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Quem é que vem?


    




   Tá todo mundo partindo, tá todo mundo chegando. Tá todo mundo rindo, tá todo mundo chorando.Tá todo mundo sentindo, tá todo mundo amando. Tá todo mundo descobrindo, tá todo mundo odiando. Tá todo mundo quebrando corações, tá todo mundo juntando os pedaços. Tá todo mundo nem ligando quem é que vem, quem é que sai, quem é que volta. Tá todo mundo. Não é só você, é inclusive você. Não é só ela, é inclusive ela. Lá vem ela, quem é ela? Gabriela. Tá-tá-tá faz o novo barulho do relógio, já não se tem tempo pra tic-toc, acelera. Dor de cabeça, tudo girando. Sensação de querer cair, mas não ter onde. Procuro e não acho, não era aquele ditado que dizia... O que é que dizia mesmo? Esqueci. Só não me esqueci de quem quero esquecer. Que sufoco sufocado pela falta de sufocar. O barulho, a obra, o caos. Tá todo mundo no cais. Esperando o Sol nascer para ver o que é que traz. Se é que traz e não leva...


      Tá todo mundo, e talvez essa seja a condição da vida, se encontrar e depois desenrolar o nó em que certas vezes se arrebenta, e que tantas vezes nem existe, só na minha cabeça, bom nesse lugar existe, se for um lugar... Tá todo mundo sofrendo uma dor que não é só sua, que não é só minha, que também não é de todo mundo, nem é de ninguém. Então é de quem? Tá todo mundo com medo de ficar nua. Tá todo mundo vestido. Tá todo mundo se escondendo em palavras. Tá todo mundo mudo no grito da revolução. Tá todo mundo merecendo, todo mundo sendo vítima daquilo que não se responsabiliza. Tá todo mundo apontando, apertando o gatilho e surtando o surto de quem não fez. Quem é que não tá? Só quem já esteve e quem estará. Mas só não está, quem é que vem? 

       No fim, todo mundo está dormindo em um sonho que não se quer acordar. A realidade. Muros que levantam e não tem a pretensão de cair, mas sustentar. Tá todo mundo sorrindo um sorriso que não te pertence, e quem foi que disse que sorrir significa ser forte? Significa no máximo fingir, esconder, o bem estar é só de quem vê. Bem estar... Tá todo mundo sem falar. Esqueceram que o calar também diz. Rejeitar não é fácil, ser rejeitado menos ainda. Deixar ir, mudar, trocar, arrumar, deitar, viver. Sentir, roubar o beijo, cair no céu molhado da sua boca perdida na minha, nem sei quem foi. Quem é que vai? Quem é que vem? 

A desconfiança de confiar

    


    Confiança não existe sem o risco. Se você não arrisca, você desconfia. Você se preserva. E tudo bem, porque esse texto nem é de autoajuda. Desconfiança pode ser bom, e se for ruim, quem foi que disse que a vida é boa? Confiança é saber que pode quebrar a cara, mas confia que você reconstrói ou até mesmo acha outra. Confiança para mim não é essa coisa de vidro que todo mundo fala, caiu, quebrou até cola, mas fica a marca. Se ficou marca já não é mais confiança, nem nunca foi. Confiança para mim vem de dentro, vem de acreditar. Confiança é para quem tem peito de tentar, mas principalmente, de errar. Entendi que a confiança de que mais preciso só cabe numa relação minha comigo mesma e que o resto é consequência. Entendi que o descontrole é o melhor amigo da confiança, porque quem tanto controla, tanto desconfia, tanto sufoca, e perde o que não se pode ter, o outro. Confiar é o exercício de aceitar que eu sempre sinto que preciso que o mundo inteiro reconheça e goste de quem eu sou, mas saber que isso é o que todo mundo quer, que no final está todo mundo tentando, está todo mundo olhando para o próprio umbigo, inclusive eu. Talvez para variar tentar olhar para outros lados que não o meu deva ser confiar. 
    Confiar é aquela corda bamba entre penhascos em que você anda de olhos fechados, mas se dá conta que nela se encontram tantas outras pessoas que você resolve dar a mão. Permitir que em alguns momentos as mãos não estarão ali e que meu peito se esvazia sem elas, mas talvez isso seja para que eu possa voltar a preencher de uma nova forma. Criar. Reconstruir. Mudar. Talvez confiar seja o melhor amigo da coragem. Entender que a confiança que eu espero não está naquilo que alguém me dá, mas no que eu escolho fazer com cada passo da corda, com cada mão tocada e separada. Talvez a confiança mais difícil de se ter é aquela em que eu não vou me cobrar tanto. A gente pode até mentir pra gente mesmo falando que a culpa é do outro, mas no final quem mais a gente castiga somos nós mesmos. E se eu mesma quebrar minha confiança metendo o pé com tudo dentro do cimento molhado, hei de confiar que a água, o sabão e o esfregão limpam toda a sujeira, ou quem sabe um outro sapato. A confiança não está em fazer tudo sempre certo e acertar nas escolhas, nem mesmo em ser cego e acabar acreditando em coisas tolas. Acreditar que sempre saberemos a verdade é bobagem, é controle, aceitar que não se sabe talvez seja o mais próximo da verdade, e que ser enganado só faz errado o mentiroso que sabe que mente. Mas o pior mentiroso é aquele que mente a si mesmo, que somos todos nós. 
    A confiança está na liberdade de aceitar que fazer escolhas é difícil, mas é o que temos. Mas que, talvez quando você deitar no travesseiro, pode até haver as dores que são inevitáveis, mas há a paz de quem tentou e não deixou o sapato intoxicando e endurecendo com o cimento. Entender que a confiança é uma escolha sua, e que se você não tem, ninguém pode te dar. Sempre te falei isso... E se você não tiver, tudo bem, porque só fica aqui entre nós que confiança 100% já desconfio... Só escolha um passo a dar para encaixar o seu lugar, e desconfiar no seu sentimento de que confiar também tem a sua hora de chegar.