minha cabeça doer no dia seguinte. Nessa hora eu não pensava em nada e creio que você também não. Ouvia só a sua respiração e você a minha. Só pensava em como ela fazia-me sentir tão acolhida por você, às vezes um de nós chegava até dormir por tamanha calmaria. Saudades de quando ficávamos horas no telefone e eu me sentia tão perto de você ao ponto de parecer que a sua voz estava dentro de mim, mas ao mesmo tempo tão longe ao ponto de não poder te abraçar. Saudades de me sentir como eu me sentia quando a gente se falava por telefone, uma euforia, uma alegria. Saudades da sua risada boba de criança. Saudades de quando eu fingia que não estava mais ali e você repetia meu nome mil vezes de diversas maneiras e vozes até eu falar: "que?". Saudades das suas manias, confesso que algumas estão comigo e sinto raiva todas as vezes que me pego fazendo-as. Saudades até da sua voz, que não era muito do meu gosto, e que apesar de masculina e rouca, era um pouco fina. Aquele sotaque mole e forte de carioca que tanto me irritava e às vezes até me fazia rir e tirar sarro. Aquele silêncio depois do "acho que vou dormir" dizendo que os dois queriam aquele momento eterno não só nas lembranças. E o silêncio entre o "boa noite" e o som de que desligou, trazia-nos a vontade de dizer que nos amávamos. Sim, brigamos muitas vezes e nelas nem de longe queria ter a presença da sua  aconchegante respiração e da sua irritante voz. Mas brigas que só nos fortaleceram. Hoje já não sei mais o que vai dar. Hoje só sei da saudade. E espero que sua respiração logo chegue, antes que eu comece a ter que me lembrar de não esquecer o som da sua voz. - Luísa Monte Real

2 comentários:

E ai? O que você sentiu ou pensou?