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  Dica: Música "Training Wheels", Melanie Martinez 

    Um dia acordei e você estava estranho. Tudo bem, a gente tinha tido uma briga, muito idiota por sinal. Eu continuava com muitas coisas a te dizer entaladas em meu peito. É que a gente sempre foi muito sincero, e meus desabafos sempre te pertenceram. Não sabia se dessa vez eu deveria guardar para mim porque pela primeira vez não sabia como você reagiria e lidaria com a bomba que eu iria lançar. Mas você me conhece, eu sempre escolho a sinceridade e a transparência. Você logo percebeu que eu estava entalada e me ligou, se importou. Eu disse tudo, mas você disse que não ia falar mais nada, como da última vez que tínhamos brigado. Tenho certeza que você tinha o que dizer, mas aposto que seu orgulho de manter sua promessa consigo mesmo te fechou, não é?! Você preferiu guardar tudo para si bem, bem lá dentro fingindo que não tinha nada. Fingindo que não te afetava. E fez isso porque te afetou demais, não é?! Mas eu te estendi a mão, a gente sempre foi o apoio um do outro, desabafei colocando soluções para nós dois. 
    Seria tão mais fácil se você cedesse, se você se permitisse, mas você estava com tanto medo de se entregar, tanto medo de se machucar... lidar com você era exatamente como “Training Wheels” de Melanie Martinez. Acredito que tudo que lhe disse de alguma maneira fez você voltar as várias casas de nosso pequeno joguinho que gosto de chamar de nossa vida juntos. Achei que com o tempo afastado de mim, a saudade te curaria, sua confiança em mim voltaria e sua pecinha do jogo se encontraria na mesma fase que a minha outra vez. Mas eu não sei, você não se afastava, você vinha. Mas eu não queria você, você vinha me machucar, não por querer, mas sua barreira me impedia de me conectar com você e eu me sentia cada vez mais jogando o jogo sozinha. É talvez eu chegasse no final e vencesse, mas eu não queria se não fosse com você. Eu te perguntava o que era e você dizia que eu era louca, que era coisa da minha cabeça, que eu tava viajando... ai, isso me deixava com uma raiva tremenda!
    Cheguei a pensar que você mudou comigo porque estava namorando, mas você já namorou mil vezes antes e isso nunca havia acontecido... ai, você me deixava tão insegura e eu continuei desabafando com você sobre tudo o que eu estava sentindo, afinal você me perguntava e se preocupava, mas na hora de resolver não conseguia se entregar. Gostaria tanto de massagear a sua dor. Um dia desses você me chamou para sair, mas era tão tarde... se eu já fosse independente eu ia na hora e tenho certeza que minha presença faria um reencontro de nossas peças e até iríamos passar de fase, mas eu não fui... era loucura demais, e em partes eu errei em não ir. Em outras partes você fez de propósito, sabia que eu não poderia, e usaria como desculpa de que estava tentando sim. Eu te conheço tão bem e você ainda assim achava que conseguia fingir suas atitudes. Talvez estivesse tentando fingir para si mesmo. Houve um dia em que você havia bebido um pouco e foi o único dia em que você foi você comigo e eu fiquei feliz, porque eu soube que ainda existia o meu velho amigo ali. Eu só sei que eu estava confusa, perdida, com raiva. Não me arrependera de tudo que falei, falei para que fosse consertado, quem estava estragando as coisas era você, aliás, você não, porque você não estava sendo você.
    Seu ego, seu orgulho, seus medos estavam me empurrando. Eu procurava aguentar porque você só fazia isso para me rejeitar antes de ser rejeitado. Eu precisava provar que eu não ia te rejeitar, precisava te provar que as coisas podiam ser diferentes. Eu consumia uma força que eu não tinha. Eu aguentava os seus erros nas minhas costas e agora de boca fechada, e você percebia. Como você pensou que se fechar ia fazer dar certo, hein?! Mesmo se eu chegava de mansinho com carinho você não amolecia, qual é a sua, hein?! Você nem percebia, você estava dolorido?! Você dizia que eu era dramática para não aceitar que doía, né?! Eu não sei, eu não sei, por favor, hein?! Me responde, me dê um sinal! Não me sufoca! Queria te entender, você não queria me machucar e ao mesmo tempo me machucava para não se machucar, ou você mudou por estar namorando?! Eu estou louca?! Não! Eu não sei, eu não sei, eu acho que não. Eu não ia aguentar, eu ia cansar, você estava se estragando, estragando tudo e eu me estragava junto, por nós.
(Continuação Aqui)

 - Luísa Monte Real 

   

Meu Pé de Cerejas


    A gente correu para o mato onde tinha uma casinha na árvore que eu queria lhe mostrar.
---Vai, pode abrir os olhos... – esperei alguns segundos suficientes para que a vista se acostumasse - gostou?!
    Ninguém podia enxergar a gente ali. Era o nosso lugar. Nosso esconderijo. Estávamos sentados e sem querer uma manga de minha blusa caiu e meu ombro ficou à mostra. Eu rapidamente vesti para que você não visse. Mas você viu, é claro...
---Ei, espere aí... - você se aproximava e com suas mãos delicadamente tirava a manga - O que é essa marca?
---Não é nada.
   Te olhei nos olhos e você olhava minha marca vermelha com um formato de ameba. Não gostava muito dela, mas era minha. Depois dali você começou a querer desvendar minhas marcas até que despertasse um desejo recíproco e eu pudesse ver as suas também. Você foi duro demais comigo, às vezes era rígido, não queria me contar de jeito nenhum, não se abria de jeito nenhum. Mas eu queria tanto... você.
    Mas ali naquela casinha a gente montava um mundo de marcas só nosso. Eu pegava algumas de suas marcas para mim e vice-versa. A gente se transformava, eu te mudava. Você queria beijar cada marca, queria cuidar de cada cicatriz. Às vezes eu chorava e você limpava. Você sempre foi o garoto que roubava corações e dessa vez você quis me dar o seu para que o meu não ficasse tão sozinho.
   Você queria que a sua casa fosse meu peito para que você pudesse construir um jardim onde meu sorriso fosse a porta de entrada para o seu. Você queria cuidar do telhado da nossa casinha para que de noite não chovesse na gente e eu pudesse dormir bem o bastante para te abraçar e te acolher.
   Você queria fechar as janelas para que meu cheiro ficasse na coberta ainda de manhã quando acordasse e tivesse me perdido pela cama.
   Você queria que eu te mantivesse acordado até a madrugada para ter a certeza de te desejar até o dia seguinte.
    Porque a casinha era tão nossa, e a gente era tão bom, você não podia deixar desmoronar. Não podia. Eu merecia. Você merecia. A gente. E para fazer tudo isso então, você só tinha uma saída.
     A mudança.
     E então, você passou uma semana do lado de fora plantando alguma coisa que eu não fazia ideia do que era. Às vezes eu achava que você estava se arrumando para ir embora, parecia cansado, você não subia mais.
    Você mexia na terra, regava e esperava. Em alguns dias eu via que nascia uma plantinha dali e foi quando eu mais tive medo de você me largar com ela ali. Mas você fez o contrário, você subiu. Foi quando sentiu essa necessidade tão grande de fazer diferente, foi quando mudou que descobriu o que era amor.
   Você mudou seu olhar sobre tudo para que meus olhos encontrassem os seus. Você mudou sua fala, sua voz para que eu pudesse deitar meus ouvidos e só querer te ouvir. Você se tornou carinhoso para que eu pudesse correr para os seus braços. Você comprou lápis e papel para que eu te escrevesse e você me desenhasse. Você trouxe coberta, e primeiros socorros. É que na verdade, boa parte do que estava construído, eu é quem tinha realizado e te dado, meu corpo, minha alma, minhas marcas e a casinha já estavam prontas para te receber, e você sabia que o toque final era seu, era entrar e beijar todos os dias, as seis marcas (pelo que você contou) e uma cicatriz que eu tinha no corpo. Era renovar a certeza de que nossa casinha era cada dia mais nossa. Era me dar um beijo de bom dia para eu saber que já tinha feito o café com o seu gostinho na boca. Era ficar doente e vir correndo assoar o nariz nojento na minha blusa, implorando para ser mimado. Eca. E eu?! Eu descobri o que era amor quando tive a certeza de que podia amar marcas tão diferentes das minhas, e de que podia construir uma casinha gostosa um pouco torta, mas que fizesse você se sentir confiante, leve e cuidado o suficiente para poder vir e ajeitar com toda sua engenharia de amar. Era descer todos os dias para ver o que a plantinha tinha a nos oferecer e a gente a ela. 
----Qual planta é essa?
----É surpresa. Mas calma, é sua.
A plantinha foi crescendo e se tornando árvore, cresciam flores rosas lindas, eu sabia qual era, mas não lembrava, que droga! Era tão linda, e ele tinha feito para mim. Eu não acredito que ele havia plantado uma árvore e de certa forma aquilo crescia dentro de mim dia após dia, me fazia brilhar por dentro. Até um dia em que descemos e eu vi uma coisinha pendurada na árvore redonda, avermelhada para o roxo.
Era uma cerejeira.
---Você é doce sem ser enjoativa, linda, pequena, gostosa, sensual e companheira. Pacote completo. – ele disse, apesar de eu nunca ter sido tão segura quanto a isso.

   E agora, toda vez que ele tem que ir por alguma razão, as cerejas brotam para que eu não fique só, e me lembre de comê-las ao lado de minhas escritas manchando e dando o toque final com a cor que ele me floresceu. - Luísa Monte Real 

A Arte de Ser Você


E eu peguei uma cesta com barro
Comecei a montar o que viesse na cabeça.
E o que é que tem nela?
Cabelo
Terra
Semente
E cor
Cabelo pra enfeitar
Pó pra lembrar
Terra pra plantar
Semente pra florescer
E cor para pintar.
Numa brincadeira de mão a mão
Tinha um ritmo que de pião
Uma grande confusão
Se fazia para frente para trás,
roda a roda,
Chora, chora
gira e gira e girassol.
Redemoinho no cabelo
Os olhos castanhos
E os lábios vermelhos
Um beijo no nariz
É o que condiz
Com a paixão de um aprendiz.
As orelhas bem abertas
Ouve-se no barro o som das cores amarelas
Mas gostava mesmo na aquarela 
O rosa pink
Piquenique com as estrelas e o luar
Aonde amar é
Cair na onda do mar
Na música tocar
O barro criar
Na arte borrar
O texto postar
No teu colo deitar
Em um Sol nascer
A luta de vencer
O esforço de ser e crescer
Em você.

-Luísa Monte Real

A Arte De Ser Mulher



Hoje uma dor cresce em meu peito
Dor que sempre existiu
Passarinho engoliu
E agora quer voar.
Cores Sabores Dores
Escolhi a arte para me vingar
Hoje não quero paz
Hoje eu quero falar
Hoje eu quero andar
Na rua despida
Alma Mente Corpo
Quero andar em meio a chuva
Cai aqui no meu colo
LOUCA TPM
Sangro impura
enquanto ando, formando um cheiro
E que meu cheiro me fortaleça
Em suas narinas cresça
E você sinta o meu suor.
Com a arte, ando em câmera lenta como em um clipe
Numa ilusão de me despertar e me libertar
Com a arte me ensino a ser,
a transparecer, a doer, a mexer, a envolver.
Em um grito sento no asfalto
Carrego meu filho no colo
Onde fui me perder?
Se ao menos eu soubesse diferenciar o que quero ser do que querem que eu seja
Se ao menos eu soubesse o que é ser mulher
O que é ser um ser desvinculado de você
Homem
Me usa Me bate Me taxa Me mede Me rotula Me usa Me abusa Me esconde
Me sussurra, Me leva prum canto, pergunta se eu aguento.
E se não aguentar?
Me embebeda, me convence, me fala de direitos iguais
Me deixa no chão, não olha no meu olho
Me usa Me bate Me molda
Diz que sou sua mulher e mulher sua é de tal jeito, tal medida
É santa É puta É pura
Luz branca que me come
me apaga me faz limpa me faz santa
Branca
Do véu ao vestido
Romântica Virgem Rosinha
Endireitou o cara de balada
Pelas costas, baleada
Traição
Na cama, mulher casada finge orgasmo
Sexo?! Nunca segurou homem nenhum
Amor também não...
Você já foi amada?
Precisa ter amor próprio, hein
Para que tanto amor próprio se no final, odeiam e rasgam minha pele?
Aprenda a me amar você
Aprenda a me ver
Aprenda que eu quero ser muito mais
Aprenda que eu posso e eu vou
Aprenda a me aplaudir
Aprenda a subir comigo.
Desejada Desejo Culpa
Minha arte é ser mulher
Mas que mulher se nunca fui o que quis?
Que mulher se quando me olham não posso ser?
Qual a minha arte que me revela?
Não tem saída.
Qual a arte de não ser mulher vencida?
Qual a arte de ser mulher presa na dor de ser mulher?
Qual a arte que me liberta para ser mulher que respira?
Qual a arte que me dá voz para dizer o que é ser mulher?
Eu não sei,
Eu não sei o que é ser mulher.
Nem mesmo quero deixar de ser
Eu só quero ser a arte que nos faz mulher amada.

-Luísa Monte Real

Me Inundei de Você e Odiei


    Eu te odeio. Eu te odeio porque me sinto menor sem você. Eu te odeio porque não quero que faça sentido não ter você. Eu te odeio porque me sinto impotente. Eu te odeio porque permiti me inundar com seu vazio. Eu te odeio porque mesmo encontrando o nada, eu construi alguma coisa. Eu te odeio porque te carreguei. Eu te odeio porque acredito que a gente escolhe como lidar com a situação e tem dias que eu só sei doer. Eu te odeio porque eu estou cansada. Eu te odeio porque a cada dois passos que eu dou para frente, eu volto um atrás. Eu te odeio porque sinto sua falta. Sinto falta de todos os milhares de filmes e séries que a gente via juntos, e por que raios isso era tão especial pra mim? Sinto falta de compartilhar minha vida com você. Falar toda hora sobre nada e tudo. Te encher o saco e me sentir amada, acolhida. Eu te odeio porque sinto falta de todas essas coisas, mas não acho que você mereça. Não mais. Não hoje. Não depois da forma que me atacou com uma flecha bem na ferida me fazendo cair de uma forma que nem lembrava se caia de baixo ou de cima. Não depois de enxergar que você não tem mais nada a me acrescentar além de dor de cabeça. E eu entro em surto. Porque sinto sua falta, mas se penso em você aqui, comigo agora, só consigo imaginar uma coisa: discussão, decepção, cansaço da sua imaturidade, do seu vazio, da sua alma perdida. É porque na real, eu sinto falta da pessoa que você era antes de me perder. Mas aquela pessoa não volta mais e eu preciso que alguém me diga isso. Aquela pessoa não existe mais. Aquela pessoa está por aí se perdendo e sendo escondida como você sempre fez consigo mesmo. É porque eu não consigo te perdoar em como tudo estava sendo tão leve, no esforço que fiz para que fosse saudável, e você teve que virar esse monstro e me engolir numa dor de ego desesperado.
       E eu odeio que eu tive nojo de você, eu odeio que eu tive desprezo por você. Eu odeio o quanto você foi fraco. Eu odeio o tanto de esforço que você fazia para provar a mim o príncipe que você se tornara, como se eu tivesse que te aplaudir ou dar nota 10 depois de um ensinamento que te dei. Eu odeio que você falou que vai lutar por ela como eu lutei por você, querendo mostrar que vai acertar dessa vez, só que do seu jeito, esse jeito razo bem mais ou menos, porque "queremos coisas diferentes" e você não tem tempo. Eu odeio que você tava tão preocupado com a minha aprovação que nem ao menos percebia que vomitava dentro da minha boca um mar de podridão que descia arranhando e intoxicando tudo. Eu odeio ser seu porto seguro quando nem mais pier eu tenho. Eu odeio seu orgulho que você sabe, não se sustenta comigo e você desaba.
     Meu amor, e você veio cheio de si, e você veio cheio de orgulho pronto para ganhar o troféu. E eu te dei uma rasteira para voltar para realidade e você ainda teve a coragem de desabar em mim?! Eu odeio que você não se calou e não foi embora. Odeio que você se despedaçou, se despiu sem que eu quisesse ver. Eu odeio que você provocou, não aguentou o troco e ainda achou que tinha o direito de derramar seu sangue sobre o meu. E agora eu odeio que no meu sangue escorre o teu e eu não sei mais identificar a dor que é minha ou sua. Eu odeio que a sua dor agora queima toda vez que meu coração bombeia. E eu odeio que as coisas mais bonitas que senti foram por você. Odeio achar que ainda é o mais bonito e com sentido em mim, enquanto parte de mim diz que para você nem é mais e talvez nunca nem foi. E eu racionalmente, me acho tão mais merecedora, mais especial do que você só para fingir que, na verdade, não sinto o oposto, e que não te coloco num encantamento. Não deveria, mas me sinto traída por mim mesma. Mas odeio mais ainda que parte de mim te entende e te respeita. Parte de mim é humilde, te permite e quer ver você crescer, parte de mim te ama como irmã desde sempre e reconhece que te ama, mas que você não é merecedor de meus desejos e de minhas fantasias mais profundas, apesar de ainda sentir e me culpar friamente por isso. E eu odeio como me sinto o pó sem ter alguém que nem se quer faz questão de ter alguma relevância na própria vida. Mas tudo o que eu odeio é porque amo. O que odeio é amar essa coisa masoquista de te gostar. - Luísa Monte Real

Desenlouqueça e Vá

     Você perguntou se você era a pessoa certa e eu respondi que eu era se eu fosse a sua. Você disse que queria me fazer a mulher mais feliz do mundo. Que essa sua vontade era maior do que qualquer coisa e que o medo. Você me chamou para morar com você. Você disse que eu era sua vida. Você disse que me amava, mas amava de verdade. Você disse que não conseguia se afastar de mim por nada nesse mundo. Você disse que comigo era diferente, que eu era perfeita. Você me chamou para viagens. Você me pedia em casamento todos os dias. Você disse que eu era o motivo de não mais acordar mal humorado de manhã. Você disse que eu te fazia feliz. Você disse que sorria ao ouvir minha voz. Você disse que não conseguia mais dormir sem mim. Você disse que não acordava quando eu tinha ataques de tosse no meio da noite. Você pedia para eu te acordar se eu chorasse. Você disse que eu era o tipo de garota pacote completo. Você disse que não me largaria. Você disse que eu ficava linda com o cabelo de qualquer jeito. Você disse que queria pegar minha coberta emprestada para dormir com o meu cheiro. Você disse que eu era bonitinha (fofa no seu dicionário) e muito engraçada. Você disse que me queria. Você disse que eu era a certa. Você disse que eu era a miss universo gostosa. Você disse zilhões de vezes que eu era linda. Você disse que nunca havia sentido igual. Você disse que eu era diferente...
  Você disse e eu sinceramente queria que houvesse alguma maneira de você permanecer aqui. Mas nós dois já entendemos que não dá. Eu pelo menos, já percebi. Então vai, vá de uma vez sem olhar para trás, tá bom? Vá sem medo de bater suas asas e encontrar um novo lar. Vá sem medo de ser feliz de novo. Vá e deixa ser presente em um novo alguém tudo o que me disse e que eu te disse. Vá e me transforma numa fotografia com a moldura que preferir em algum canto de entulho da sua casa. Vá porque você preso a mim prende minhas asas em uma corrente que talvez só eu veja. Sei que quando a corrente solta um pouco eu me sinto liberta, mas ela deixa aquela dorzinha que dá vontade de voltar e não se mexer por ter prendido por muito tempo. Vá, porque se você fica, você não fica por inteiro e eu sou capaz de me engolir para matar minha sede de você. Vá, porque meu sentimento por quem sou com você é grande e me possuo numa vontade de ter um futuro novamente com você. Quem é você afinal, hein?! Quer ir para não ser, mas quer ficar para sentir. Deixa eu te sentir. Te sentir é tão bom. Só mais uma vez. Ou vá logo, pegue o voo mais cedo, corra para a sala de embarque, não perca mais essa chance! Por favor, não me enche de vontade de você porque já não mais posso suportar te superar tantas vezes. Já não posso mais suportar ter que me convencer de que você poderia me dar tão mais... por que não se entrega? Por que desenlouqueceu?! Hein?! Agora talvez seja tarde. Agora se for para você se enlouquecer de volta, vai ter que virar a cabeça, vai ter que me tirar o ar e me dar a certeza de que não tem medo não, que não desenlouquece nunca mais, porque na verdade nunca deixou de ser louco, só covarde. Me suga por inteiro ou vá rapidinho, porque meu amor é anseio e não posso esperar por controle. Me descontrola ou vá embora. Me mata de uma vez ou me deixa viver. Que seu fogo queima e eu entrego o meu a você, mas se seu fogo apaga eu me faço reacender. Só não me apaga com falsos redemoinhos de sua perdição mental. Se encontra e me ganha. Ou se perde de uma vez e eu sumo. Se enlouquece de volta ou deixa-me desenlouquecer. Porque a verdade é que no fundo eu sempre sei que você ainda tem uma chance de me virar as pernas, me colocar de branco e viver uma fantasia nem tão perfeita, mas que a gente sente em imensidão. No fundo, eu sempre estou pronta para voltar a ver o nascer, o pôr do Sol e a Lua contigo. - Luísa Monte Real

Desmelancoliza-me



     As pessoas me olham por três lados: madura e teimosa, louca e divertida, ou frágil e fofa. Hoje eu tenho a certeza de que sou madura e teimosa, louca e divertida, e fofa, mas frágil? Você vai ter que me desculpar e descartar essa opção. Posso ser sentimental, ainda bem afinal sou humana e carrego em mim a arte de querer me expressar como tal. Mas  hoje não tem ninguém que me faça duvidar da minha coragem e do meu amor próprio, não importa o tamanho do erro que eu cometa, só eu sei o que sinto por mim nesse momento, aliás diferente do que muitos pensam, amor próprio para mim nem é necessariamente  se amar o tempo inteiro, nem ser perfeito e se tornar o centro da própria vida. É se machucar mas tomar conta da ferida, ou ainda se ferir mais e mais, testar seus limites, mas se autoconhecer e aceitar que aquilo é você, e que você não precisa se amar por inteiro, mas se ver como merecedor de cuidado próprio. Como todo amor, o amor próprio é construção e sentimento, é algo que não tem regra, você só sente e sabe, ás vezes não sabe, e tem a vida inteira para evoluir, afinal quem para de evoluir é corpo morto e alma vazia. 
     Só eu sei o que é superar minha depressão sozinha sem nem mesmo entender, explicar e nem mesmo preciso desse diagnóstico, na verdade eu só uso essa palavra para você entender mais ou menos do que se trata, porque vamos combinar que está bem banalizado. Recolher cada pedacinho meu com muita força, força que nunca tive, mas que me fiz ter, me reconstruir por inteira e me tornar ainda melhor do que um dia poderia esperar de mim mesma. Quando nada mais fazia sentido, quando não tinha mais luz, quando tudo era cinza e sem energia, tudo em câmera lenta e os dias iguais e intermináveis, a gravidade me puxava e era uma gravidade de tanta tristeza, que quase não era nada. O nada era o que me preenchia. Uma obsessão imensa de se questionar e se prender em sentidos que tinham caído por terra.  Mesmo assim, dia após dia, com muita força você se erguer e lutar por você. Você levantar da cama,  você não chorar, você procurar sentido, você procurar algum sentimento bom, algum sorriso ainda perdido em minha alma.
     Hoje, me agradeço e me orgulho de não ter desistido de mim e ter feito tanto por mim. Hoje entendo que minha teimosia já me trouxe muitas brigas, mas é ela que me sustenta sendo eu. É ela que me dá coragem de não aceitar engolir aquilo que querem que eu engula. É ela que me faz fixar meus sentidos de vida, senão tudo desmorona. É ela que me faz lutar cada dia pela minha subjetividade e meus valores. É ela que me faz ter força para encarar de peito aberto aquilo que eu preciso aprender. É ela que encara a minha dor comigo criando um futuro melhor e acreditando nos meus sonhos. Espero continuar fazendo mais e mais buscando quem eu quero ser quando acordo. Me refazendo, me destruindo um pouco ali e recomeçando um pouco aqui. Hoje, não há dor que não doa sem me doar algo bom em troca. Hoje, não há nada de mal que não me venha com uma lição. Hoje, não há sofrimento que seja inimigo. Hoje, não há melancolia que eu não desmelancolize. Hoje, me olho no espelho e sei o quão forte e corajosa eu sou. Quanta força de vontade por mim tenho e como meu caminho comigo mesma me motiva a continuar na descoberta de oceanos e universos dentro e fora de mim. Hoje, sei que no meu jardim as flores não só não mais viram pó, como tem espaço para todos os cheiros e cores. - Luísa Monte Real