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Duas crianças brincando de amar


      Tudo começou meio assim, meio que só de brincadeira, só para se experimentar, só para ser impulsiva uma vez, só para ser criança de novo e fazer as coisas sem pensar, só para tentar algo diferente depois de anos de amizade, só para matar a vontade que veio do nada ou que talvez sempre esteve ali e ninguém viu ou eu não vi, aposto mais nessa última opção, mas tanto faz agora... Tudo começou meio assim só para ver no que ia dar, meio que só para fazer minha vontade uma vez na vida sem pensar nas consequências, sem medos, meio assim sem ligar que era errado, na verdade a gente nem achou errado no começo, meio que só para sair da mesmice, meio que só pra ver se eu fugia um pouco de mim e das minhas regras, meio que só para me libertar. E então a brincadeira começava com um pouco de pé atrás, um pouco engraçada, meio esquisita, meio "a gente vai brincar mesmo ou...?". Sem perceber a gente nem reparava que era ainda uma brincadeira, sem perceber a gente se mostrava um mundo de sensações nunca sentidas antes... Nossa, eu nunca havia me sentido daquele jeito e apesar de você ter demorado mais para admitir, você também nunca havia sentido! E era tão... Sei lá, bom de uma maneira tão mágica. Era como se tudo brilhasse, era como ver estrelas por todo canto, era um fogo tão grande... E para os dois era só vontade, era só algum tipo de tesão e talvez ali no começo ainda fosse mesmo só uma vontade misturada com o amor da amizade. O que nos surpreendia e nos deixava meio perturbados era que nunca pensamos que fosse possível um dar tanta vontade no outro. Tudo acontecia rápido demais, e a gente só tinha mais e mais vontade de se descobrir, uma ansiedade enorme, e a gente se entregava e se envolvia e se enlaçava. Eu sentia uma confiança e uma segurança que nunca tive com ninguém, então sai da minha própria base para ficar no teu abraço. Tudo o que ele me pedia e queria, eu queria. Abria a mão das coisas mesmo achando que estas não condiziam com as regras, só queria você e você só queria que eu te quisesse, se o meu desejo condizia com o seu, que mal tinha?! Te perder não era opção. E de repente era vontade de estar junto, dormir junto, ah! Era tão ruim não dormir assim agarradinho e a gente achava isso estranho porque nenhum dos dois estavam acostumados a ter essa vontade com ninguém ou pelo menos quase  com ninguém, nenhum dos dois gostava dessa coisa meio casal grude. Era vontade de acordar junto, ah! Acordar e não nos vermos ao abrir os olhos era uma tortura! Você dizia que queria me acordar com beijos... Era vontade de tomar banho junto. Era uma angustia enorme, uma tortura não estar junto, não estar se tocando, se olhando, se sentindo. E tínhamos e nos deixávamos ter todas essas vontades sem ligar para as regras estabelecidas no começo da brincadeira, era tudo tão recíproco que não dava para acreditar, não dava para largar, só dava para querer mais e mais e mais e mais e vem cá logo! Era tão boa a ideia do casal proíbido que de alguma forma tava dando certo. Porque vamos combinar, a gente foi proíbido um para o outro de todas as maneiras, para começar éramos o retrato perfeito da dama e o vagabundo, nossos gostos totalmente opostos, uma paulista e um carioca, eu Barra você Zona Sul, e depois ainda veio a história Romeu e Julieta, e bom por final, aqueles famosos amigos "eu nunca te pegaria, pera ai!", "você é tipo um irmão/irmã". A gente tava quebrando todas as regras possíveis. E para que regras? A gente não lembrava que estava brincando tinha um bom tempo. E ai que ficou sério. Ficou sério mas ninguém queria aquilo, ninguém tava preparado para aquilo. Ficou sério e ninguém percebeu. Ficou sério e ninguém cresceu. Ficou sério e todo mundo ainda achava que era brincadeira. Até começar a doer, até doer muito, até eu não entender porque tava doendo se era só uma brincadeira e que o combinado era que ninguém nem ganhava nem perdia, seria empate sempre... Mas então eu me sentia perdendo naquela brincadeira, e percebi que da brincadeira a única coisa que tinha restado eram os participantes. E ai, o caos. E ai, que eu me procurava e não me achava, só achava uma garota que tinha o nome dele bem na testa, mas que tapava com a mão para ninguém ver, nem mesmo ela no espelho. Mas aquela garota era eu, e eu tirei a mão da testa. Fiquei olhando seu nome e doía tanto, como eu ia admitir que tinha deixado aquilo acontecer? Era só amizade... Era só uma brincadeira...  Mas ai, olhei para ele e achei um garoto com a mão na testa, eu via a primeira letra de meu nome, mas ele ainda não tinha coragem de tirar e ver o resto do nome, ele já sabia, eu também, mas ter a certeza doeria mais... E agora? Agora sou eu, você e a procura pela aceitação. Você estava assustado, eu estava surpresa e pronta para partir nessa aventura mesmo com medo. Mas já você... Você tinha aquela tal da insegurança que fazia o seu medo ficar muito maior do que sua vontade de agir, em alguns momentos sei que não, sei que em alguns momentos você tentou fazer a coragem e o amor falarem mais alto, mas não foi o suficiente né?! Tudo bem... Mas meu amor, depois dessa sua fraqueza, algo me diz que não estamos preparados ainda um para o outro em termos de casal. Talvez a gente nunca esteja, parte de mim quer acreditar que é questão de tempo e de amadurecimento... O que você acha de continuar nossa caminhada e deixar que a trilha nos leve para o destino certo? Talvez a gente se distancie. Talvez a gente permaneça amigos. Não é que eu acredite nisso de "se for pra ser será" ou até mesmo em destino e estar escrito nas estrelas, mas é que talvez em um futuro a gente e o nosso amor se encaixem melhor. Mas por favor, não insiste mais, não pense mais nisso, é só aceitar os fatos e não lutar contra maré, deixa que tudo aparece na nossa frente conforme nossas pegadas.  Então não diz que é nunca mais, é só por enquanto. Não coloque um ponto final, deixe em reticências que é para que o nosso amor fique pelo ar e não deixe de existir. - Luísa Monte Real