Pesquisar

História pra contar




     É nos detalhes que a gente muda. É nos detalhes que desvenda o que parecia não estar ali. É nos detalhes que se desnaturaliza o banal. É no bordado, é na costura dos retalhos. É aonde não se vê. É naquilo que ignora e que pensa não valer a pena. É naquilo que se esquece, que se tropeça. São nas pequenas escolhas que escolhemos sem saber, ou que não olhamos como escolha, mas como destino, acaso, azar, sorte ou condenação. É naquilo que pensa ser imutável pela sua grandeza que não se sabe que é um pequeno movimento para desequilibrar e quebrar algo tão pesado. É o peso que escolhemos carregar acreditando que foi o outro quem nos deu a carga. É a carga que escolhemos carregar sem deixar em algum destino senão nossas próprias costas. É a culpa, é o fardo, é a cruz. É a guerra que insistimos em lutar com o outro quando nosso maior inimigo é aquele que te olha no espelho. É a guerra que a gente compra pra não vender, porque vencer significaria resolver, mudar e seguir em frente. E seguir em frente significa abrir mão de um sofrimento conhecido para o desconhecido. Abrir mão de uma história, de uma marca. É se descobrir, ficar nu, para que um outro véu possa ser costurado... Haja paciência. Haja força. Mas trocar o casco é sempre melhor. 

    Um verdadeiro escritor não é aquele que constrói histórias, mas aquele que destrói as palavras. Aquele que desinventa para surgir aquilo que é novo, aquilo que nunca foi dito ou até mesmo nem é possível de se dizer. É aquele em que julgamento não cabe, e assim muito menos sentidos. Somos contradição. Somos desespero por esperar. Despresentes por querer presentear. E desprevenidos por querer previnir. Somos falhos, mas só porque acertamos. Nós escolhemos todos os dias a história que queremos contar de nós mesmos, não só para os outros, mas qual a mentira que eu conto para eu mesma acreditar? - Luísa Monte Real