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Sou retalho de palavras

Adoecer é isso, não saber viver. E não em um sentido moral, deveria ter feito ou não, isso é morar nas ideias, não é como se houvessem palavras que existiam e não foram colocadas, palavras só existem quando colocadas. Não. É justamente quando não permiti que a palavra se fizesse contorno, e nunca me livrando do pavor, o amo e guardo. Não houve vida que desse conta da morte e ela prevaleceu. 
Adoecer é isso, não soube o que fazer com a vida e tendo ela nas mãos atirei para o alto se espalhando, espelhando sem nem mesmo querer saber onde. No outro.
 Adoecer é isso, deixar o trauma que é viver dominar, deixar o mal da vida solto por toda parte, sem adestrar o cachorro agressivo, malvado, mandão, autoritário e cheio de si que vive em mim, sem dar a ele carinho, amor, cuidado, limites, não poupar, guiar, recompor e dar lugar.
 Adoecer é isso, perder as guias, as rédeas, me perder tentando me encontrar, porque o encontro não se tenta, se dá, e a perda não se encontra, se perde. Nesse momento é tudo tanto, transbordando, avassalador, que a falta falta, e não tem espaço para mais nada, “nenhum piu!”. 
Adoecer é isso, nada sobrar além de cinzas. E que talvez curar não seja se livrar delas, mas se fazer Fênix. Talvez agora os restos se (re)façam, costurem pontos, sou retalho de palavras. 

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