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Dica: escute "Teddy Bear", Melanie Martinez

   A dor se tornou maior, desculpa meu amor não aguento mais, é que o amor próprio está gritando. É que eu já estava ficando mais por você e por nós do que por mim. Não vou mentir pra você, você me conhece muito bem estava certo todas as vezes que disse "eu te conheço, sei que você é dessas que esquece, que supera. Você é assim.". É eu sou assim, mas não esqueço não, sim sou apegada até chegar o ponto que me faz mal, é que eu não sei mais perder tempo sofrendo por dias. Eu aprendi, mas hoje já é natural, choro até perder o fôlego e daqui dois dias ou menos já estou com as minhas baboseiras. Já superei. Eu sou assim, e você sabe, mas não sofrer não significa que não valorizo e nem deixei de te amar. Só significa que eu aprendi a lidar melhor, a seguir em frente e que eu aceito as coisas com mais facilidade e calmaria, não coloco pontos finais em nada, só reticências, porque a única coisa tão certa quanto o ponto final é a morte, então não ache que superar é colocar um fim e deixar de ter os sentimentos, só significa que nessa fase não estamos nos fazendo bem e precisamos aceitar isso com maturidade, seja paciente, não anseie, não coloque certezas, deixa tudo livre e aberto. Estou pedindo demais, né? É sempre assim, você surta, a gente quase morre e continua.
    É que eu nunca perco a esperança em você. Mas caso eu estiver pedindo demais, só te peço uma coisa. Peço que, então, você vá de vez, sem voltas, sem olhar para trás, sem se arrepender. E que eu te supere como superei uma vez. Que eu guarde uma boa lembrança de você, você disse que queria ser lembrado assim, uma pessoa que eu amo, não foi? Então que você vá, mas vá de verdade. Apague meu número e nossas conversas. Que você vá, mas vai logo porque ir aos poucos machuca demais, é um ir meio que não sei se fica não sei se vai e meu coração não consegue viver de incertezas. Ele quer você todo ou então ele não quer nada. Que você vá e não me procure mais. Que você vá e dê graças que foi embora. Porque não quero que se arrependa, sofra e volte pra perturbar meus sonhos. Porque você é assim, nem fica nem vai embora. Deixa ir e implora para voltar. Você abre o livro, mas não lê. Você destranca a porta, mas não abre. Você se entrega, mas finge não ver. Você surta em silêncio, rasteja como uma cobra e abre o circo feito um palhaço. 
   Se eu quero que você vá? Ah não, como eu queria ter você... Mas sinto que nem te tenho mais, sinto que você nem existe mais, sinto que alguém o tirou de você mesmo, você não é o você que eu conheço. E tudo bem, as pessoas mudam, e se você mudou comigo eu mudo com você também, abrindo as portas pra te libertar. Vá com vontade e de peito aberto pra conhecer um novo mundo porque talvez o meu não te sirva mais. Vá e me deixe aqui despedaçada, porque eu sei juntar, só não fique e pise nos cacos. Vá, se sentindo aliviado de que fez a coisa certa e tirou um peso da sua vida. Vá com um sorriso porque não quero suportar caso doa em você também. Vai, me deixa aqui sozinha, deixa eu chorar o que eu tiver que chorar, só me deixa, não pergunta nada não. Se não é para resolver, para que quer saber? Não encosta em mim não, não te reconheço mais e suas mãos não são mais as mesmas, elas não querem me tocar e nem eu quero ser tocada pela rejeição. Se não quer me ajudar a curar, por favor, eu te imploro que só vá! Vá porque não aguento mais sentir saudade de alguém que não existe mais quando falo com você. Vá porque prefiro sentir aquele resto de saudade pura daquilo que tivemos, do que a sensação de te perder toda vez que você vem. Prefiro que você vá logo do que te ter mais ou menos.... Te ter só parece um resultado de você se sentir na obrigação por algumas vezes ter dito que era para sempre, não quero. Quero o seu querer, e se você não quer, não quero. E caso se força querer, ainda assim não quero. Se você acha que eu não te encanto mais, que virou mais rotina do que surpresa, se você quer ir, mas tem medo de sair da sua zona de conforto, se apresse antes que eu vá. Prefiro me cortar logo do que me ferir aos poucos. - Luísa Monte Real 

(Continuação em breve...) 

Para o meu Ratinho de Laboratório

x 

   

    Seu jeito de viver e sua história sempre foram muito intrigantes e até mesmo angustiantes para mim. Perguntava-me sempre como alguém poderia ter namorado tanto, diversas garotas desde tão novo, se dizia "vivido". Não era possível que você conseguia achar o amor assim tão fácil e ficar trocando ele de mão em mão, e volta com a outra mão, agora essa, e uma salada de sentimentos. Ao mesmo tempo você era o senhor sem sentimentos, que só queria curtir, mas que não podia ficar sozinho. Por muito tempo acreditei nessa versão de que você simplesmente nunca havia amado nenhuma delas, nunca havia se apaixonado de verdade, nunca havia sentido nada e que todos os seus relacionamentos eram vazios, carnais, status. Por muito tempo essa ideia me satisfez de certa forma, mas sempre tive uma pulga atrás da orelha porque eu via que você sentia algo, eu via que você não era quem se mostrava ser, você também sabia disso, só escondia e dava a si mesmo a desculpa que não sabia lidar com sentimentos e pronto, deixava eles de lado.  

  Hoje, vejo que sim, você achou sentimentos em vários corpos, que você realmente experimentou diversas emoções, que você era vivido realmente, mas hoje também não acho que isso tenha sido sorte. No meio de tanta vivência você nunca parou para crescer e se observar. Uma vez li "felicidade não é quantidade", é verdade, a felicidade está na qualidade, e parece que você sempre esteve mais preocupado com o número, mais preocupado com o futuro, com o fato de não se apegar, não se entregar para não se dar mal no final, você sempre terminava antes mesmo de começar, ferrava o outro antes mesmo de ele te ferrar, sempre na defensiva e nunca se permitindo de fato entrar de cabeça. Talvez, por medo do novo e para se convencer de que não dava para ser de outro jeito, você só se relacionasse com parceiras tão parecidas com você, e você se tornava cada vez mais parecido com elas também. Pega, mas não se apega. Talvez para não ter que se deparar com uma nova possibilidade de ser, você só fizesse amizade com homens iguais e com o mesmo pensamento que você.  

   Apesar de eu admitir, hoje, que seus relacionamentos não eram tão superficiais assim, também não acho que você tenha encontrado o amor repetidas vezes. Até porque amor não se encontra, se constrói. E no meio de tantas mulheres, teve pouco tempo para focar e investir em um possível amor em cada relacionamento que teve. Hoje, vejo seus relacionamentos como válvula de escape. Você procurava incessantemente estar vivenciando diversas emoções para tapar um vazio dentro de você, e essa pose de "sem sentimentos" era você querendo enganar sua própria busca pelo amor. Você buscava amor em todos os corpos, em todas as emoções, algo que te provasse que você estava vivo. E ser desejado, amado parecia ser o único jeito de encontrar sua existência. Carência. Você era carente de sentimento e transbordado por emoções. Você preferia viajar do que estar em sua própria realidade, não era nem vício químico, era psicológico. Uma busca incessante por adrenalina, festas, estrada, carro em alta velocidade, acidentes, aventuras. A todo momento testando seus limites, saindo da sua própria realidade. É que você queria se provar que estava vivo, e em um paradoxo, se colocava em situações que punham ela em risco, é que você queria ter a certeza de que estava vivo em outra realidade.    Você tinha uma sede pelo controle por conta do medo de perder, o medo de ficar sozinho. Você buscou tanto que criou um ciclo vicioso, até mesmo quando não queria, lá estava você, de novo, em um relacionamento em que te dissesse que você não estava sozinho, e tá bom, você até gostava delas, você se apegava, podia até se apaixonar, mas não se desprendia de outras e de seu ciclo. Seu ego precisava ser alimentado o tempo inteiro. E por isso seus relacionamentos continuavam sendo superficiais no final das contas. Continuavam porque eram todos a respeito do seu ego, do seu vazio, da sua falta, da sua sede de amar e ser amado, mas principalmente dos seus medos nunca enfrentados. E você via que com esse seu jeito você deixava escapar relacionamentos que pudessem ter o amor que buscava e aquilo te machucava, você se culpava. Mas você não mudava. Ninguém te ensinou o que era amar e obviamente você foi se cansando dessa vida acompanhada mas solitária, você nunca se amou, só se frustrava.  

   E quando você se viu com ela,  alguém que te conhecia por inteiro, que te fazia se amar e te mostrava o que era amor, uma pessoa que não queria só te ter, uma pessoa que não somente estava apaixonada por sua beleza e seu papo bom, mas que queria te fazer crescer, que te amava, você teve medo. Quando você encontrou o que buscou, você desperdiçou. Você estava saturado de falsas impressões, falsas sensações e emoções forçadas. Estava saturado de achar que era amor e perder, saturado de se machucar, saturado de sentir. Alguém que tanto negava os próprios sentimentos, mas que estava sempre em busca deles sem nem perceber. Espero que agora você consiga se dar uma pausa. Espero que você fique sozinho por um tempo. Que você mergulhe no seu interior e se encontre. Que você se aceite. Que você mude e se transforme. Que você se presenteie com o melhor que você pode: o amor próprio e terapia. Que você veja o que você tanto busca, mas que você não perceba que você teve o que buscou e jogou fora. Ou que perceba, mas se perdoe, que não se culpe e entenda que aquela não era a sua hora, ou que talvez não tenha hora, mas há coragem. E que encontre uma nova hora de ter coragem da forma mais linda e surpreendedora, e se for possível, não deixe escapar. 

A Sereia que não estava lá


 

O que é o que é? 
Tem calda, mas não tem pé 
É peixe, mas não é 
Vive no reino do mar
Mas ela morre de curiosidade de sair de lá 
Ops, já disse que é ela.
Ela que é bela 
Canta na pedra 
Para enfeitiçar.
Penteia seus longos cabelos 
Para me conquistar 
Me pisca um olho 
Para me apaixonar 
Um dia prometi lhe dar tudo que sonhava 
Levei ouro 
Levei prata 
Levei espelho 
Levei brincos e colares 
Levei tudo que possa desejar 
Decepção. 
Ficava triste, mas logo voltava a cantar
Sentia que queria me enganar
Um dia, levei uma caixinha de música 
Um casal dançava dentro dela 
Ela olhou, olhou 
Não parava de olhar 
Uma lágrima escorreu 
E saltou para o mar.
Foi quando entendi que ela só queria alguém para amar 
Pois então, eu ia todo dia voltar
Para seu amor reconquistar,
E todo dia eu encontrava 
A sereia que não estava mais lá. 
- Luisa Monte Real 

1/3 de Partir

 
  Dica: Música "Training Wheels", Melanie Martinez 

    Um dia acordei e você estava estranho. Tudo bem, a gente tinha tido uma briga, muito idiota por sinal. Eu continuava com muitas coisas a te dizer entaladas em meu peito. É que a gente sempre foi muito sincero, e meus desabafos sempre te pertenceram. Não sabia se dessa vez eu deveria guardar para mim porque pela primeira vez não sabia como você reagiria e lidaria com a bomba que eu iria lançar. Mas você me conhece, eu sempre escolho a sinceridade e a transparência. Você logo percebeu que eu estava entalada e me ligou, se importou. Eu disse tudo, mas você disse que não ia falar mais nada, como da última vez que tínhamos brigado. Tenho certeza que você tinha o que dizer, mas aposto que seu orgulho de manter sua promessa consigo mesmo te fechou, não é?! Você preferiu guardar tudo para si bem, bem lá dentro fingindo que não tinha nada. Fingindo que não te afetava. E fez isso porque te afetou demais, não é?! Mas eu te estendi a mão, a gente sempre foi o apoio um do outro, desabafei colocando soluções para nós dois. 
    Seria tão mais fácil se você cedesse, se você se permitisse, mas você estava com tanto medo de se entregar, tanto medo de se machucar... lidar com você era exatamente como “Training Wheels” de Melanie Martinez. Acredito que tudo que lhe disse de alguma maneira fez você voltar as várias casas de nosso pequeno joguinho que gosto de chamar de nossa vida juntos. Achei que com o tempo afastado de mim, a saudade te curaria, sua confiança em mim voltaria e sua pecinha do jogo se encontraria na mesma fase que a minha outra vez. Mas eu não sei, você não se afastava, você vinha. Mas eu não queria você, você vinha me machucar, não por querer, mas sua barreira me impedia de me conectar com você e eu me sentia cada vez mais jogando o jogo sozinha. É talvez eu chegasse no final e vencesse, mas eu não queria se não fosse com você. Eu te perguntava o que era e você dizia que eu era louca, que era coisa da minha cabeça, que eu tava viajando... ai, isso me deixava com uma raiva tremenda!
    Cheguei a pensar que você mudou comigo porque estava namorando, mas você já namorou mil vezes antes e isso nunca havia acontecido... ai, você me deixava tão insegura e eu continuei desabafando com você sobre tudo o que eu estava sentindo, afinal você me perguntava e se preocupava, mas na hora de resolver não conseguia se entregar. Gostaria tanto de massagear a sua dor. Um dia desses você me chamou para sair, mas era tão tarde... se eu já fosse independente eu ia na hora e tenho certeza que minha presença faria um reencontro de nossas peças e até iríamos passar de fase, mas eu não fui... era loucura demais, e em partes eu errei em não ir. Em outras partes você fez de propósito, sabia que eu não poderia, e usaria como desculpa de que estava tentando sim. Eu te conheço tão bem e você ainda assim achava que conseguia fingir suas atitudes. Talvez estivesse tentando fingir para si mesmo. Houve um dia em que você havia bebido um pouco e foi o único dia em que você foi você comigo e eu fiquei feliz, porque eu soube que ainda existia o meu velho amigo ali. Eu só sei que eu estava confusa, perdida, com raiva. Não me arrependera de tudo que falei, falei para que fosse consertado, quem estava estragando as coisas era você, aliás, você não, porque você não estava sendo você.
    Seu ego, seu orgulho, seus medos estavam me empurrando. Eu procurava aguentar porque você só fazia isso para me rejeitar antes de ser rejeitado. Eu precisava provar que eu não ia te rejeitar, precisava te provar que as coisas podiam ser diferentes. Eu consumia uma força que eu não tinha. Eu aguentava os seus erros nas minhas costas e agora de boca fechada, e você percebia. Como você pensou que se fechar ia fazer dar certo, hein?! Mesmo se eu chegava de mansinho com carinho você não amolecia, qual é a sua, hein?! Você nem percebia, você estava dolorido?! Você dizia que eu era dramática para não aceitar que doía, né?! Eu não sei, eu não sei, por favor, hein?! Me responde, me dê um sinal! Não me sufoca! Queria te entender, você não queria me machucar e ao mesmo tempo me machucava para não se machucar, ou você mudou por estar namorando?! Eu estou louca?! Não! Eu não sei, eu não sei, eu acho que não. Eu não ia aguentar, eu ia cansar, você estava se estragando, estragando tudo e eu me estragava junto, por nós.
(Continuação Aqui)

 - Luísa Monte Real