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Para o meu Ratinho de Laboratório

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    Seu jeito de viver e sua história sempre foram muito intrigantes e até mesmo angustiantes para mim. Perguntava-me sempre como alguém poderia ter namorado tanto, diversas garotas desde tão novo, se dizia "vivido". Não era possível que você conseguia achar o amor assim tão fácil e ficar trocando ele de mão em mão, e volta com a outra mão, agora essa, e uma salada de sentimentos. Ao mesmo tempo você era o senhor sem sentimentos, que só queria curtir, mas que não podia ficar sozinho. Por muito tempo acreditei nessa versão de que você simplesmente nunca havia amado nenhuma delas, nunca havia se apaixonado de verdade, nunca havia sentido nada e que todos os seus relacionamentos eram vazios, carnais, status. Por muito tempo essa ideia me satisfez de certa forma, mas sempre tive uma pulga atrás da orelha porque eu via que você sentia algo, eu via que você não era quem se mostrava ser, você também sabia disso, só escondia e dava a si mesmo a desculpa que não sabia lidar com sentimentos e pronto, deixava eles de lado.  

  Hoje, vejo que sim, você achou sentimentos em vários corpos, que você realmente experimentou diversas emoções, que você era vivido realmente, mas hoje também não acho que isso tenha sido sorte. No meio de tanta vivência você nunca parou para crescer e se observar. Uma vez li "felicidade não é quantidade", é verdade, a felicidade está na qualidade, e parece que você sempre esteve mais preocupado com o número, mais preocupado com o futuro, com o fato de não se apegar, não se entregar para não se dar mal no final, você sempre terminava antes mesmo de começar, ferrava o outro antes mesmo de ele te ferrar, sempre na defensiva e nunca se permitindo de fato entrar de cabeça. Talvez, por medo do novo e para se convencer de que não dava para ser de outro jeito, você só se relacionasse com parceiras tão parecidas com você, e você se tornava cada vez mais parecido com elas também. Pega, mas não se apega. Talvez para não ter que se deparar com uma nova possibilidade de ser, você só fizesse amizade com homens iguais e com o mesmo pensamento que você.  

   Apesar de eu admitir, hoje, que seus relacionamentos não eram tão superficiais assim, também não acho que você tenha encontrado o amor repetidas vezes. Até porque amor não se encontra, se constrói. E no meio de tantas mulheres, teve pouco tempo para focar e investir em um possível amor em cada relacionamento que teve. Hoje, vejo seus relacionamentos como válvula de escape. Você procurava incessantemente estar vivenciando diversas emoções para tapar um vazio dentro de você, e essa pose de "sem sentimentos" era você querendo enganar sua própria busca pelo amor. Você buscava amor em todos os corpos, em todas as emoções, algo que te provasse que você estava vivo. E ser desejado, amado parecia ser o único jeito de encontrar sua existência. Carência. Você era carente de sentimento e transbordado por emoções. Você preferia viajar do que estar em sua própria realidade, não era nem vício químico, era psicológico. Uma busca incessante por adrenalina, festas, estrada, carro em alta velocidade, acidentes, aventuras. A todo momento testando seus limites, saindo da sua própria realidade. É que você queria se provar que estava vivo, e em um paradoxo, se colocava em situações que punham ela em risco, é que você queria ter a certeza de que estava vivo em outra realidade.    Você tinha uma sede pelo controle por conta do medo de perder, o medo de ficar sozinho. Você buscou tanto que criou um ciclo vicioso, até mesmo quando não queria, lá estava você, de novo, em um relacionamento em que te dissesse que você não estava sozinho, e tá bom, você até gostava delas, você se apegava, podia até se apaixonar, mas não se desprendia de outras e de seu ciclo. Seu ego precisava ser alimentado o tempo inteiro. E por isso seus relacionamentos continuavam sendo superficiais no final das contas. Continuavam porque eram todos a respeito do seu ego, do seu vazio, da sua falta, da sua sede de amar e ser amado, mas principalmente dos seus medos nunca enfrentados. E você via que com esse seu jeito você deixava escapar relacionamentos que pudessem ter o amor que buscava e aquilo te machucava, você se culpava. Mas você não mudava. Ninguém te ensinou o que era amar e obviamente você foi se cansando dessa vida acompanhada mas solitária, você nunca se amou, só se frustrava.  

   E quando você se viu com ela,  alguém que te conhecia por inteiro, que te fazia se amar e te mostrava o que era amor, uma pessoa que não queria só te ter, uma pessoa que não somente estava apaixonada por sua beleza e seu papo bom, mas que queria te fazer crescer, que te amava, você teve medo. Quando você encontrou o que buscou, você desperdiçou. Você estava saturado de falsas impressões, falsas sensações e emoções forçadas. Estava saturado de achar que era amor e perder, saturado de se machucar, saturado de sentir. Alguém que tanto negava os próprios sentimentos, mas que estava sempre em busca deles sem nem perceber. Espero que agora você consiga se dar uma pausa. Espero que você fique sozinho por um tempo. Que você mergulhe no seu interior e se encontre. Que você se aceite. Que você mude e se transforme. Que você se presenteie com o melhor que você pode: o amor próprio e terapia. Que você veja o que você tanto busca, mas que você não perceba que você teve o que buscou e jogou fora. Ou que perceba, mas se perdoe, que não se culpe e entenda que aquela não era a sua hora, ou que talvez não tenha hora, mas há coragem. E que encontre uma nova hora de ter coragem da forma mais linda e surpreendedora, e se for possível, não deixe escapar. 

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