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Coragem Covarde de Um Corpo Sem Alma

   
 
    Eu estava tomando um café em uma livraria qualquer quando um homem alto e magro, com a cabeça baixa, passou por mim e não sei por que senti vontade de escrever sobre ele. Mas precisava do olhar dele, precisava encontrar seus olhos. Dizem que a porta da alma são os olhos. Ele não olhava, e não olhava para ninguém. O que o fazia ter a coragem de me deixar esperando seu olhar? O que o fazia ter tamanha coragem de não olhar para cima só olhar para baixo onde não havia nada mais do que seus próprios passos e seu umbigo? Tomei meu último gole de café e quando olhei para cima não o encontrei mais. Procurei-o por todos os lados, e nada. Questionei-me se minha obsessão por encontrar sua alma me fez alucinar sua presença. No final, só fiquei com raiva e decidi escrever o que me vinha na  cabeça de primeira para sentir que completava uma missão que nem tinha começado. 
   Costumo pensar que o que você fez foi por medo, falta de coragem e covardia... será? Será que não sou eu tentando achar um bom motivo para ter sido rejeitada? Será eu tentando te diminuir para sentir que eu sou tão incrível assim? Bom, a culpa não é toda minha, afinal, quantas vezes você disse que eu merecia alguém melhor? Pensando agora depois de um tempo convivendo com sua falta e tentando ser cada vez mais realista com a situação, me pergunto se não foi um ato de coragem, afinal. Sim, tem que ter coragem e peito para trocar de rumo, eu sei quantas vezes eu sofri e me desgastei por ter que ir embora de você. Tem que ter coragem para escolher o medo e fugir. Não foi à toa que você ficou enrolando aparecer por semanas... penso agora se você pela primeira vez talvez, teve a coragem de se amar e se colocar em primeiro lugar, antes até mesmo de seus impulsos e sentimentos, e não olhar para cima. Mas será que amar a si próprio seja ser tão racional e egoísta assim? Coragem de deixar tudo o que tinha nas mãos para cuidar do que achava que era certo para você e para mim. Ou será eu que não vejo sua coragem e sou egoísta por não respeitar sua decisão?      
   Talvez pela primeira vez você tenha tido uma atitude de homem. Talvez pela primeira vez você tenha levado sentimentos e relacionamento a sério por estar diante de alguém qualquer, mas que via como mulher com olhos de homem e não como objeto com olhos de menino. Talvez pela primeira vez você não quis brincadeira e nem agir sem pensar. Achei que era covardia sua porque você sempre teve medo do amor, sempre esteve inseguro, e talvez a coragem tenha sido admitir uma covardia, uma imaturidade, e respeitar seu próprio tempo. Coragem de ir embora e se quebrar. Achei que era covardia porque parecia uma desculpa esfarrapada. Mas é preciso coragem para não ouvir o coração. Achei que foi covardia porque mesmo depois, você deixou para mim, como sempre, a parte mais difícil: a de dizer adeus para suas costas. E talvez a vida seja assim mesmo, de um jeito ou de outro estamos sendo corajosos. Talvez a vida seja assim, totalmente oposta à matemática e inteiramente literária, onde o paradoxo está sempre presente, onde o que não faz sentido passa a ter, onde os opostos coexistem e se complementam. Onde cabe a coragem de se ser covarde. 
    Terminei de escrever e refleti como gosto de inventar histórias e sentimentos que são meus ou que gostaria que fossem meus. Você apareceu novamente, minha sobrancelha se levantou, dei um sorriso curioso e meus olhos brilharam. E então você, finalmente, olhou dentro deles e eu sumi para dentro de seu corpo ocupando o espaço que se chama de alma. - Luísa Monte real

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