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Dia 6. Escreva como se sentia na adolescĂȘncia

Na adolescĂȘncia era pedra 
Pedra que quebra 
Pedra que rasga 
Que sangra, que cai 
No meio do caminho.

Na adolescĂȘncia era pau 
Quebra-pau 
Pau na mesa 
Pica pau, fura
Embrulha.

Na adolescĂȘncia era dose 
NĂŁo era mole, era dose
Doze doses por dia 
De tristeza, de alegria 
Eu-foria, Eu-faria

Na adolescĂȘncia era coisa 
A coisa coisada 
O negĂłcio da coisa engasgada 
Era coisa dura, era coisa amarrada 
Era a coisa marcada

Na adolescĂȘncia era piso no pĂ© 
O piso do tropeço 
O calo no riso 
A base do pĂ© no piso 
Era o piso como ele Ă©.

Na adolescĂȘncia era mato 
Era um saco, pĂ© no sapato 
des-amarrado, des-mamado 
Era carrapato 
Era cabelo no prato.

Do(r)mingo


      NĂŁo sei porque eu gosto tanto de escrever sobre e no do(r)mingo. Na verdade eu sei, mas Ă© justamente o ponto que desconheço que me faz (re)escrever. É o que me cabe no do(r)mingar. O do(r)mingo Ă© assim, as horas parecem nĂŁo passar, Ă© um dia vazio. Dia de se quebrar e reinventar. Dia que dificilmente se recebe alguma notĂ­cia. O som parece fosco. As cores parecem silĂȘncio. É o dia mais dia que se tem. Aquele dia que Ă© dia. E que a noite jĂĄ Ă© quase segunda... Muitos do(r)mingos por mais lentos que sejam, chega a noite e nĂŁo durmo. Os pensamentos começam a correr e jĂĄ nĂŁo acompanho para tornĂĄ-los sonhos. 
    No domingo tampouco se faz aquilo que se crĂȘ-scer uma grande decisĂŁo, e talvez essa seja a maior liberdade e importĂąncia da escolha, em que vocĂȘ cria, em que vocĂȘ radicalmente escolhe. Diante do vazio que se estende, a criação, o luto, o silĂȘncio, a saudade. É dia de conversar com o estĂŽmago. Gostinho de cafĂ© e cheirinho de fubĂĄ. A fofoca da semana, o segredo do cotidiano. 
      O pĂŽr-do-sol na roupa molhada em que jĂĄ nĂŁo se seca mais nada, ou o dia nublado em que nem chove nem faz Sol. É neutro. O do(r)mingo tem a minha condição natural de nada, de impotĂȘncia e desimportĂąncia, que no meio do cotidiano com tantos sentidos tenho a ilusĂŁo de certeza de caminho. O do(r)mingo Ă© questĂŁo, mas seguir ao vizinho. O outro me diz, o outro me convoca. Deito no braço dela em meus pensamentos, sinto seu cheiro no Sol que abre a janela. O reencontro de algo que nunca tive. Nada como companhias sombrias no do(r)mingo. Que me fazem sombra e me guiam na solidĂŁo, no tĂ©dio, e no desencontro. Os lĂĄbios dela tocam o meu com a preguiça no olhar. JĂĄ Ă© tarde, a janela vamos fechar. No escurinho do do(r)mingo gostaria de me entrelaçar. Me esconder em sua selva e repousar em teu andar.