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Quando entrar

                                                   
        
    

   E quando for entrar, entre sem bater. Não precisa bater os sapatos antes, mas limpe se sujar. Não venha aqui para me ocupar, venha se quiser me agradar. Eu estou farta, só quero descansar. Desarrume a cama depois de deitar. Não se acostume, mude o móvel de lugar. Deixe a luz apagar, o Sol já vai voltar. Acenda um cigarro, na varanda por favor que é pra que eu não deixe de dar flor. Tem algumas sujeiras por baixo do tapete, mas eu ainda vou limpar. Espero que não se incomode, já estava aí, mas é pó, não gruda não, uma hora voa. Veja, suas malas também vieram com alguns farelos. A gente nunca respira ar puro, uma vez respirado, já era, estamos condenados a nossa vida, a vida do outro, e do outro, e do outro que somos nós, e você. 

    Passado não se apaga, presente não se deixa e o futuro não está escrito. Dá a mão, o desafio é não encostar no corrimão. É ir correndo, mas ninguém chega primeiro, e se você tropeçar no final, eu te seguro, te beijo um sorriso sem jeito e me escorrego na sua saia de cetim. É quase um filme se as sensações não fossem tão reais e assustadoras. Fica, eu sei que na real existem mais monstros no conto de fadas do que princesas, mas talvez eles só nos assustem de longe, já tentou ver beeem de perto? Eu piso devagar, a gente bate na porta antes se quiser, eu olho o seu primeiro e depois você vê o meu. O que achou? Talvez a gente devesse tentar outra hora... Tudo bem, mais tarde. Agora deita aqui, no meio da angústia que a gente criou, pelo menos ainda restam alguns dentes de leão que o vento não soprou...  - Luísa Monte Real 

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