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Pedacinhos do meu lar

     

    Uma vez eu te falei que nĂŁo me sentia muito em casa, aquela coisa de "lar", morando no Rio. Por mais que eu amasse muito, Ă© difĂ­cil morar em um lugar onde vocĂȘ nĂŁo foi tĂŁo bem-vinda assim por ser paulista, e a primeira impressĂŁo me fez querer fugir dali. DifĂ­cil tambĂ©m, desconstruir essa imagem de "fĂ©rias" que essa cidade tem para mim, era como se eu fosse voltar para algum lugar, algum dia... mas nĂŁo sabia onde nem quando, porque minha infĂąncia toda mudei de cidade em cidade, e nĂŁo sabia ao certo qual era meu lar. Se me perguntassem, nĂŁo me sentia perto dos cariocas nem perto dos paulistas. Talvez meu lar fosse em um lugar em que eu nunca morei, mas onde eu sempre fui para visitar o resto da famĂ­lia. Ah, acho que tambĂ©m nĂŁo... E entĂŁo, quando te expliquei tudo isso, vocĂȘ me fez uma pergunta tĂŁo simples, mas que apontava para a resposta certa: "Eu faço vocĂȘ se sentir em casa?". Eu demorei a responder por alguns minutos porque nunca tinha parado para pensar sob esse Ăąngulo, nunca havia reparado na proporção  que o seu aconchego tinha tomado em mim. E sem hesitar, eu respondi que sim com um sorriso, realizada e surpresa. VocĂȘ falou que entĂŁo, nada mais importava e que eu nĂŁo precisava me cobrar tanto. VocĂȘ Ă© tĂŁo lindo e sabe exatamente o que dizer Ă s vezes... 
     Hoje estava eu em minhas redes sociais e li "lar Ă© onde vocĂȘ quer estar" e lembrei-me muito bem desse dia. Estou longe de vocĂȘ, da minha famĂ­lia e dos meus amigos. E nunca me senti tĂŁo fora do meu lar.  Lar Ă© essa coisa que a saudade dĂłi demais quando nĂŁo estamos nele. Lar Ă© essa sensação de ninho, acolhimento, essa sensação de pertencer, se encaixar - como sempre gosto de usar -, tudo Ă© como um quebra-cabeça, e o lar Ă© a sua pecinha se encaixando na outra, seja ela um lugar, os braços ou o olhar de alguĂ©m. AtĂ© mesmo viajando encontrei pedaços do meu lar por toda parte. Em lugares que passei por pouco tempo e fazem doer de saudade, e em pessoas que nem ganhei muita intimidade, mas que me conectei de alma e guardo no peito. Descobri que nesse quebra-cabeça, algumas pecinhas se encaixam em vĂĄrias outras. Algumas pecinhas sĂł se encaixam em algumas. E algumas pecinhas atĂ© mesmo conseguem mudar de forma para se encaixar. E de alguma maneira, no meio de tanto desencaixe e encaixe, nossas pecinhas se encaixaram muito bem. E seu abraço, seu sorriso e sua voz, hoje, parecem ser um dos meus lares favorito, seguro e aconchegante do mundo. E agora que estou aqui, parece ser o mais desejado quando estou longe. Enquanto nos encaixamos no encaixar de outros, nossas peças continuam a achar novos meios de se encaixar, formando uma bela dança de conexĂ”es mĂșltiplas que Ă© a vida.

DecepçÔes na sua porta 2.0














E entre vindas e partidas,
VocĂȘ disse vem...
E lĂĄ estava eu de novo
Eu que tinha jurado que meu amor,
VocĂȘ perdeu.
VocĂȘ me prometeu uma cama,
Um sofĂĄ, uma tartaruga e um cachorrinho
Prometeu até me fazer gostar de gatos
Prometeu cozinhar estrogonofe pra mim
Prometeu cuidar das minhas cĂłlicas
Prometeu enxugar minhas lĂĄgrimas
VocĂȘ prometeu me acordar
Todos os dias, com beijos antes da faculdade.
VocĂȘ me prometeu uma casinha pequena,
Para dois e bem apertadinha
VocĂȘ me prometeu sĂ©ries e filmes todas as noites
Prometeu viagens nos feriados
Prometeu sorrisos e provocaçÔes
Prometeu ser meu lar
VocĂȘ me prometeu amor
Prometeu me fazer a mulher mais feliz do mundo.
EntĂŁo eu aceitei.
Te dei mais uma chance
Percorri toda aquela calçada mais uma vez
Dei "oi" pro seu porteiro,jĂĄ cansado de me ver tantas vezes ali...
Te esperando.
Entrei.
Te abracei.
Me alegrei.
Despertei.
Um dia, cheguei.
A fechadura jĂĄ nĂŁo era a mesma.
VocĂȘ a trocou.
E eu esperei no corredor.
A luz acendia.
A luz apagava.
Ouvi seus passos,
Mas nĂŁo te reconheci.
VocĂȘ abriu a porta.
Calei tua boca antes que falasse.
Minhas malas mal estavam desfeitas.
Juntei tudo e fui.
Menino, vocĂȘ nĂŁo sabia com quem tava mexendo.
Sou mulher de atitude.
VocĂȘ promete, eu cobro.
VocĂȘ dĂĄ ideia, eu faço.
 Eu sonho, eu busco.
Tenho medo, e nĂŁo reparo.
NĂŁo me alimento de desejo,
Me alimento de realização 
E na tua porta me deparei de novo.
JĂĄ vocĂȘ...
Ainda que me surpreendi,
VocĂȘ caiu em si
Que pra ti,
Agora nĂŁo dĂĄ.
E com coragem,
Me negar.
VocĂȘ nĂŁo se encontra.
VocĂȘ mal sabe o que quer.
VocĂȘ mal sabe onde fica sua porta.
Tem a audĂĄcia de falar,
Sem a responsabilidade de fazer.
Sem nunca focar e lutar,
Quer escolher.
Quer ter muito pra dar,
Quando nĂŁo sabe receber.
Quando descobrir qual Ă© a tua
Vai bater em minha porta
E vai encontrar
O vazio...
Que recebi enumeras vezes.
E agora, Ă© a sua vez de receber
O eco do teu grito no apartamento
A marca do teu soco no cimento
A poeira deixada no esquecimento
Arrependimento
Sofrimento
Porque eu fui.
Mas fui mesmo de(ssa) vez.

-LuĂ­sa Monte Real

15 passos


  Eu sĂł queria que eu ainda pudesse ser seu colo. Que vocĂȘ corresse pra mim pedindo pela calmaria que eu te dava. Que vocĂȘ deitasse aqui nos meus palitinhos que chamo de perna e eu entrelaçasse meus dedos em seu cabelo fazendo um carinho bem gostoso. Que vocĂȘ me ligasse chorando e jurando que nenhuma lĂĄgrima havia caĂ­do. Que vocĂȘ estivesse explodindo de raiva e eu te fizesse dar aquela risada tĂŁo gostosa. Eu queria, eu juro que ainda queria ser esse seu encosto. DĂłi-me pensar que vocĂȘ estĂĄ por ai se sentindo perdido e sem amparo. Mas como vocĂȘ mesmo vivia me dizendo, as coisas nĂŁo acontecem sĂł porque a gente quer. E Ă© por isso que eu tive que ir. Ei, nĂŁo fica assim nĂŁo, promete?! É pro seu bem, eu juro juradinho. NĂŁo, minhas palavras nunca foram falsas, sempre te disse que queria vocĂȘ por perto mesmo que fosse sĂł nas lembranças, sempre te disse que meu amor por vocĂȘ nĂŁo deixaria de existir e sim, ficaria guardado em uma gavetinha. Mantenho minhas palavras e infelizmente, chegou a hora de cumprir. É que por muito tempo eu fui seu apoio, e isso nĂŁo Ă© bom nem pra mim, nem pra vocĂȘ. NĂŁo estava sendo bom pra mim ter que cuidar mais de vocĂȘ do que de mim. Eu pareço ser essa pessoa cheia de estruturas, bases sĂłlidas, forte, alegre, positiva pra vocĂȘ, mas tambĂ©m tenho que me cuidar. E meu bem, eu esqueci... Esqueci de mim por vocĂȘ, deixei de lado toda a minha forma para ser sua rede de balanço. VocĂȘ sentou, se acomodou e ficou... Balançou, balançou... E por isso nĂŁo era bom pra vocĂȘ tambĂ©m. Eu te prendi porque te dava aconchego demais. VocĂȘ nĂŁo andava pra frente nem pra trĂĄs. SĂł ficava ali, parado. Eu tentava te empurrar pra frente pra acompanhar meu balanço, mas vocĂȘ era mais forte e parava a gente. Amor, a vida nĂŁo Ă© um jogo, nĂŁo se volta caminhos para trĂĄs, sĂł se anda para frente. Amor, nĂłs estĂĄvamos em outro nĂ­vel e vocĂȘ insistia em voltar 15 passos para trĂĄs. Para andar os 15 jĂĄ foi difĂ­cil... Eu te empurrava 2, vocĂȘ voltava 1. Eu te empurra 4, vocĂȘ voltava 3. Eu te empurra 8, vocĂȘ voltava 6. Eu fazia o esforço por duas pessoas. Eu te carregava. Eu era o mar inteiro e vocĂȘ uma Ăąncora que sĂł se mexia depois de uma tempestade. Eu perdi forças. Quando vi, virei uma praia sĂł de areia um pouco molhada e vocĂȘ lĂĄ parado, hĂĄ 15 passos atrĂĄs. NĂŁo deu mais. Tive que ir. NĂŁo tinha mais ĂĄgua que te puxasse pro nĂ­vel certo. Agora, agora preciso me preencher de volta. E vocĂȘ meu amor, vocĂȘ precisa deixar de ser Ăąncora e virar mar. Crie suas prĂłprias ondas. Sua prĂłpria força. Seu prĂłprio descanso e paz. NĂŁo Ă© que vocĂȘ nunca tenha sido um repouso para mim, muitas vezes se fez praia, mas Ă© que a sua praia se prendeu na minha com o balanço da minha rede e o peso da sua Ăąncora. Meu amor, Ă© que vida a dois Ă© lado a lado, eu nĂŁo posso mais ficar andando para trĂĄs e ir te buscar. Isso nos impede de progredir, eu nunca paro de voltar, e vocĂȘ nunca se mexe pra ir com o comodismo da carona. EntĂŁo me promete sĂł mais uma coisa? Promete que vai dar esses 15 passos sozinho? Promete que vocĂȘ vai surpreender o mundo inteiro com o mar que eu sei e vi que vocĂȘ Ă© capaz de ser? Mesmo que eu nĂŁo presencie tudo isso, sĂł promete pra mim? Promete pra mim que vocĂȘ vai conseguir dar aquela gargalhada gostosa consigo mesmo? E quando vocĂȘ chegar no 15Âș passo sozinho vocĂȘ vai se lembrar de mim e vai entender porque te deixei, eu te libertei... - LuĂ­sa Monte Real