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Dia 5. Escreva utilizando metáforas para falar de amor

      A primeira coisa que me veio é isto, tem como falar de amor sem ser por metáfora? O amor é o próprio recobrimento. Como falar de algo que é Coisa? E sendo Coisa só pode ser dita por outras maneiras que não a Coisa em si. Como falar do que conheço tanto, que é lá do meu primeiro ser, do meu primeiro poder, do meu mais íntimo, e que por isso, tanto desconheço? Como falar do amor sem que se fale além dele? Como falar do amor sem falar do cheiro? Do sentimento? Das águas? Do voar? Do céu, das estrelas, da Lua?
      Eu viajo sobre tudo e fracasso. Eu falo sobre tudo e ainda assim me sobra. O amor é necessariamente, o resto que a metáfora carrega. O amor corre sobre as palavras. É rio, em que sua palavra lembra riso e suas águas lembram lágrimas. Como falar de amor sem ter asas? Sem partidas e chegadas? Sem portas? Sem gavetas? Sem casa. 

Dia 4. Escreva se inspirando no seu escritor favorito

Clariceando
   
     Ainda bem que eu sou chata por vezes. Às vezes, vezes um, às vezes, vezes dois. Não tem nada mais chato do que ser legal demais, ou chato demais. 

“E eu vou ter que ficar dentro do que é”; 

    Amor demais é ódio. Ódio que exista um outro. É tudo um. Não tem nada mais chato do que tudo um, tudo igual. Não é nem espelho, porque o espelho ainda marca uma diferença, o contrário. Mas parece tudo uma mesma geleca e não tem nada mais chato do que ser geleca. Que sufocante!! Que irritação. Ainda bem que eu tenho o ódio, porque nada pior do que amor que engole, que come, que é imperativo. Ainda bem que eu ainda sou chata e me irrito. Lembro que na pior das hipóteses, eu sou o pior, eu sou só inumana, como diria Clarice: Imunda. Fora do mundo, além do mundo, não-mundo, e extremamente sujo. Aquilo que grita em sua imundice muda. Clarice obrigada por sua pequenez. Pelo seu ódio, por sua esquisitice e falta de paciência. 

“Na verdade eu havia lutado a vida toda contra o profundo desejo de me deixar ser tocada - e havia lutado porque não tinha podido me permitir a morte daquilo a que eu chamava de minha bondade; a morte da bondade humana. Mas agora eu não queria mais lutar contra. Tinha que existir uma bondade tão outra que não se pareceria com bondade. Eu não queria mais lutar.” 

    A resposta que é resposta radical, que não preza pelo entendimento e a caridade, mas pelo corte, pela fala em sua estrutura mais primária de contorno e revelação. Que salta do nada. Do nada, em seu sentido duplo, que agora não sei se é o mesmo. E nossa!! Ainda bem que tem o que não sei. Porque nada mais chato do que quem sabe. Nada mais chato do que quem tem resposta! Que em sua arrogância mais alta é agressiva e precisa destruir o não saber. Que coisa mais chata! Me irrito e me calo, quero ficar sozinha. Ainda bem que tenho minha irritação que é quando me falo que chega! Vai um pouco menos, se retrai, se para. Ah deixa pra lá mesmo! Seja sozinha, me dê esse tempo fala sério, cala a boca um pouco!     
Nada mais chato do que ouvido de pinico e cotovelo que fala. 
     Ainda bem que às vezes as pessoas tem medo, é porque tem lugar que não é seu mesmo e se contente com isso. Que coisa chata... Nem tudo se alcança, quando você vai entender, hein? Nem mesmo a morte escapa, ah esqueci que você é... Esquece. Já vou me calar, porque está tudo muito chato pra mim. E o que vim dizer é que não tenho nada a dizer, porque eu queria mesmo é estar vivendo e sendo chata lá fora com outras pessoas mais ou menos chatas. Aqui tá chato demais! 

“eu me lembro de como o jogo da beleza era bom, a beleza era uma transmutação contínua.Mas com alívio infernal eu me despeço dela. O que sai do ventre da barata não é transcendentável - ah, não quero dizer que é o contrário da beleza, ‘contrário de beleza’ nem faz sentido - o que sai da barata é: ‘hoje’.”.

-Trechos: A paixão segundo G.H. 
—Luísa Monte Real 
Desafio:@ogirassolescrito 

Dia 3. Escreva inspirada em uma música/ escreva uma carta para um amor futuro

Olá alguém, 

     Eu já nem sei mais como que se escreve uma carta, apesar de eu ainda ter o costume de escreve-las.
 Vou começar assim: Tem uma música muito boa pra isso que estou começando a falar aqui, apesar de não fazer ideia do que é. A música é “dear no one” da Tori Kelly. Ela fala sobre a vontade de ter alguém, mas ainda sequer tem alguém específico. É realmente esquisito que a nossa vontade não dependa de alguém, na verdade, parece que a falta move muito mais isso tudo. E ela também fala que gosta de ter o próprio espaço, e que de alguma maneira ela afasta as pessoas... mas ela queria ter uma alma gêmea e essa coisa toda. E ela dedica a música para esse querido ninguém, que um dia virá a ser alguém, no tempo que vier, quando encontrar. 
     Talvez ela já tenha tido alguens, e deixam saudades. Saudades daquele sentimento... de como se sentiu. Às vezes, se pergunta como que seria um casamento, porque ela realmente gosta de tirar seu tempo de silêncio, se habitar um pouco. Ela é da arte. A solidão ronda, mexe, expulsa. Ah! Como as separações moldam a relação. Os espaços, os calados, o não sei dizer... Não te conheço em tudo e isso me faz ficar. Gostinho de quero menos para alcançar alguma coisa. Talvez ela já experimentou isso, mas o outro lado viveu outra coisa... Não deu. O limite falou alto e doeu. E amar é limitar, ela entendeu. Ela quer um amor com limites, cortes, ela com ela, tu com tu, ela com tu, tu com ela. Quantas pessoas... Um relacionamento de dois tem sempre mais alguém habitando. 
    Ela espera ansiosa, a solidão também machuca, principalmente quando as pessoas não acompanham ou se fazem presentes , só parecem fantasmas que já nem sabem quens são quens. Mas ela  já não quer tudo que dá na telha, está cansada disso. O cansaço às vezes é um ponto indispensável. Deixa as coisas bem mais difíceis, ela sabe, ninguém quer ficar cansada oras, nem sofrer... e ela é criticada, as pessoas resistem, falam, falam sem parar... Ninguém parece querer crescer né, muito menos ver que o outro cresce e que essa possibilidade não existe, mas se cria e se escolhe. É fácil pensar que não está nas nossas mãos o que está, e que tudo está rodando entorno dela. Ela quer alguém que a dê essa mão e ela dê a dela. Mas que sobre um espaço entre as palmas porque são mãos diferentes afinal. E em um grande desencaixe, é onde ela quer e pode repousar.

- Luísa Monte Real 
Desafio: @ogirassolescrito 

Dia 2. Escreva sobre a memória mais feliz da sua infância

Era besouro no cabelo 
Era sentar no formigueiro.
Sai correndo pra minha mãe 
Já estava toda em desespero. 
Tira toda a roupa, 
As formigas já estão no meu corpo inteiro.
Era pé de jabuticaba, era pé de amora ,
Era pé de acerola, era pé de pitanga. 
Eram pés
Exploravam todo o mato 
A grama verdinha, a terra durinha 
O mal lavado sapato.
Todo dia era um machucado novo
Se enfia no tijolo 
Toma banho de mangueira e depois se esquenta na fogueira. 
Era tartaruga, era passarinho, era cachorro, era coelho, era rã, 
Era sapo atropelado.
Era lesma, era carrapato.
Lagarta que queima e plantinha dormideira. 
Era o meio do nada, era o meio mais meio. 
Era lugar, e não havia outro. 
Nesse do(r)mingo,
Dia de vazio 
Dia de terreno e deserto 
Dia de dia, 
no seu ponto mais reinventorio e sem graça
Lembro da casa 
Era amarela 
Era morada. 

-Luísa Monte Real
Desafio: @ogirassolescrito

Dia 1. Escreva sobre seu primeiro amor

Amar é feito aprender a (re)ler.

       Meu primeiro amor? Me vem tantas questões. Meu primeiro amor pode ser tão relativo. Teve aquela vez, aos 12 anos, descobrindo um mundo fora de mim, fora da infância. Gosto de fantasia, gosto de Sol e piscina, gosto de pra sempre. Depois a ilusão, a entrada na vida, o maior sofrimento... me perdi em nome de um desespero. Mas também teve antes disso, aqueles primeiros amores, da minha família, ou mesmo minha chupeta! E ah aquele meu travesseirinho em formato de coração, com cheirinho de camomila que foi tão difícil de me livrar... 

      Depois eu fui crescendo, tive outros amores. Tive um amor bem torto, quase me levou ao primeiro. Acontece que é sempre sobre os primeiros amores, é sempre uma primeira vez. 
      Depois disso, eu fui crescendo mais, descobri que não era nada daquilo! Nossa nada mesmo, talvez tudo não tivesse sido mais que um amor por mim ou sei lá! E ai ingressei numa viagem dentro de mim que me levava tão pra fora. Me levava ao amor, em um mar de revelações, um mar azul de vida e cheiro de alegria. Era ela. 
      Primeiro amorela. E foi doce, foi com gostinho de quero mais, é isso. E quanto mais eu cresço, a cada pessoa que eu passo e acaba por terminar é a sensação de primeiro amor. E de fato, aprendi a amar. É que eu posso estar errada, às vezes amor não tem a ver com amar. 

     Amores tive alguns, amorelas tive outras, mas amar eu sempre perco como se faz. Sempre me escapa em um momento. Infelizmente não é como andar de bicicleta, é como... ahn é como... Não sei. Talvez a ler? A cada livro é uma maneira de ler. É preciso se adentrar no livro. É uma casa que não é sua, mas se faz. E se acomoda, e se incomoda. E sai, e entra. Amar é feito aprender a (re)ler. 

-Luísa Monte Real 
Desafio: @ogirassolescrito