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Triste história



                                   
    Por muito tempo chorei por achar essa história triste. Hoje, eu ainda acho triste, mas de uma forma diferente. Triste para mim que fiz o que fiz comigo, por ter sofrido tanto, acreditado tanto, me iludido tanto, me enganado e mesmo assim não ter tido o que queria no final. De depois do final, descobrir que eu nunca amei e que talvez nunca descubra o que é amar, e de que você nem era especial, mas uma grande fantasia e tapa falta que eu criei, uma grande farsa egoísta, de novo... Mas essa parte nem é tão triste assim, porque me responsabilizo de ter sentido uma dor que eu precisava e escolhi sentir, e que no final tem me dado a oportunidade de não te ter e isso dói, mas de me reconstruir sem você e poder ser não só alguém diferente, mas de fazer uma triste história apenas uma história triste. Ora, para mim faz diferença, uma triste história está fadada ao fracasso, uma história triste é só um sentimento que a história traz, porque por trás ela é muito mais.   

    E a parte mais triste dessa história foi para você. Tudo bem, eu estou errada em te acusar, posso parecer só vingativa e rancorosa, parecer não respeitar maturidades e tempos, também não vim falar que sou maravilhosa e que ia salvar sua vida e que eu era realmente o que você queria. Porque eu não era, e talvez nem você fosse. E você não era. O que você queria, você sempre teve. Verdade seja dita, você nunca quis o amor porque ele é a sua grande busca. Me ter como amiga era uma maneira de tê-lo, mas não por inteiro, não de forma que tirasse o seu chão. Talvez você ame de formas diferentes outras e essa seja a sua forma de amar. A verdade é que é uma triste história para você, que nunca soube mudar a sua forma de amar. - Luísa Monte Real   

    

Quando entrar

                                                   
        
    

   E quando for entrar, entre sem bater. Não precisa bater os sapatos antes, mas limpe se sujar. Não venha aqui para me ocupar, venha se quiser me agradar. Eu estou farta, só quero descansar. Desarrume a cama depois de deitar. Não se acostume, mude o móvel de lugar. Deixe a luz apagar, o Sol já vai voltar. Acenda um cigarro, na varanda por favor que é pra que eu não deixe de dar flor. Tem algumas sujeiras por baixo do tapete, mas eu ainda vou limpar. Espero que não se incomode, já estava aí, mas é pó, não gruda não, uma hora voa. Veja, suas malas também vieram com alguns farelos. A gente nunca respira ar puro, uma vez respirado, já era, estamos condenados a nossa vida, a vida do outro, e do outro, e do outro que somos nós, e você. 

    Passado não se apaga, presente não se deixa e o futuro não está escrito. Dá a mão, o desafio é não encostar no corrimão. É ir correndo, mas ninguém chega primeiro, e se você tropeçar no final, eu te seguro, te beijo um sorriso sem jeito e me escorrego na sua saia de cetim. É quase um filme se as sensações não fossem tão reais e assustadoras. Fica, eu sei que na real existem mais monstros no conto de fadas do que princesas, mas talvez eles só nos assustem de longe, já tentou ver beeem de perto? Eu piso devagar, a gente bate na porta antes se quiser, eu olho o seu primeiro e depois você vê o meu. O que achou? Talvez a gente devesse tentar outra hora... Tudo bem, mais tarde. Agora deita aqui, no meio da angústia que a gente criou, pelo menos ainda restam alguns dentes de leão que o vento não soprou...  - Luísa Monte Real