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A Arte de Ser Você


E eu peguei uma cesta com barro
Comecei a montar o que viesse na cabeça.
E o que é que tem nela?
Cabelo
Terra
Semente
E cor
Cabelo pra enfeitar
Pó pra lembrar
Terra pra plantar
Semente pra florescer
E cor para pintar.
Numa brincadeira de mão a mão
Tinha um ritmo que de pião
Uma grande confusão
Se fazia para frente para trás,
roda a roda,
Chora, chora
gira e gira e girassol.
Redemoinho no cabelo
Os olhos castanhos
E os lábios vermelhos
Um beijo no nariz
É o que condiz
Com a paixão de um aprendiz.
As orelhas bem abertas
Ouve-se no barro o som das cores amarelas
Mas gostava mesmo na aquarela 
O rosa pink
Piquenique com as estrelas e o luar
Aonde amar é
Cair na onda do mar
Na música tocar
O barro criar
Na arte borrar
O texto postar
No teu colo deitar
Em um Sol nascer
A luta de vencer
O esforço de ser e crescer
Em você.

-Luísa Monte Real

Desmelancoliza-me



     As pessoas me olham por três lados: madura e teimosa, louca e divertida, ou frágil e fofa. Hoje eu tenho a certeza de que sou madura e teimosa, louca e divertida, e fofa, mas frágil? Você vai ter que me desculpar e descartar essa opção. Posso ser sentimental, ainda bem afinal sou humana e carrego em mim a arte de querer me expressar como tal. Mas  hoje não tem ninguém que me faça duvidar da minha coragem e do meu amor próprio, não importa o tamanho do erro que eu cometa, só eu sei o que sinto por mim nesse momento, aliás diferente do que muitos pensam, amor próprio para mim nem é necessariamente  se amar o tempo inteiro, nem ser perfeito e se tornar o centro da própria vida. É se machucar mas tomar conta da ferida, ou ainda se ferir mais e mais, testar seus limites, mas se autoconhecer e aceitar que aquilo é você, e que você não precisa se amar por inteiro, mas se ver como merecedor de cuidado próprio. Como todo amor, o amor próprio é construção e sentimento, é algo que não tem regra, você só sente e sabe, ás vezes não sabe, e tem a vida inteira para evoluir, afinal quem para de evoluir é corpo morto e alma vazia. 
     Só eu sei o que é superar minha depressão sozinha sem nem mesmo entender, explicar e nem mesmo preciso desse diagnóstico, na verdade eu só uso essa palavra para você entender mais ou menos do que se trata, porque vamos combinar que está bem banalizado. Recolher cada pedacinho meu com muita força, força que nunca tive, mas que me fiz ter, me reconstruir por inteira e me tornar ainda melhor do que um dia poderia esperar de mim mesma. Quando nada mais fazia sentido, quando não tinha mais luz, quando tudo era cinza e sem energia, tudo em câmera lenta e os dias iguais e intermináveis, a gravidade me puxava e era uma gravidade de tanta tristeza, que quase não era nada. O nada era o que me preenchia. Uma obsessão imensa de se questionar e se prender em sentidos que tinham caído por terra.  Mesmo assim, dia após dia, com muita força você se erguer e lutar por você. Você levantar da cama,  você não chorar, você procurar sentido, você procurar algum sentimento bom, algum sorriso ainda perdido em minha alma.
     Hoje, me agradeço e me orgulho de não ter desistido de mim e ter feito tanto por mim. Hoje entendo que minha teimosia já me trouxe muitas brigas, mas é ela que me sustenta sendo eu. É ela que me dá coragem de não aceitar engolir aquilo que querem que eu engula. É ela que me faz fixar meus sentidos de vida, senão tudo desmorona. É ela que me faz lutar cada dia pela minha subjetividade e meus valores. É ela que me faz ter força para encarar de peito aberto aquilo que eu preciso aprender. É ela que encara a minha dor comigo criando um futuro melhor e acreditando nos meus sonhos. Espero continuar fazendo mais e mais buscando quem eu quero ser quando acordo. Me refazendo, me destruindo um pouco ali e recomeçando um pouco aqui. Hoje, não há dor que não doa sem me doar algo bom em troca. Hoje, não há nada de mal que não me venha com uma lição. Hoje, não há sofrimento que seja inimigo. Hoje, não há melancolia que eu não desmelancolize. Hoje, me olho no espelho e sei o quão forte e corajosa eu sou. Quanta força de vontade por mim tenho e como meu caminho comigo mesma me motiva a continuar na descoberta de oceanos e universos dentro e fora de mim. Hoje, sei que no meu jardim as flores não só não mais viram pó, como tem espaço para todos os cheiros e cores. - Luísa Monte Real 

De Mal a Pior

    

       E hoje é um daqueles dias que me sinto rejeitada. Aqueles dias que eu tenho uma vontade enorme de te mandar mensagem te xingando e dizendo que odeio você. Te perguntar o que que foi que te deu? Gritar que não entendi nada, que nada faz sentido. E te forçar a dizer que na verdade você não gostava de mim coisa alguma. Te gritar que você fez a maior burrice da sua vida, que você é um lixo, que você jogou fora o que você tinha de mais importante e que você nunca vai achar alguém como eu, e que ninguém nunca vai fazer e nem ser metade das coisas que fiz e fui pra você, e, principalmente, por você. Que você é um idiota, ingrato que não tem maturidade o suficiente para agarrar as oportunidades boas que a vida dá. Um daqueles dias que tenho vontade de cuspir em você, e não me importa o quão antiético isso seja, sei que nunca faria isso e somos livres para sentir raiva e não sou uma pessoa ruim por sentir. Ou sou?! Parece que só tento me convencer de que não sou ruim, quando no fundo estou afirmando que sou. 
     Você é um covarde. Quero perguntar se você não se arrepende nem por um segundo das suas escolhas. Sempre disse que se fosse para gente acabar, que acabasse por falta de sentimento, parece que acabou pelo excesso. Como pode uma pessoa tão burra?! Tão cega?! Ah, então o erro sou eu?! Fala que ficar comigo foi ruim, fala que eu te fazia mal, fala se eu era chata, se eu não era calma e compreensiva, fala que eu não te fazia feliz, fala que você tava comigo por pena, fala que eu não era a primeira e a última pessoa que você pensava no dia, fala que a sua melhor risada não era comigo, fala que não era eu que te acalmava nos momentos ruins, fala que você não ficava todo bobo comigo, fala que você não sentia nada, fala que você tem nojo de mim, fala que eu sou feia, burra, maluca e não te somo em nada, fala que você me usou, fala que eu nunca fui nada para você, fala que eu só fui mais uma. Fala, por favor fala, eu te imploro gritando e chorando a tapas no seu peito. Fala de verdade porque só assim eu consigo entender os seus motivos de desistir e me conformar que não foi só um ato de covardia. Por favor, fala porque mesmo você não me falando, é assim que eu me sinto, é assim que eu me vejo. Fala porque aceitar que você foi embora por tudo ter sido uma grande mentira é melhor do que você ter ido embora por medo. Fala porque dói menos quando o xingamento é externo e posso te culpar por gerar e engolir meu próprio veneno.
     Sinto-me tão pequena, sinto que não fui boa o suficiente. E caralho - desculpa o palavreado - eu fui mais do que boa, eu fui bem mais do que eu era capaz de ser, porque eu deixei de ser qualquer coisa por você. Eu fui até muito mais do que você se fazia merecer e você sempre soube e disse isso, mas você nunca tentou me merecer, não importa o quanto eu lutei para isso, você não dava o braço a torcer. E agora vem me dizer que mudou e que está sim um homem melhor?! Eu me comprometi por nós dois, enquanto você só queria o melhor de dois mundos. Eu doei minha alma, meu psicológico e meu físico para te dar a coragem e a maturidade que você não tem e talvez nunca venha a ter. Eu fui a única que acreditou em você quando nem mesmo você acreditava. E você jogou tudo fora, você não valorizou, você me rejeitou, me negou, e eu sei que isso tudo foi reflexo de nada mais do que você fez contigo mesmo. Não importa se você diz que não é nada disso, não importa, porque é assim que eu me sinto, e é assim que você me fez sentir.  É uma dor que eu choro berrando com vontade de rasgar minha blusa num ato de me libertar de mim mesma, como se aquilo fosse me tirar de meu próprio corpo para eu não ter que passar por isso. Desespero. Não quero estar nesse corpo, não quero estar nessa vida. Tenho vergonha de mim e de minha pele. Por que eu sou tão fraca? Por que sempre que me sinto assim quando a causa são homens? Por que eles me destroem? Por que eu deixo eles me destruírem? Por que eu me rejeito tanto quando eles me machucam e eles que erram? Por que eu me sinto tão pequenininha? Por que me sinto tão difícil de ser amada? Por que me culpo tanto? Por que odeio minha pele em uma tentativa de não negar meu amor por você? Vida, me perdoa por tamanha ingratidão, mas tem dias que não posso aguentar essa dor que me corrói e faz de mim menor. Ela é o que eu tenho de mais sombrio e, de algum modo, real dentro de mim. Falha, falta, fracasso. Se existe algum meio de me sentir salva é a indiferença por você, e o amor por mim. E é assim que não me sinto em alguns dias. - Luísa Monte Real

Desaba(fa)ndo

    

     Eu acordei em uma grande respirada, puxando o ar desesperadamente do pulmão, a boca fazendo um barulho de sufocamento, abrindo meus olhos arregalando-os pedindo para enxergar o mundo a minha volta. Até que eu vi só um feixe de luz bem longe mas tinha certeza de que não era o fundo do túnel, definitivamente não era um túnel. Tudo a minha volta era infinito e escuro, objetos difíceis de reconhecer, embaçado. Logo após senti que não sugava o ar, era água, água que me descia doendo e arranhando minhas narinas e minha garganta. Comecei a me debater em um grito desesperado de socorro. Não tive sucesso. Estava fraca. Resolvi fechar os olhos numa tentativa de acordar daquele pesadelo. Depois de uns minutos que pareceram anos de angústia, comecei a perceber que afinal conseguia respirar naquele lugar, em uma respirada funda senti meu pulmão se encher de alívio e comecei a respirar desesperadamente saindo um som de desespero de meus pulmões querendo captar todo o ar do mundo. Ainda sem abrir os olhos, tentava controlar aos poucos minha respiração, e ainda ofegante já começava a ter mais consciência e conseguia voltar a pensar. Pensar. Agora tinha me dado conta de que tinha parado de pensar, talvez Descartes estava certo quando disse "Penso, logo existo", porque naquele momento sem pensamentos, tinha a certeza de minha morte. 
   Comecei a imaginar coisas gostosas e bonitas. Minhas coisas preferidas. Respirar doía de tanta água engolida, queria vomitar. Precisava colocar tudo para fora. Pensar coisas boas não parecia ser o suficiente. Queria sair dali. Talvez um desmaio caia bem naquele momento. Estava tão cansada. Não conseguia sentir mais nada além de medo, pensava em alguém que amava e não sentia amor. Apatia imensa, e isso me dava tanta dor. Sentia-me desumana, sentia-me um caco, um lixo, um pó. Até que resolvi abrir os olhos novamente e ainda estava no mesmo lugar. Entendi que no meio disso tudo, havia aprendido a respirar ali. Sobreviver. Conseguia voltar a ter algum controle no meio daquele desespero, no meio do desconhecido. E aí, percebi que aquela luz que havia visto no começo não estava mais ali. Então, resolvi começar a nadar para tentar encontra-la. No caminho, comecei a encontrar algumas criaturas estranhas, que chegavam perto de meu rosto, criaturas que me deram muito medo, dor no estômago, e me fizeram chorar de pavor pedindo para que aquele pesadelo acabasse, por favor, eu não estava aguentando mais. Eu ia ser derrotada. Já não sentia minhas lágrimas, minhas pernas, não sentia meu corpo, garganta presa e seca, eu só continuava sem saber onde ir, onde chegar. Era tudo tão escuro, tão embaçado, tão confuso, tão sufocante. Até que cheguei em um caminho vazio, sem criaturas nem nada, só água e eu. Nadei por ali até encontrar uma mesinha com caneta e papel. Não sabia se era de alguém, parecia não ter ninguém ali além de mim, eu também não havia mais nada a perder, me aproximei.    
    Sentei-me na cadeirinha, olhei o bloco de papel, a caneta, olhei ao redor e comecei a escrever como gostaria de sair dali como se alguém pudesse ler e me salvar, porque minha voz não saia, só bolhas. Escrevi que queria encontrar minha família, meus amigos. Escrevi como gostaria de ter alguém. Qualquer pessoa. Até mesmo um cachorro. Começava a sentir meus pulmões mais leves. A dor diminuia virando só um desconforto. Voltava a sentir meu corpo. Escrevi como gostaria que fosse o lugar, um campo ou uma praia com o Sol tocando minha pele e me tranquilizando. Um abraço quente, uma mão enchugando minhas lágrimas, um beijo na testa, um colo. Enchi tudo aquilo de poesia. Enchi de belas palavras. Frases inspiradoras. Frases que me enxergavam e me olhavam com carinho. Encaravam seus olhos nos meus, mostrando-me como um espelho quem eu era ou queria ser, o que sentia, o que desejava. Mais tarde, escrevia como os meus textos poderiam ser lidos e queridos. Escrevia tendo em mente que me ajudava, mas queria mais, queria fazer bem para alguém. Eu queria  salvar alguém para acreditar que eu poderia me salvar e sair dali. Eu precisava do outro, eu precisava do toque, eu precisava de alguém para ser alguém, eu precisava ser o  alguém de outro alguém. Então eu escrevia como se fosse para alguém, mas no fundo sabia que era para mim mesma. Ei, vem aqui, é só me seguir, você não está só, você pode sair, abre a porta, toque a campainha, como preferir. Só vem, eu juro, não vai doer. É só se abrir. Deixa eu entrar, deixa eu te achar, deixa eu te tocar, deixa... Só deixa voar. 
     Até que eu comecei a enxergar uma luz em minha mão direita. Conforme o tempo - que eu não tinha ideia de quanto -, eu escrevia e ela se estendia para o meu corpo todo. Era a luz do começo. Era eu. Tudo ali era eu. Descobri que até mesmo as criaturas eram coisas da minha cabeça. Eram parte de mim. Eu me afogava em mim, em minha escuridão mais sombria e dolorosa. Eu me intoxicava quando mergulhei em mim, eu não aceitava e ansiava a saída. Qual é a saída de si mesmo? E aí eu entendi que só existe luz porque existe escuridão. E se eu era a minha própria escuridão, onde que estava minha luz? No mesmo lugar, em mim. Eu sou minha própria luz. E que tudo ao redor era meu e parte de quem eu sou. Eu era minha morte e minha vida. Eu era a minha dor e minha paz. E no meio do desespero eu aprendi a brincar de ser feliz com poesia e brincadeira de atuar criaturas apavorantes para mostrar a mim meus medos e batalhar contra eles. Eu me salvava de mim mesma tentando escrever umas coisinhas bonitas, fazer umas palhaçadas dizendo que quero deixar alguém bem, mas só estou desaba(fa)ndo. - Luísa Monte Real 

Falta

  

       Eu não sei se eu que dou muito sentido às coisas ou os outros que estão deixando de dar. Parece que quanto mais sentido se perde, mais eu dou. Eu não sei se eu valorizo demais as pequenas coisas ou os outros que não veem graça em nada. Eu às vezes também não vejo muita graça. E quanto menos graça, mais graça em outras coisas  tento dar. Eu não sei se as pessoas tiram o significado de fazer sentido ou eu que dou muito sentido ao significado. Eu não sei se eu que coloco intensidade/sentimento demais nas coisas ou os outros que escondem o que sentem. Eu não sei se eu que tento cobrir demais um vazio com sentidos ou eles que fingem não ter um vazio. Eles... Quem são eles se ninguém é igual a ninguém? Será que eu estou tão distante de ser eles ou eu só tento fugir de ser? Fujo porque quero ser diferente, não quero parecer alienada, mas me alieno na minha própria diferença. Quero ser profunda e conhecer minha dor para fingir ter um controle sobre o que sou, quando ainda me conheço tão pouco e havendo um universo interno inteiro em constante formação para explorar. Como me comparar tanto a eles se sei tão pouco? Minha mente tenta focar em mim, mas meus olhos cismam em julgar o próximo numa tentativa de provar que estou no caminho certo. Estou no caminho certo para quem? Como se meu caminho fosse de alguma maneira capaz de ser de outro e como se o caminho do outro fosse capaz de ser meu. Raciocinar o que quer ser é fácil, difícil é admitir onde estamos errando e conseguir consertar o que de primeira parece ser tão automático. A internet me pressiona, a internet me sufoca, a internet de alguma maneira me reflete meus erros, a internet me reflete o que não quero pro mundo. E quem sou eu para querer algo de um mundo que não é meu? Por que não foco no meu próprio? Por que sempre esperar dos outros? Por que sempre me comparar? Por que sempre competir? Por que sempre lutar para não me sentir menor, pior se sou tão pequenininha e quem não é? O que é ser grande se não ser só você mesmo, pequeno? Assim meio sem graça mesmo com graça às vezes dependendo de quem olha. Aquele sentimento de falta que te afoga na angústia do nadar no nada. Vem alguém na cabeça. Mas não é isso, eu sei. A falta nada mais é do que o real. A falta de uma ilusão que dá graça a essa vida que é assim mesmo, bem medíocre. Real que quem pinta e decora somos nós. E quando o cenário cai? Não pinta, nem decora? Falta. - Luísa Monte Real

Cansei de Ser Linda


Hoje eu vim falar que eu cansei de ser linda
Eu cansei de andar na rua e ouvir assovios quando estou indo pra faculdade com uma roupa qualquer
Eu cansei dos olhares que me perseguem
Essa falta de sensibilidade, educação respeito
Respeito do meu espaço
Cansei de ser sua
Porque meu amor, não deixam eu ser minha?
Cansei de andar na rua e ouvir "linda" como se alguém tivesse pedido sua opinião
Cansei de andar como se estivesse na terra de outro
Essa terra é minha também
Cansei de ouvir "cuidado com esse decote"
Cansei de ouvir que ciúmes é o amor que sinto por você
Cansei de ouvir que homem não sabe ser amigo
Cansei de "friend zone" como se eu só servisse pra servir
Cansei de ser chamada de louca quando você erra e não tem capacidade de conversar
Sobre sentimento
Cansei de ter que ser desejada e nunca desejar
Porque senão, eu sou puta
Cansei de calar
Cansei de ouvir " nossa que cara de santinha, novinha. São as piores."
Cansei de ser linda porque talvez você nem ache isso mas quer me comer
Cansei de ouvir que só sou feliz se casar
Mas se o homem casa, ele diz que a diversão acabou
Cansei de ser linda porque quero ser muito mais
Quero ser inteligente, corajosa, forte, dona do próprio negócio, simpática, legal, engraçada, interessante
Eu quero ser interessante. - Luísa Monte Real


De Bem a Melhor

                                       

    E hoje é um daqueles dias em que eu acordo com o coração sereno. Aqueles dias que sinto que estou no caminho certo, mesmo sabendo que ainda tenho muitas batalhas para superar. É um daqueles dias que não sinto pendência nenhuma com você. Que me sinto com o dever cumprido e meu coração esbanja gratidão por ter vivido tudo que vivi com você. Que sinto que ambos fizemos nossos papéis na vida um do outro e precisamos nos libertar, para reconhecermos a nós mesmos de volta, para que possamos nos desprender dessa dependência de não saber o que é viver um sem o outro, para se querer de novo. Para que a gente possa preencher o que foi desgastado, para que a gente pare um pouco de se doar e possa se dedicar ao nosso amor próprio. Um daqueles dias que sinto uma saudade gostosa e fico recordando com muito prazer nossos momentos. Um daqueles dias que me sinto completa de amor e repleta de luz. Que dou aquele suspiro com gosto de valeu a pena. Um daqueles dias que sinto que ambos temos um caminho incrível pela frente e que estamos melhores um sem o outro agora, e que isso não derruba  tudo o que construímos. Um daqueles dias que tenho a certeza de que você também sabe disso nem que só bem internamente. Um daqueles dias que só tenho a te agradecer. Um daqueles dias que parece que todas as borboletas estão voando para fora de mim e as cicatrizes sendo cuidadas. Um daqueles dias que o Sol brilha em minha pele e eu sorrio de volta com o aconchego do abraço quente que a luz me dá. Um daqueles dias que eu paro para pensar e reparar em coisas simples como olhar uma formiguinha levando uma folha verdinha tão maior que ela até seu formigueiro, e ela tem tanto equilíbrio, força e noção do caminho e de onde ela tem que chegar, que me surpreende os seres humanos serem tão distraídos e perdidos. Talvez nós devêssemos olhar mais para as formiguinhas. 
    Um daqueles dias em que respirar não parece apertar meu peito. Um daqueles dias que eu me olho no espelho e enxergo coragem, força e a pessoa que eu gostaria de ser está bem ali na minha frente. Mexo em cada cacho e percebo que perdi um pouco de cabelo com minhas maluquices de pintar colorido, mas que nunca me achei tão bonita de um jeito simples e suficiente. Um daqueles dias que quero sorrir para um(a) estranho(a) na rua e olhar nos olhos dele(a). Já tentou? Sinceramente eu adoro, me sinto conectada, me sinto aqui, me sinto viva e me sinto pessoa sentindo outra pessoa, me sinto igual, nem melhor nem pior, igual. Um daqueles dias que abraço minhas imperfeições e digo "vocês são minhas". Um daqueles dias que relembro minhas qualidades, e por mais que meu caminho seja ser melhor e aprender a cada dia, faz parte reconhecer e valorizar nossa colheita. Um daqueles dias que precisar de alguém ou algo não faz sentido no mundo do amar e ser amada. Um daqueles dias que eu lembro a paciência e calma que aprendi a ter. Um daqueles dias que me amo por inteiro e sinto que há muito tempo não dava atenção a isso. - Luísa Monte Real

Quer achar a água comigo?

      Se não for para namorar você, não quero mais ninguém. É, isso mesmo. Não quero mais ninguém porque qual o sentido de namorar um outro alguém só para não ficar sozinha? Qual o sentido de namorar outra pessoa se é para fingir que você não me afeta mais quando afeta? Qual o sentido de ir namorando alguém e quando eu vejo eu só te apaguei com o passa-tempo e me acostumei com o outro confundindo com aprender a amá-lo? Qual o sentido de namorar se meu coração não está livre para mergulhar de cabeça? Qual o sentido de namorar só pro meu ego se massagear por ser desejada? Meu amor, nada disso faz sentido. Pelo menos não para mim. Amores de verdade não são substituídos, e se for, talvez não era amor, era outra coisa. Não quero relacionamentos como quantidade, e sim qualidade. Não quero uma vida marcada por acúmulos de experiências, quero uma vida marcada com intensidade. E o amor não está no ar, nem em uma fila de espera. O amor é uma construção, é uma escolha, que leva tempo, devagarinho, mansinho, gostosinho, sem que seja percebido, pouco a pouco. E é por isso que não quero mais ninguém. Quero manter esse amor comigo e trabalhar nele sozinha até que sua falta não doa mais. Até que sua falta seja tão presente que eu não perceba e não acorde todos os dias e leve facadas na manhã me lembrando de que não está mais ali. Quero tirar toda essa sujeira até que só sobre o amor da gente e eu entregue esse amor por todo o meu corpo e por onde eu passar. Quero aproveitar os amores que já tenho, o próprio, o da família e de amigos. Até eu estar renovada, limpa e pronta para construir um novo amor como esse com um outro alguém.
  Tem gente que fala eu levo relacionamentos a sério demais, que eu coloco sentimento demais nas coisas, que eu deveria aproveitar, curtir, somar e somar... Somar? Sempre fui ruim de matemática... Mas algo me diz que prefiro somar com coisas que realmente me adicionem na essência. Coisas que realmente me façam aprender, e aprender nunca foi algo a curto prazo, prefiro coisas que demoram, mas que me tocam por dentro do que coisas rápidas, que amanhã só foi mais uma. Eu costumo pensar que lidar comigo, com pessoas e sentimentos é sério demais. Levar algo a sério nem sempre é ser chato, sem graça e pesado, na verdade certas coisas como relacionamentos, sentimentos quando levados a sérios traz muito mais leveza e espontaneidade do que quando tratados como brincadeira... Oh como dá problema. Eu não sei você, mas eu não to aqui pra ser brinquedo de ninguém, nem sustentar ego. Estou aqui para ser intuitiva e realista, trocar sorrisos, me divertir, respeitar, cair, levantar, e amar com muita coragem no peito e brilho no olhar. Se eu não estou pronta para fazer tudo isso sem você, não quero com mais ninguém.
  Eu só conheço meu eu com você, se você não mais está aqui, quero aprender a ser eu novamente. Sozinha, mergulhar em mim como mergulhei em você. Porque eu sou assim, não sei cavar um buraco pensando em cavar  pela metade. Se decido, eu quero chegar até a água. Talvez por imprevistos, por chuvas e ventos, eu não consiga chegar até lá e tenha que recomeçar em outro buraco. Mas não faz mal, talvez chegar na água não seja o mais importante. Tenho em mente que se eu fizer me motivando e acreditando a chegar lá, eu vivo com vontade e esforço cada pá que retira a terra. E tudo bem, meu amor, que eu cavei esse buraco mais do que você, porque agora eu to cansada, mas consciente de que não quero mais você para cavar comigo, e se não quero você, não quero mais ninguém em um buraco que é só nosso. Porque esse buraco, meu amor, eu preciso tapar para que ninguém, principalmente eu, caia. E enquanto eu tapo, mais eu me conheço e junto terra por terra. Até o dia em que tudo possa estar tapado, em que ali nasça uma rosa vermelha e eu comece a cavar outro, olhe, e sinta novamente que se não for pra namorar com você, não quero mais ninguém. E eu olhe nos seus olhos e diga: Talvez a gente encontre o oceano inteiro. Então, quer achar a água comigo?

A minha fala, a sua escuta

    E hoje eu queria o teu aconchego de volta. Correr pra tua casa e dormir nos teus braços. Enxugando  minhas lágrimas em tuas mãos, colocando minhas mechas de cabelo pra trás, franzindo a sobrancelha e me olhando com aqueles olhos gigantes e redondos, castanhos escuro quase pretos, fazendo com que eu voltasse a sorrir. Hoje, eu queria te mandar aquela mensagem falando que preciso de você, e você perguntava o que houve e eu te contava toda minha revolta como uma garotinha mimada e chorona. E você ia me apoiar, e me escutar.... Me escutar. Era o que você fazia de melhor nos meus piores, melhores, pequenos e grandes momentos. Eu descamava todo o meu lado podre para você, e você me escutava. Minha voz nunca soou tão importante como soava em teus ouvidos. Você me escutava e queria escutar, fazia questão, seja lá o que eu houvesse a dizer. E amor, como eu precisava ser ouvida, era só o que eu sempre precisei. Você às vezes ficava angustiado e se sentindo mal por não saber o que me dizer, por não conseguir se expressar da maneira que queria, mas só a sua tentativa, sua voz e o seu silêncio já me eram o suficiente. Você às vezes não compreendia ficava revoltado de primeira, mas logo se calava, eu repetia e você ouvia. Discussão a gente tinha várias, parece que não falávamos a mesma lingua, mas hoje eu queria aquela parte que você se sensibilizava e me amava em um abraço de escuta. Você dizia que você era meu ratinho de laboratório e eu dizia que você também era o meu psicólogo em grandes partes, mas mais do que isso, sempre disse que era meu anjo da guarda. E talvez todos os nossos amigos, aqueles de verdade, sejam, mesmo que tenham ido pra longe como eu fui de você. Em uma tentativa falha, te procuro em ouvidos de terceiros que talvez fossem até melhores que os seus, mas que meu conforto e meu apego me cegam e vão de encontro aos teus. É você que eu quero. Você me escutava tanto que quando eu ficava quietinha era o seu maior incômodo, e pedia pra que eu falasse, e eu amava que pedisse  mesmo que o seu pedido desse continuidade ao meu silêncio.  Preocupado se o silêncio revelava alguma dor que eu pudesse sentir ou talvez até mesmo te revelasse a sua. Nunca vi homem sem reclamar que mulheres falam demais, mas você não se cansava de se importar, nem da minha voz e nem das minhas teorias mais malucas, sonhos mais distantes e dores mais sufocantes. E acho que essa foi a maior prova de amor que alguém já fez por mim, me escutar. - Luísa Monte Real

Mulher


  Sim, sou mulher, felizmente. Sou guerreira com muito orgulho nesse mundo onde o homem vive. Engraçado que ele é animal quando lhe convém, na hora de falar de "instinto" e "impulso", mas na hora de mandar é patrão e muito superior, quase rei. Felizmente sou mulher pra saber das dores e dos erros dessa sociedade. Descobri hoje que eu já sofri muito abuso sim. Nunca fui "piranha", nunca tive um corpo cheio de curvas, nunca usei roupas "indescentes", e se usasse, o problema era de quem? Já sofri diversas vezes como qualquer outra, com ou sem roupa. Engraçado né? Hoje quero contar uma dessas minhas histórias. Nessa história duas pessoas são vítimas. Eu e meu parceiro. Meu parceiro era machista, foi educado assim, sua família era assim, seu grande herói era assim, seus filmes prediletos eram assim, seus amigos eram assim, suas amigas eram assim. Sua insegurança era do tamanho do mundo, sua sede de controle para não sofrer e não fazer sofrer era do tamanho do mundo. Mas eu cheguei, toda feminista, cheia do amor próprio e jeito independente de ser, achando que me controlaria, achando que estava no meu próprio comando. E então me apaixonei. Me apaixonei por meus motivos que não vem ao caso agora. Aos poucos fui descobrindo na prática como era ser dominada por você e você sabia fazer isso tão bem, era inconsciente eu sei, era o jeito que te ensinaram. Ter você tornava-se cada vez mais um vício como qualquer amor e paixão, até você fazer doer, eu abrir meus olhos e eu dar um passo para trás. Ao mesmo tempo você se viciava no controle para conseguir me amar sem se machucar, até me ver chorar e perceber o seu erro, dizer que eu merecia coisa melhor, e me fazer derreter com aquela sua voz de cachorro pidão... Aconteceram algumas vezes até você criar confiança em mim. Mas até lá, muitas lágrimas já tinham rolado, minha autoestima já estava desgastada por tanto controle, por tantas mudanças que tive que fazer para me enquadrar nas regras que você desejava, no tanto que eu me entregava e não recebia na mesma moeda. Eu me perdia em você totalmente, você me fazia acreditar que eu era sempre a culpada e quando o contrário, eu tinha que aceitar que era seu jeito de ser e que eu entrei nessa já sabendo disso. Não estou aqui para crucificá-lo, ele não fez por mal, não era pessoal, eram os problemas dele com ele mesmo se refletindo em mim, era sem pensar, era imaturidade, eram mil e uma razões. Estava esperando ele construir toda sua segurança em mim para então conseguir o relacionamento que eu desejava, que eu merecia. As pessoas veem o relacionamento abusivo como se o homem estivesse realmente pensando em "vamos ter esse tipo de relação com ela", e não é assim, é algo muito mais complexo, é enraizado no homem sem nem mesmo que ele perceba. Não estou defendendo, coloquei minha visão feminista para ele muitas vezes, mas reeducar não é simples assim e por isso venho contar essa minha história. Eu sei, eu tava nessa relação porque quis. Eu sei, pode me julgar, falar que sofri porque quis. Eu sei, pode me julgar e falar que não tive amor próprio, que me submeti, que fui trouxa, hipócrita. Eu sei, eu deixei isso acontecer. Mas a errada não continua sendo eu, de errado e imoral não fiz nada, não sou errada por acreditar, confiar e ir atrás do que eu quero. Nenhuma pessoa merece tal tratamento, nem mesmo aquela que erra com a lealdade, com compromisso. Porque ninguém é merecedor de abuso seja ele psicológico ou físico, ninguém merece ser tirado de sua essência e se sentir desmerecedor de qualquer coisa que há no mundo. Mas deixa ao menos me justificar se você acha que procurei por isso. Sou uma jovem sonhadora que sempre lutou por aquilo que quis, que sempre acreditou que todos merecem uma, duas, três chances, que as pessoas mudam (e isso é verdade porque em um grande tempo ele teve sua confiança em mim e os abusos emocionais pararam nessa época). Eu estava apaixonada e sou uma menina muito inexperiente, queria sentir o sabor de ser correspondida, queria ver as cores do amor. Eu havia me doado completamente, não conseguia ser quem eu era, eu era completamente dependente, e nada mais importava do que conseguir ficar com ele, nem mesmo eu. Não sei explicar como isso aconteceu, sempre me respeitei, aprendi a me amar e joguei tudo fora por ele, nunca havia me abandonado de tal forma. O pior, é que eu sabia. Eu era bem informada. Eu sabia que estava nesse tipo de relacionamento, mas não conseguia sair. Depois de um tempo sem inseguranças quando tudo estava bem, sem brigas nem nada, ele resolveu mexer com o passado e cutucar a fera que estava dormindo. Ele pirou, era um ciúme doentio, ele acreditava com tanta certeza no que tinha em mente que me fez acreditar também e foi a gota d'agua para eu perder minha autoestima, fiquei me sentindo um lixo, uma pessoa negativa que estava fadada a acontecer tudo de errado, que eu só fazia os outros sofrerem. Não, ele não me disse essas coisas, mas me fez senti-las. E eu nunca me humilhei tanto tentando provar quem eu era, me humilhei tanto que nem eu mesma sabia quem eu era, acreditava na versão dele, qualquer coisa que acontecia ou me falavam eu levava como ofensa, chorava por coisas idiotas, levava tudo para o pessoal, desconfiava de tudo de ruim que as pessoas pudessem ver em mim, me sentia nervosa e culpada com coisas como  derramaram o refrigerante no chão e eu falava: "não fui eu." Tudo isso porque já nem sei mais quantas vezes em 4 meses passei o dia na cama chorando por brigas, sem comer, sem vontade alguma de fazer alguma coisa. Não sei como, mas você me sugava por inteiro. Dessa ultima vez meu nervoso foi tanto que cheguei a vomitar, me sentir enjoada e ter dor de cabeça já eram fatos quando brigávamos. Pode até ser que te magoei algumas vezes, mas não foram metade do que fez comigo, me desvalorizava e me desqualificava de uma forma que nunca pensei que alguém pudesse fazer comigo. Ele chegou a ameaçar que se ele voltasse comigo eu ia sofrer, que iria ser do jeitinho dele como se todo esse tempo alguma vez tivesse sido da minha maneira... Ele falava coisas que me faziam acreditar que namorar qualquer outra pessoa era melhor do que eu.  Dizia que seu ciúmes era porque ele sabia exatamente como um homem é por ser um, engraçado que ele nunca tentou ser diferente, né?! Dizia sempre que se quisesse ser corno namorava uma piranha, uma puta. Dizia que eu o fiz de otário. Fazia-me sentir desmerecedora de seu amor, e eu desejava tanto que ele me amasse e enxergasse que eu era diferente de todas suas anteriores. Queria ser especial, queria ser única para ele, e parte de mim ainda espera que eu tenha sido... Ele conseguiu atingir até mesmo o que tenho mais de especial, puro e sincero, a escrita. Cheguei mesmo a me achar a bosta em pessoa, desculpe o palavreado, mas para falar dessa sujeira só o palavrão se encaixa. Ele me fez ter medo dos homens, me fez ter nojo, não queria ser encostada, nem olhada que iria doer, estava em cacos, e você sabe, vidro corta. Toda a insegurança dele que eu quis resolver havia se estabelecido em mim, qualquer passo que ele atrevia fazer virava uma neurose pra mim, um leque de opções do que ele estaria planejando para se vingar, pra me machucar. Completamente irracional, afinal ele nunca havia feito nenhum plano pra me machucar propositalmente. Eu tinha um medo enorme de ser julgada por qualquer pessoa. Foi amor demais por ele e de menos por mim. Sempre prezei muito o amor próprio, mas me encantei em mergulhar de cabeça porque sempre fui tão reservada com medo de amar. A única coisa que me orgulhei de mim foi que a minha força sempre esteve presente, fruto do meu amor próprio, me sentia acolhida por mim mesma nas vezes que terminávamos, e mesmo acabando comigo mesma, em dois dias eu já estava sorridente e com paz novamente. O que eu não sabia era do desgaste que estava vivendo. É que eu mal reformava minha autoestima e já tava dando a ele minha cara a tapa novamente. A minha sorte foi estar ao lado de pessoas guerreiras como eu que sem me julgar me acolheram muito bem, fazendo-me lembrar de quem eu sou e que me amo. Não, não voltarei a ser reservada, nem a desacreditar do amor, o que houve não teve nada a ver com falta de sentimento recíproco, mas também espero que eu nunca mais volte a me abandonar por alguém, não importa o quanto doa ficar sem a pessoa. Gostaria muito que um dia ele lesse essa minha história, mas não sei se ele seria maduro o suficiente para não levar como ofensa e não dizer que eu sou a miss vítima certinha como muitos homens e até mulheres irão dizer. Não quero ofender ninguém nem me colocar como vítima, só mostrar como a educação e a moral dessa sociedade levam uma mulher a se odiar e ter nojo de estar na própria pele, ao mesmo tempo que ensina o homem a domar "SUA mulher". Sou mulher, e fui ensinada a competir com outras mulheres enquanto os homens riem e seus egos são alimentados por tudo isso. Fui ensinada a ter inveja, a querer ser mais que as outras, a achar que todas querem "roubar meu homem" - vamos combinar que ninguém é de ninguém e se ele me trocar a culpa não é da outra mulher, nem minha, é dos próprios gostos e vontades dele -, a achar que existe uma inimizade entre nós, a achar que sou menos se um homem não me quer e se não me enquadro na "santinha, pra casar". Sou mulher, sou guerreira como aprendi a ser, como todas ao meu redor merecem ser. Todas estamos dentro de uma luta contra toda essa coisificação da mulher, um grande número de mulheres ainda não enxergou essa luta e se esconde na máscara de ter que se submeter para satisfazer e agradar o homem. Agora só espero me recuperar com muita força, poder perdoa-lo e a mim mesma, espero guardar somente as lembranças boas dele e levar comigo tudo o que ele me somou, se é que somou algo além do meu próprio aprendizado. Não importa o que aconteceu comigo, não importa a destruição que fizeram aqui dentro, nada disso define quem eu sou, eu sou o que me torno depois disso, eu sou o que escolho ser e até mesmo o que deixei de ser, eu sou reencontro com o eu que perdi. Eu sou amor próprio e amor por aí. - Luísa Monte Real
  

Distância


  "Distância: quantidade de espaço que existe entre dois pontos separados, medido por metros, quilômetros entre outras medidas." É, no dicionário até pode ser isso, mas para mim quando se trata de pessoas vai muito além. Não que o espaço não seja importante, afinal nada como a experiência de fato, a vivência, o contato e a presença física, olho a olho. Talvez em um tempo distante o espaço realmente contava muito, mesmo assim sempre fomos criadores de métodos que diminuíssem a separação de nossas relações afetuosas ou coisas, atividades. Tenho muitas pessoas perto, no peito, que nem mais na terra estão, quer dizer, pelo menos que eu não possa ver. Distância para mim pode ser aquele vizinho que vive tão perto, mas você nem tem ideia do nome dele. Distância é o que eu sinto quando estou com alguém e ela não é mais a mesma, não reconheço mais, seja de modo surpreendente ou decepcionante. Distância pode ser quando sinto falta dois minutos depois de ter terminado. Distância pode ser aquilo que queria que fosse eternamente meu, mas me escapa entre os dedos da mão. Distância é o que o tempo faz com as pessoas, com as histórias, com a rotina, com a dor e com a alegria. Distância é quando eu estou em um ligar chato com gente chata, mas estou falando pelo celular com alguém que amo, estou distante do mundo físico, mas perto do mundo espiritual, ou se achar banal e vazio, virtual, como preferir. Distância é mais do que medida, é sentimento. É o estar aqui e depois não estar mais. É a falta. É a possibilidade de estar perto, mas parecer longe. É a possibilidade de estar longe, mas parecer perto. Distância dá medo. É como estar em cima de um penhasco e embaixo só se ver a escuridão, não se vê o chão, e dá a impressão de que se cair, já era. Não importa o número de metros, é sempre essa a sensação. Angústia. Dor. Saudade. Não alcançar. Não tocar. Não ver. Desaparecer. Perder. Distância também pode ser aquilo que você quer de algo ou alguém que incomoda. Distância é suspirar aliviado. Libertação. Calma. Curativo. Distância pode ser um mero número ou um sentimento indefinido e paradoxal que depende de cada contexto. Distância é universal e particular. Distância é aquilo que eu menos quero de você. - Luísa Monte Real 

A hora das borboletas




    10h da manhã de Sol as borboletas saem para beijar as flores. Algumas são beijadas de volta, outras são rejeitadas, outras se beijam e as flores se juntam para dizer que é falta de flor. Outras voltam no dia seguinte e outra borboleta já está em seu lugar. Outras nunca nem acham uma para beijar, outras já cansaram daquele beijo mais ou menos de flores murchas. Outras estão esperando flores que parecem nunca desabrochar, outras são negadas por ter beijado mais de uma flor. Outras deveriam ser maiores, deveriam ser menores, mais coloridas, menos coloridas, prefiro as rosinhas, as marrons parecem mariposas, quem gosta de mariposas? Asas muito pontudas, asas muito redondas essa dança demais tem que ser mais discreta, essa dança de menos BLAHBLAHBLAH AAAAAHHHH CHEGA! Elas estão tontas, vão e voltam, giram e finalmente, caem. Tanta cobrança, não se encaixam e outras fingem se encaixar. Quebradas por dentro. Cansadas.
    O fato é que todo dia é dia de desilusão e decepção com flores que não chegam a metade das suas expectativas. Mesmo assim, todo dia as 10h elas dançam com suas asas coloridas levando um pouco de cor e beleza para o mundo. Beleza. Elas também cansam disso. As flores querem sempre as mais bonitas. E mesmo as mais bonitas são sempre substituídas por outras, porque sempre vai existir uma que a deixe menos perfeita. Descartáveis e reutilizáveis. Nunca boas o suficiente, mas sempre aceitáveis. Às vezes elas só queriam que as flores se desprendessem de suas raízes e fossem dançar com elas, dando ao mundo um novo sentido, mas elas não acompanham. E as borboletas cada vez mais dançam e menos beijam. E isso as faz um pouco desesperançosas e até solitárias naqueles dias mais frios em que o Sol resolve se esconder por detrás das nuvens. Aquele dia que não se diferencia as 10h da manhã do meio-dia.  E então ela resolve beijar uma flor novamente para ver se algo mudou. O cheiro? O mesmo. O beijo? O mesmo. A cor? A mesma. O desabrochar, cadê?! As cobranças? As mesmas. Quanto tempo mais esperar? E aí, ela já nem liga mais, ela nem insiste mais e prefere se juntar a uma causa maior e se unir por um mundo de mais amor às borboletas que tem tanto para dar mas que poucos sabem receber. E então elas resolvem receber tudo aquilo que passaram a vida toda tentando dar e nenhuma flor soube cuidar. Amor.  Respeito. E a liberdade, que apesar de sempre terem tido asas, nunca antes haviam se permitido a dar-lhes sua real função. Voar e o vento beijar. -Luísa Monte Real

Música



Música é energia 
Música é poesia 
Música é brincar de nostalgia 
Música é viver, reviver
Inventar e reinventar 
Música é mistura de sensações e emoções.
Música é viajar dentro de si pelo som.
Cada dia me quero em um tom.
Música é calmaria que arde 
É dor em balde 
É corpo que sacode 
Arte que explode.
Música é lembrança gostosa 
É descoberta teimosa 
Repete, repete, repete... 
Música é alma escancarada 
Vergonha abafada 
Lesão curada. 
Música é amor
Uma dor
Uma pessoa 
Um sorriso 
Um pensamento 
Um sentimento 
Um esclarecimento 
Um sufoco 
Um alívio.
É um olhar pela janela chorando no metro 
Um ou dois dramas a mais.
É um show particular no banho 
É uma ou duas alegrias a mais.
A música - como todas as artes - 
É a passagem mais direta de encontrar-se,
Mostrar-se,
Expressar-se,
Conectar-se
Com nossa própria alma. 
E como amo esse meu lugarzinho. 
Aqui bem dentro de mim 
Onde a música vibra 
E faz eu me sentir mais viva. 
Lugar que é só meu
Que só eu sei.
Único.
Profundo. 
Que não se vê e só se sente,
Como as ondas sonoras. 
- Luísa Monte Real

A loucura pela paixão


  Acho engraçado que as frases que mais ouço no meu dia são: "Luísa você tá bêbada?"; "Bebeu?"; "Pera, você não é maconheira???Mo jeito de maconheira"; "Luisa, tu fumou?"; "Quee isso tá doidooona...". E acreditem se quiser, meu apelido já foi até "cracuda". Não, gente, antes que digam qualquer coisa, não sou o estilo que bebe e finge estar bêbada só pra causar e chamar a atenção. Não sou aquele tipo "nossa, que ridícula, é uma adolescente perdida querendo aparecer". Para começar nem gostar de beber eu gosto muito. Eu simplesmente sou uma mistura de tranquilidade com um levei um choque na cadeira e sai rebolando por aí. Sou aquela mistura de introspecção com extroversão. Uma hora to lá e em um instante me conecto com algo aqui, em pensamentos que me deixam completamente fora da realidade. "Ih oh lá, tá viajando...". Estou mesmo, eu viajo o tempo todo, viajo em uma conversa, em uma música, em um sentimento, em um pensamento... Tenho o poder de me teletranspotar, e nem sabia disso antes de refletir sobre os tantos recados que recebi dizendo o quão maluca eu sou. Eu sou tão dentro de mim que acabo me expandindo para fora viajando em diversos universos, mergulhando no mar do outro com meu jeito sem vergonha de ser.      
   Quer saber?! Eu sou louca louquinha mesmo, porque gosto de me sentir humana. Gosto tudo intenso, gosto de mudanças e de poder ter o gostinho de ser tudo um pouco. Gosto de sofrer, mas sofrer por inteiro sem engolir uma gota de meu próprio veneno. Gosto de amar, mas amar com o peito aberto e inteiro. Gosto de rir, mas rir até doer a barriga. Gosto de achar tudo engraçado na idiotice e na bobeira. Também gosto de sentir raiva e sair gritando por aí. Gosto de ouvir uma música, fechar os olhos, sorrir e senti-la batendo em minha alma. Gosto de ser sincera e expressar o que sinto para o outro. "Luísa você é doida? Que coragem". Gosto de me ver livre de rancor e de dar chances para o outro. Gosto de ser rejeitada e ter a possibilidade de um recomeço andando no escuro. Gosto de arriscar e não me arrepender de ter tentado. Gosto de ter uma ideia e fazer na hora.  Já dizia Freud que paixão é uma loucura, e tenho certeza que essa é a minha. Gosto de me apaixonar, se não for pra se apaixonar nem confirmo presença, nem mesmo marco que tenho interesse. Sou apaixonada pela vida, pela minha história, pelos meus erros e acertos. Apaixonada pelos meus dons e pela minha vontade de ser sempre alguém melhor. Apaixonada pelo que sinto por alguém ou algo. Não estou dizendo que penso que vivo em um conto de fadas e saio idealizando e me iludindo por tudo que tem por aí. Talvez um dia eu tenha sido assim, mas hoje, penso que sou uma pessoa realista que simplesmente consegue e prefere ver o lado positivo das coisas, lutando e vivendo em uma loucura particular na qual encontro muita paz e um sorriso com emoção nos olhos. Porque se for pra sair de casa sem viver poesia, eu nem saio. E se for pra viver na loucura de só me lamentar, eu nem vivo. É essa loucura que me faz levar a vida com leveza. É ela que me dá a certeza de que o leve de viver está na felicidade que escolho e encontro dentro de mim, todos os dias. - Luísa Monte Real

Liberte-se e sinta



   Eu descobri o que era liberdade quando ser ansiosa não fazia mais sentido. Eu descobri o que era liberdade quando o meu maior objetivo virou viver um dia de cada vez. Quando me dei conta de que nada é certeza nessa vida e que essa é a graça. Quando descobri que a vida anda, gira e retorna independente de eu tentar calcular todos os passos que eu devo ou não dar. Independente do controle, a vida mexe, e ela é mais rápida e esperta do que você. Eu descobri o que era liberdade quando me dei conta que quem me prendia não eram meus pais, nem ninguém, era eu. Entendi que ser livre é me dar a chance de fazer escolhas o tempo inteiro. E de que fazer escolhas depende sempre de ganhar, mas ao mesmo tempo de perder. E lidar com a perda é o mais difícil, não é à toa que muitos se prendem a dizer não ter escolhas e não sair do lugar. Mas entendi que se eu me der liberdade e quiser eu posso escolher, voltar atrás, escolher de novo, reinventar e consertar. E ah, ser livre também é uma escolha. Sim, ninguém te dá a liberdade. A liberdade é só mais uma dessas coisas que se você não correr atrás, ninguém vai correr por você. Liberdade é entender que a vida é sua e que se você deixar, os outros não tem nada a ver com isso. Liberdade é deixar de ser egocêntrico e achar que tudo que o outro faz é para te atingir, é entender o outro além do que está na sua cara. Liberdade nada mais é do que ter responsabilidade por si mesmo. É se reconhecer como é, enxergar como quer ser e lutar para se tornar. Ser livre custa caro, mas o retorno é sem igual. Ser livre você tem que abrir mão desse seu orgulho, abrir mão de culpar sempre o outro por escolhas suas, abrir mão de ficar parado no seu lugar esperando a vida agir, dizer que é destino e se privar de tantas escolhas que podem ser feitas, ah se engana quem pensa que ficar parado não é uma escolha... E se você escolheu, tome responsabilidade do seu vazio. Ser livre é abrir mão do julgamento dos outros, e principalmente dos seus. O julgamento enquadra, tira possibilidades e diminui. Se permita se encontrar e deixe que o outro se encontre também, o tempo inteiro, não importa quantos anos você se conheça ou conheça o outro. Ser livre é reconhecer que você não consegue ser livre se não deixar o outro florescer também, se desprenda. Diferente do que muitos pensam ser livre nada que tem a ver com desapego. Liberdade é encontrar amor dentro de si e se permitir encontrar em outros corpos. Aquele amor tranquilo, que não controla, que não tem insegurança, que a certeza não tem lugar e que a naturalidade é quem passeia. Liberdade é entender que o outro não te deve nada, é fazer porque quer, e não pensando no retorno. Liberdade é desinflar o ego e investir no de dentro. É rir de si mesmo molhado quando esquece o guarda-chuva. É ser espontâneo. É aceitar, perdoar, permitir e amar os erros, pois sabe que são eles que nos dão a possibilidade de sermos melhores, e imperfeitamente livres. Liberdade é como andar numa floresta de olhos vendados onde você corre grande perigo, mas se depara com os sons mais relaxantes e bonitos, experimenta os cheiros mais saborosos e tateia uma diversidade de sentidos intensos e insubstituíveis. 

Lar doce mar

    



   Eu nunca entendi meu amor pelo mar. Não que amor desse para entender, mas tudo bem... Sei lá, o mar é tão o mar... É aquela coisa que não para nunca. Já pensou nisso?! Mesmo aqueles mares sem ondas, sempre tem uma corrente, um movimento. E se for falar de onda, já pensou que a mesma onda nunca foi repetida?! Nunca é o mesmo tamanho, nunca são as mesmas moléculas juntas, nunca a mesma forma, sempre diferente. E a cor do mar?! Muda o tempo todo, uma hora é verde, outra azul e às vezes até mesmo marrom meio mate. O mar é essa coisa única que não para nem se repete. Ele dá a sensação de estar sempre limpando tudo que está por dentro dele, dá a sensação de liberdade por não conseguirmos ver seu final. Dá aquele cheirinho gostoso e refresca até a alma. Ficar olhando o mar me dá uma calma, uma paz... Quando estou triste gosto de chorar olhando para ele, parece que ele vai lavar minhas lágrimas, parece que de certa forma ele me dá essa sensação de que tudo passa e se renova, sempre. O mar é uma dessas coisas que gosto de ter por perto, ele pode dar desvantagens como a umidade que faz eu ficar meio melada e meu cabelo em pé, mas prefiro morar no litoral ou pelo menos perto. Sei lá, é tão bom saber que tem um lugar certeiro onde eu posso estacionar a alma por algumas horas e me encontrar, me redescobrir ou até mesmo fugir de mim. Esquecer de tudo por algumas horas. Lembrar de tudo em outras. O mar, e a praia como um todo é como se fosse um colo. Além de tudo, ele ainda tem sua própria música. Respirar de olhos fechados e ouvir ele cantar para você é uma sensação indescritível, é quase uma terapia, se já não for uma.... E quando você mergulha nele é como se você se deslocasse para outro mundo. Um mundo interno. Onde o silêncio se coloca tão presente que parece ser possível escutar nosso corpo e nossa alma por inteiro. Um mundo que você se conecta com a natureza de uma forma tão direta e mágica. Ah, e não tem nada que me encha mais a alma do que conexões, conexões são esses encantos inexplicáveis que não se vê, não se toca, só se sente e só se sabe. O mar é essa mistura de beleza natural que encanta e hipnotiza os olhos com sensações que tocam a alma sem nem abri-los, afinal dizem que as melhores sensações, temos de olhos fechados. O mar é paradoxal. E quando voltamos à superfície parece que você se renovou junto com todos os ciclos que ocorrem nessa perfeita imensidão que é o mar. O mar é paz. O mar é conforto. O mar é turbulência. O mar é liberdade. O mar é perigo. Precisa-se ter responsabilidade para saber lidar com tamanho compromisso de ser livre, já dizia minha avó "o mar não tem cabelo para se segurar", ele te leva e leva, e quem não sabe onde se quer chegar, se perde... O mar é lindo. O mar é louco. O mar é meu reflexo. O mar é lar. - Luísa Monte Real

Duas crianças brincando de amar


      Tudo começou meio assim, meio que só de brincadeira, só para se experimentar, só para ser impulsiva uma vez, só para ser criança de novo e fazer as coisas sem pensar, só para tentar algo diferente depois de anos de amizade, só para matar a vontade que veio do nada ou que talvez sempre esteve ali e ninguém viu ou eu não vi, aposto mais nessa última opção, mas tanto faz agora... Tudo começou meio assim só para ver no que ia dar, meio que só para fazer minha vontade uma vez na vida sem pensar nas consequências, sem medos, meio assim sem ligar que era errado, na verdade a gente nem achou errado no começo, meio que só para sair da mesmice, meio que só pra ver se eu fugia um pouco de mim e das minhas regras, meio que só para me libertar. E então a brincadeira começava com um pouco de pé atrás, um pouco engraçada, meio esquisita, meio "a gente vai brincar mesmo ou...?". Sem perceber a gente nem reparava que era ainda uma brincadeira, sem perceber a gente se mostrava um mundo de sensações nunca sentidas antes... Nossa, eu nunca havia me sentido daquele jeito e apesar de você ter demorado mais para admitir, você também nunca havia sentido! E era tão... Sei lá, bom de uma maneira tão mágica. Era como se tudo brilhasse, era como ver estrelas por todo canto, era um fogo tão grande... E para os dois era só vontade, era só algum tipo de tesão e talvez ali no começo ainda fosse mesmo só uma vontade misturada com o amor da amizade. O que nos surpreendia e nos deixava meio perturbados era que nunca pensamos que fosse possível um dar tanta vontade no outro. Tudo acontecia rápido demais, e a gente só tinha mais e mais vontade de se descobrir, uma ansiedade enorme, e a gente se entregava e se envolvia e se enlaçava. Eu sentia uma confiança e uma segurança que nunca tive com ninguém, então sai da minha própria base para ficar no teu abraço. Tudo o que ele me pedia e queria, eu queria. Abria a mão das coisas mesmo achando que estas não condiziam com as regras, só queria você e você só queria que eu te quisesse, se o meu desejo condizia com o seu, que mal tinha?! Te perder não era opção. E de repente era vontade de estar junto, dormir junto, ah! Era tão ruim não dormir assim agarradinho e a gente achava isso estranho porque nenhum dos dois estavam acostumados a ter essa vontade com ninguém ou pelo menos quase  com ninguém, nenhum dos dois gostava dessa coisa meio casal grude. Era vontade de acordar junto, ah! Acordar e não nos vermos ao abrir os olhos era uma tortura! Você dizia que queria me acordar com beijos... Era vontade de tomar banho junto. Era uma angustia enorme, uma tortura não estar junto, não estar se tocando, se olhando, se sentindo. E tínhamos e nos deixávamos ter todas essas vontades sem ligar para as regras estabelecidas no começo da brincadeira, era tudo tão recíproco que não dava para acreditar, não dava para largar, só dava para querer mais e mais e mais e mais e vem cá logo! Era tão boa a ideia do casal proíbido que de alguma forma tava dando certo. Porque vamos combinar, a gente foi proíbido um para o outro de todas as maneiras, para começar éramos o retrato perfeito da dama e o vagabundo, nossos gostos totalmente opostos, uma paulista e um carioca, eu Barra você Zona Sul, e depois ainda veio a história Romeu e Julieta, e bom por final, aqueles famosos amigos "eu nunca te pegaria, pera ai!", "você é tipo um irmão/irmã". A gente tava quebrando todas as regras possíveis. E para que regras? A gente não lembrava que estava brincando tinha um bom tempo. E ai que ficou sério. Ficou sério mas ninguém queria aquilo, ninguém tava preparado para aquilo. Ficou sério e ninguém percebeu. Ficou sério e ninguém cresceu. Ficou sério e todo mundo ainda achava que era brincadeira. Até começar a doer, até doer muito, até eu não entender porque tava doendo se era só uma brincadeira e que o combinado era que ninguém nem ganhava nem perdia, seria empate sempre... Mas então eu me sentia perdendo naquela brincadeira, e percebi que da brincadeira a única coisa que tinha restado eram os participantes. E ai, o caos. E ai, que eu me procurava e não me achava, só achava uma garota que tinha o nome dele bem na testa, mas que tapava com a mão para ninguém ver, nem mesmo ela no espelho. Mas aquela garota era eu, e eu tirei a mão da testa. Fiquei olhando seu nome e doía tanto, como eu ia admitir que tinha deixado aquilo acontecer? Era só amizade... Era só uma brincadeira...  Mas ai, olhei para ele e achei um garoto com a mão na testa, eu via a primeira letra de meu nome, mas ele ainda não tinha coragem de tirar e ver o resto do nome, ele já sabia, eu também, mas ter a certeza doeria mais... E agora? Agora sou eu, você e a procura pela aceitação. Você estava assustado, eu estava surpresa e pronta para partir nessa aventura mesmo com medo. Mas já você... Você tinha aquela tal da insegurança que fazia o seu medo ficar muito maior do que sua vontade de agir, em alguns momentos sei que não, sei que em alguns momentos você tentou fazer a coragem e o amor falarem mais alto, mas não foi o suficiente né?! Tudo bem... Mas meu amor, depois dessa sua fraqueza, algo me diz que não estamos preparados ainda um para o outro em termos de casal. Talvez a gente nunca esteja, parte de mim quer acreditar que é questão de tempo e de amadurecimento... O que você acha de continuar nossa caminhada e deixar que a trilha nos leve para o destino certo? Talvez a gente se distancie. Talvez a gente permaneça amigos. Não é que eu acredite nisso de "se for pra ser será" ou até mesmo em destino e estar escrito nas estrelas, mas é que talvez em um futuro a gente e o nosso amor se encaixem melhor. Mas por favor, não insiste mais, não pense mais nisso, é só aceitar os fatos e não lutar contra maré, deixa que tudo aparece na nossa frente conforme nossas pegadas.  Então não diz que é nunca mais, é só por enquanto. Não coloque um ponto final, deixe em reticências que é para que o nosso amor fique pelo ar e não deixe de existir. - Luísa Monte Real


Espontânea


 
Ela nunca gostou de nada que a prendesse. Desde pequena sempre nervosinha, teimosa, com fome de independência e de querer ser grande pra ter liberdade... Se é que algum dia se conquista a tal. Ela nunca gostou de obrigações, se é pra fazer que faça com vontade, se não nem venha. Quanto mais natural, espontâneo e sincero for, melhor. Ela não gosta de enrolação. Ela sempre gostou de cartas na mesa e transparência no olhar. Ela gosta da empatia pra tentar ser justa e acabar entendendo um pouco mais sobre si mesma. Ela não cobra encontrar nos outros aquilo que ela é, se for pra ser, que ela seja pronto acabou. Muito menos aquilo que ela não é. Ela sempre gostou de ser a protagonista ou a antagonista da sua própria história, de levar a responsabilidade de ela mesma ter o papel de ser e não ser o que bem entender, ter a responsabilidade de acertar e errar. Ela não espera nada dos outros nem dela mesma, porque esperar é querer parar, é querer estabilizar, é querer controlar. E ai ai ai, controle ela não tem. Incerta ela é. Pensar e agir ela nunca para. Não necessariamente nessa ordem, até porque Espontânea é seu nome do meio. Ela procura estar bem para refletir o bem. Ela não gosta de brigas, prefere conversas. Ela não gosta de estresse e por isso vê tudo pelo lado positivo, afinal pra ela tudo é questão de ponto de vista. Ela não gosta de rotina e de planos, mapa então, nem se fala... Ela não gosta que coloquem palavras na sua boca. Ela gosta de ser única e singular como qualquer outra pessoa. Ela não é perfeita e por isso ama mudanças. Ela tem medo de ser julgada, mas aprendeu que querer ser o que todos querem é o mesmo que não ser nada. Ela descobriu que ela faz tudo por ela e não pra provar alguma coisa para alguém, quem viu, viu, quem não viu, quem sabe algum dia veja. Ela se acha engraçada e é a pessoa que mais ri de si mesma. Ela nem sempre gosta do que vê no espelho, mas na maioria das vezes sim. Ela gosta dos cachinhos dela e do seus olhos terem tons diferentes.  Ela não se arrepende de nada, pois o passado não volta e todo erro tem algum conserto. Ela aprendeu a perdoar, não por pena, mas para se dar a paz de que precisa. Ela acredita que respeito é tudo, respeitar o tempo, respeitar o lugar, respeitar o outro, respeitar a si e suas vontades. Ela quer que você dê a atenção de que ela precisa, mas também se não quiser ela prefere que não dê, porque ela também não suporta fazer as coisas sem vontade. Ela gosta de correr atrás daquilo que deseja e não perde oportunidades por orgulho, mas também sabe a diferença entre persistência e insistência. Ela não gosta de hipocrisia, contradições e mentiras, mas entende se você precisar delas para tentar se encontrar. Ela sabe que no final é isso que todos buscam, mesmo que alguns ainda se escondam no meio do medo de não ser o que esperavam. Ela sabe que todos querem uma segunda chance, todos querem ser melhores, todos querem um ouvido ou dois pra ser compreendidos ou pelo menos aceitos. Ela sabe que todos querem se desprender dos medos e serem espontâneos, serem livres, serem eles mesmos. Ela sabe que é o que todos querem, e por isso ela leva o papel de dar o que ela e todos gostariam de receber. E é por isso que ela não vai pedir pra você ficar. Ela vai te dar a liberdade de ser e fazer o que você bem decidir, sem rancor, sem pressão e com muita compreensão. Porque ela entende que todo mundo tem o direito de ser o que quiser e que ninguém deve nada a ela além de ela mesma, afinal a vida dela é só dela, a sua vida é só sua. E assim, ela vai te dar a chance de ser o que ela é, espontânea. -Luísa Monte Real

Novo ano a cada dia

Desde pequena eu sempre amei o Ano Novo. Talvez porque era sempre uma grande festa com pessoas da minha família. E eu sempre fui muito apegada a família, eram as pessoas que eu mais valorizava e amava. Talvez porque a gente ia pra praia de noite, e quem me conhece sabe meu amor pelas praias. Talvez por todo mundo estar fantasiado de branco. Talvez porque todo mundo ficasse unido e feliz. Talvez porque dava a sensação de limpar a alma e ter uma nova chance. Sei lá... A energia era muito boa naquele dia em especial e continua sendo, mas passei a procurar essa mesma energia nos outros dias dentro de mim. Esse dia para mim continua sendo um trampolim para eu conseguir saltar alto e mergulhar de cabeça em novas oportunidades do ano seguinte, abrir novos sonhos, deixar as coisas no passado e tudo que se fala sobre o tal Ano Novo. Mas acontece que diferente de muitas pessoas, eu comecei a realmente entender que o dia era apenas o trampolim e quem depois guiava o caminho do mergulho era eu. O dia era realmente importante e motivante, mas quem fazia ser diferente no dia seguinte do Reveillon, era eu. Não, não vou dizer que quem deseja um monte de coisa pro ano seguinte está errada, afinal eu continuo fazendo meus pedidos, porque nem tudo que acontece acontece porque queremos, vivemos em sociedade e nada é certeiro. Então, continuo sim pedindo alguns clichês. Apesar disso, entendi que muitas coisas dependem muito de mim e de como eu reajo, por isso foco mais no meu interior e no caminho que vou seguir quando minha cabeça for de encontro com a água ao saltar do trampolim. Relembro meus erros e meus acertos, mas não me prometo nada, nem ao menos me peço nada, só me preparo para o que está por vir de braços abertos e coração lavado. E isso é todo o resto dos dias. Todo dia me preparo para receber o novo, todo dia penso em mim e reflito minhas ações. Todo dia penso em me afastar de pessoas que não me somam nada, todo dia eu me amo mais um pouco. Todo dia penso nos amigos que realmente quero ter, todo dia peço desculpas a quem magoei. Todo dia eu penso nos meus sonhos e corro atrás em pequenos passos, todo dia acordo pronta para novos desafios, todo dia eu quero aprender, todo dia eu dou um sorriso ou mais, todo dia valorizo o que tenho. Todo dia olho nos olhos das pessoas, todo dia descarrego energias negativas e trago-me as positivas. Todo dia eu trabalho para que não fique tudo parado, sem graça, com poeira e criando teias de aranha, todo dia atualizo minha mente deixando o dia anterior guardado em uma gaveta. No Ano Novo não há nada muito de diferente, eu simplesmente fecho em uma gaveta maior um monte de gavetinhas fechadas durante todo o ano, aproveito para fechar algumas que podem, por descuido, terem ficado abertas. Aproveito para festejar (amo uma festa, já viu né...) e para respirar toda a alegria, esperança e paz que está no ar e que existe dentro de mim. Aproveito para descarregar todas as energias que arrecadei durante o ano, para poder me preencher de novo. Com o passar dos anos, eu percebi que a cada ano existiam novas experiências, novos obstáculos, mas eu percebi que eles só eram tão novos assim, porque eu mudava com cada situação que me aparecia, eu mudava aos poucos a cada dia e quando chegava no final do ano eu não era mais a mesma do começo, e foi então, que eu entendi que o trampolim não serve de nada se você não bater o pé depois de mergulhar. Um dia parei para pensar e eu não entendia como que eu havia mudado tanto ao ponto de desenvolver a capacidade de desabar num dia, deixar tudo doer demais e acordar no dia seguinte renovada, feliz, alegre. E foi ai que eu entendi que eu faço todos os dias depois de uma batalha ou até mesmo de um dia sem graça, um "Ano Novo". A vida é muito curta e o tempo muito rápido para esperarmos o ano inteiro para poder fazer e prometer fazer tudo o que queremos, isso tem que ser feito um pouquinho a cada dia, sem promessas nem muitas cobranças, por favor, deixa tudo fluir enquanto você toma, a cada dia, pequenas escolhas que vão ser responsáveis pela grande mudança que espera. Ah, porque a gente sempre quer mudar, a gente sempre quer ser melhor, a gente sempre quer tentar o diferente... Então desejo que nesse dia especial você suba no trampolim, salte bem alto quem sabe até dê uma ou duas piruetas no ar, mas mais importante que isso, que você não se esqueça de continuar nadando e se guiando quando entrar na água, porque o próximo trampolim só vem daqui a 365 dias. Feliz Ano Novo o ano inteiro!!!

O intruso

    Por que você faz isso? Por que você se fecha? Por que você não se entrega? Por que você cria esse peso? Por que você não me deixa ver seu jardim? Mesmo que ele seja assim, meio bagunçado e cinza. Deixa eu ver, só pra gente bolar um plano de colocar uns passarinhos, umas cores, uns cheiros, uma brisa que varre e um sol que ilumina. Só para gente tentar. Juro que se não der certo eu te dou o cimento pra colocar seu muro de volta. Mas deixa eu tentar... Ei, quem foi que te fez ficar assim? Quem foi que te disse que você tem sempre que ser forte? Quem foi que te disse que ser pedra é melhor? Quem foi que te disse que você tem que ser perfeito? Quem foi que te disse que tem que ser sempre certo? Quem foi que te disse que não se pode confiar em ninguém? Quem foi que te disse que você só machuca os outros? Quem foi que te disse que a dor é fraqueza? Quem foi que te disse que ela é sua inimiga? Quem foi que te disse que as lágrimas tem que ser seguradas? Foi você não foi? Não foi você quem te disse todas essas coisas? Não foi você que se convenceu de tudo isso para não ter que encarar suas dores, seus erros, seus defeitos, seus medos? Oh meu amor, não se cobre tanto. Não escolha o caminho mais fácil, mal sabe que é o caminho com mais armadilhas. Armadilhas que você mesmo faz para se proteger de intrusos, se proteger de qualquer um que te faça acelerar o coração, qualquer um que te seja uma ameaça, e então você começa a achar que todos são uma ameaça e faz de tudo para ninguém entrar. Mal sabe que o seu maior intruso é você mesmo. E esse intruso não é seu inimigo não, na verdade ele é o seu melhor amigo. Ele é o teu reflexo, ele pode ser bem feio quando aparece e talvez por isso você nem queira vê-lo ou nem mesmo o reconhece, talvez por isso você ache que os intrusos são os outros. Mas ele é seu melhor amigo e só quer te amar, te cuidar. Ele quer te mostrar seus defeitos, ele quer te mostrar o estrago, mas ele quer que você o veja e o enfrente. Que você o aceite, que você admita que ele é você. Mas ele quer mais do que isso, ele se mostra porque ele pede desesperadamente que você perceba que você é capaz de mudar, que você é capaz de ser o que você sempre quis, que você molde ele do seu jeitinho, mesmo que doa no começo, mesmo que a massinha seja dura de início. Ele quer que você não o abandone mais, que você o respeite, que você o ame. Que você não tem que ter medo de nenhum outro intruso porque se você souber lidar com ele, não tem quem te segure. Então vem, eu te ajudo. Dê-me a sua mão. Mostra-me esse intruso, deixa ele me bater com força se você não aguentar, só não esconda ele. Liberte todos os seus demônios e os faça luz. Prometo ficar se você prometer que não vai mais se abandonar . Vem sem medo de me machucar, porque ninguém pode me machucar mais do que eu mesma e por isso me garanto da certeza de que te carregarei no colo sem me doer. Deixa eu te mostrar que eu posso amar ele e assim quem sabe você também não o ama? Por favor meu amor, porque seu orgulho, seu ego e suas barreiras já me sufocam. Não posso mais te ver se autocastigando, não posso mais te ver fugindo de quem você realmente é e quer ser. A gente é tão novo, ainda dá tempo de mudar, ainda dá tempo de fazer diferente, ainda dá tempo de se libertar e se encontrar. Vai, mostra pra todo mundo quem é o trouxa nesse mundo. Vai, mostra pra esse mundo cheio de solidão e individualismo que a gente pode dar sem ter que receber e que isso não é submissão. Vai, mostra pra esse mundo cheio de dor e ódio que ainda tem esperança. Vai, mostra que não existe impossível. Vai, mostra pra todo mundo que autoestima tem a ver com amor próprio e não ego e imagem. Vai, fala o que ninguém falou. Mostra o que ninguém mostrou. Tenta o que ninguém tentou. Inventa o que ninguém inventou. Acredita no que ninguém acreditou. Erre o que ninguém errou. Conserte o que ninguém consertou. E ame o que ninguém pode amar mais e melhor. Você.