Notas sobre uma poeta em mim
Blusa da Taylor Swift: proud member of the tortured poets department.
A cena fantasmagórica é algo que me cativa, o Infamiliar de Freud, as letras angustiadas de Taylor Swift, O terror de Allan Poe, um quartinho esquecido de Elena Ferrante. “A sombra do objeto recaiu sobre o eu” diz Freud.
Vestígios, lutos, fragmentos de amor, sempre o amor… e uma porta entreaberta.
O amor, essa coisa que rapidamente pode virar estranhamento completo.
Um quase.
A sombra, o fantasma, um outro de mim que conheço e desconheço outro tanto. Um espelho quebrado com palavras que cortam.
Ser escritora é assombrar-se com o que se escreve, pois o dedo é mágico e há algo de “ser” que implica um “não ser” junto.
Deixar-se ser sombra para que se diga. Tira-se os ossos e o fantástico torna aparição, abrindo a porta da escuridão. De lá sai o sopro quente que faz bater sem parar todas as portas de uma vez só, até mesmo as que estavam trancadas. O sopro de palavra que sai estourando as lâmpadas dos (in)cômodos, esquecendo de propósito uma piscando para trás.
Uma casa assombrada, em que brilha uma luz, é a alma de uma autora, que acaba por dar voz aos fantasmas, dando-se conta de que ali é e não é algo de si mesma. E o assombro por vezes é maravilha. Surpreender-se é ser roubada de si mesma, onde o ladrão sou eu.
O invasor está do lado de dentro, percebe.
É o instante em que uma vela apaga de repente, o relógio toca o despertador desenfreado até cair, e um pingo de sabão escolhe certeiro flechar o olho. Maldição.
Amaldiçoada por minhas letras ecoando no mundo, saem minhas sombras para fora de minhas janelas e meus olhos, sonhar é horrível, me subestimar é seguro.
**Minha escrita muito marcada pela primeira e terceira pessoa misturadas (e que por vezes insisto em corrigir, mas algo insiste em descorrigir) fala disso que é dentro e fora a um só tempo. Não sei onde começa e termina eu.
Luísa Monte Real Raña
Psicanalista e escritora
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