Pesquisar

"Amar também é sofrer um pouco. E vale a pena sofrer por algumas pessoas" - Luísa Monte Real

Mão na mão, pés fora do chão

   E ai as nossas mãos se entrelaçaram. A sua esquentava a minha gelada. Um sentimento de segurança como nunca havia sentido igual. Não que eu precisasse da sua proteção, muito pelo contrário. Mas um sentimento de que o mundo acontecia e nada atingia minha atenção além do nosso toque. Entendia pela primeira vez como era sentir que só existia eu e alguém por um instante. Eu olhava tudo ao meu redor, mas não enxergava mais nada além de você. Eu ouvia vozes ao meu redor, mas não escutava mais nada além de você. Eu não queria mais soltar a minha mão da sua. Era como uma droga. Talvez até quisesse mais do que só ela dali umas horas... Não era como me sentir completa, mas transbordada. Coloquei meu aconchego e todo meu ponto de paz em nossas mãos por um tempo que eu nem sei dizer se foi muito ou se foi pouco. Foi além dessa lei e independente dela, alcancei a perfeição. Depositei em nossas mãos entrelaçadas o meu melhor "eu", e sentia que você fazia o mesmo, e ainda nem conhecíamos qualquer parte um do outro. Não senti medo de estar me entregando ao desconhecido e a improvisação se deu presente. Sem perceber deixei que "nós" existíssemos, tudo acontecesse e sentisse a partir de um toque de dedos e palmas. E mesmo que isso se dê somente como um item das melhores sensações e momentos que já tive, me bastará. - Luísa Monte Real 

Telepatia

Seu silêncio pesado me incomoda
Seu silêncio lento me faz pensar
O que está pensando?
O que quer dizer?
Quer dizer alguma coisa?
Vai dizer agora?
Quer que eu diga?
Meu silêncio de chumbo te incomoda
Meu silêncio devagar te traz um dilema
Falo não falo? Eu começo?
To esperando te incomodar tanto até dizer o que quer
To esperando pra não falar e te cortar se começar a falar
Por que a gente sempre quebra o silêncio na mesma hora?
Seu silêncio sereno me acalma
Seu silêncio doloroso revela seu arrependimento
Seu silêncio pensativo me mostra  mais do que suas palavras
Palavras nunca são seu forte...
Seu silêncio triste diz suas mágoas
Seu silêncio só me diz tudo isso porque já conheço seus pensamentos.
Pensamentos que não se conectam com palavras
Falo que não sei o que falar?
Quero ter o que falar, ela sempre fala...
Meu silêncio te diz que entendo sua falta de palavras
Meu silêncio te diz que te perdôo
Meu silêncio te diz que se quiser não precisa falar
Meu silêncio te diz que se quiser pode começar um assunto bobo,
do dia-a-dia
Meu silêncio só diz tudo isso porque já conhece minhas palavras.
Seus silêncios calam seus pensamentos.
Meus silêncios calam minhas palavras.
Tá melhor do resfriado?

  – Luísa Monte Real





Amor sem padrões

     E que tudo seja rosa vermelha e pimenta picante. Que tudo se transforme em amor com sentidos e intensidades diferentes, mas sem medida de valores. Amor é amor. Sem preços e sem explicações. Que se quebre a ideia de que só casais tem romantismo. Que irmãos e irmãs se declarem. Que vizinhos façam surpresa. Que pais recebam flores de seus filhos. Que avós e netos façam poemas. Que primos se mandem cartas de declaração. Que amigos briguem por questões da relação e se desculpem com chocolates. Que tios e sobrinhos vejam filme com pipoca no cinema. Que eu possa morrer de saudade por alguém sem que seja um namorado em um intercâmbio. Que eu possa achar o melhor beijo do mundo em uma rua qualquer sem que eu precise casar. Que eu possa amar intensa, bela e romanticamente meu melhor amigo sem que goste dele como meu namorado. Que eu possa abraçar minha irmã e me sentir no melhor abraço do mundo sem que ela seja meu noivo. Que meu maior companheiro seja meu cachorro. Que eu possa me apaixonar por todos que admiro e amo, porque pra mim paixão não significa tesão e não tem só um tipo. Que o meu sorriso preferido seja o da minha mãe. Que o meu maior riso seja do meu pai. Que eu possa amar todos como nunca amei ninguém. Mas que eu ache um mix de todo esse amor e paixão  acompanhados de um desejo carnal em uma pessoa que vou levar para casa, ter um cachorro, uma tartaruga e talvez um casal de filhos. - Luísa Monte Real

Um telefonema, mas o seu.

    Saudades de quando a gente ficava horas no telefone falando sobre tudo e sobre nada. Todos os minutos eu ficava com um sorriso estampado no meu rosto, muito boba, e pelo tom da sua voz eu sabia que você sorria igualmente. Saudades de como às vezes você me escutava tão bem e às vezes não me deixava falar nem por um segundo. Saudades de quando chegava um momento em que o assunto acabava e sua respiração era o ponto mais calmo e aconchegante que eu já pude encontrar. Dizem que o silêncio cômodo é o ponto de maior intimidade e me sinto assim com você. O silêncio e a sua presença eram tão confortantes e relaxantes que não me importava de deitar naquele banco de madeira que fazia minha cabeça doer no dia seguinte. Nessa hora eu não pensava em nada e creio que você também não. Ouvia só a sua respiração e você a minha. Só pensava em como ela fazia-me sentir tão acolhida por você, às vezes um de nós chegava até dormir por tamanha calmaria. Saudades de quando ficávamos horas no telefone e eu me sentia tão perto de você ao ponto de parecer que a sua voz estava dentro de mim, mas ao mesmo tempo tão longe ao ponto de não poder te abraçar. Saudades de me sentir como eu me sentia quando a gente se falava por telefone, uma euforia, uma alegria. Saudades da sua risada boba de criança. Saudades de quando eu fingia que não estava mais ali e você repetia meu nome mil vezes de diversas maneiras e vozes até eu falar: "que?". Saudades das suas manias, confesso que algumas estão comigo e sinto raiva todas as vezes que me pego fazendo-as. Saudades até da sua voz, que não era muito do meu gosto, e que apesar de masculina e rouca, era um pouco fina. Aquele sotaque mole e forte de carioca que tanto me irritava e às vezes até me fazia rir e tirar sarro. Aquele silêncio depois do "acho que vou dormir" dizendo que os dois queriam aquele momento eterno não só nas lembranças. E o silêncio entre o "boa noite" e o som de que desligou, trazia-nos a vontade de dizer que nos amávamos. Sim, brigamos muitas vezes e nelas nem de longe queria ter a presença da sua  aconchegante respiração e da sua irritante voz. Mas brigas que só nos fortaleceram. Hoje já não sei mais o que vai dar. Hoje só sei da saudade. E espero que sua respiração logo chegue, antes que eu comece a ter que me lembrar de não esquecer o som da sua voz. - Luísa Monte Real

Eu e minhas 7 vidas

    Dizem que só gatos tem 7 vidas. Eu com certeza tenho 7 vidas, se é que não tenho mais, talvez perca a conta até o final... Não sei na sua, mas na minha vida existem várias outras vidas com o mesmo protagonista. Eu. É mais ou menos assim que acontece: A cada dia, um passo. A cada passo, uma descoberta. A cada descoberta, uma mudança. A cada mudança, uma característica. A cada característica, um eu. A cada eu, uma vida. A cada vida, um momento. A cada momento, uma fase. A cada fase, uma descoberta. A cada descoberta, uma porta. A cada porta, uma abertura. A cada abertura, um entendimento. A cada entendimento, uma lição. A cada lição, um despertar. A cada despertar, um brilho no olhar. A cada brilho no olhar, um amor. A cada amor, uma intensidade. A cada intensidade, uma alma vivaz. A cada alma vivaz, uma paz. A cada paz, uma felicidade. A cada felicidade, uma tristeza. A cada tristeza, uma superação. E assim vai, um ciclo. Nem tão redondo, completo e compreensível, mas meu ciclo. Meu ciclo tem ramificações que se conectam, mas não necessariamente se fecham. Meu ciclo tem etapas repetidas, mas que não necessariamente me levam aos mesmos fins. Sou a mistura de diversas vidas que formam uma só, a minha. Mas todas as vidas que já protagonizei e ainda incorporarei se mantêm de alguma forma, mesmo mudadas. Todo dia é uma nova chance para eu ser a mesma ou outra vida. Todo dia é uma chance de eu ser aquilo que me condiz. A única coisa que nunca muda é que eu nunca paro de me mudar e me tornar, ser e crescer, amar e desapegar, mas principalmente, viver e aprender. Isso sem contar as infinitas vidas que passam entre as minhas... Mas e ai, quantas vidas você tem? - Luísa Monte Real

Quando perdoei

   Uma certa manhã me peguei e tinha te perdoado. Descobri que foi algo de tempo. Descobri que foi sem eu querer ou perceber. Eu percebi que perdoei quando naquela manhã, descobri que eu não sentia mais pelos seus erros. Perdoei quando estranhei a memória deles. Perdoei quando duvidei que tudo não tinha passado de um pesadelo, e que nem traumático este tinha sido. Perdoei quando me peguei pensando: "Você realmente fez isso? Nossa nem dá pra acreditar, que doideira!". Perdoei quando a lembrança era só memória e não doía mais, como um filme. Perdoei quando superei. Perdoei quando olhei nos teus olhos e te amei mais ainda apesar dos pesares.  Perdoei quando olhei nos teus olhos e soube que valeu a pena não ter desistido. Perdoei quando meus machucados estavam cicatrizados e eu senti surpresa ao ver que no seu corpo eles estavam igualmente tatuados. - Luísa Monte Real