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Do(r)mingo


      Não sei porque eu gosto tanto de escrever sobre e no do(r)mingo. Na verdade eu sei, mas é justamente o ponto que desconheço que me faz (re)escrever. É o que me cabe no do(r)mingar. O do(r)mingo é assim, as horas parecem não passar, é um dia vazio. Dia de se quebrar e reinventar. Dia que dificilmente se recebe alguma notícia. O som parece fosco. As cores parecem silêncio. É o dia mais dia que se tem. Aquele dia que é dia. E que a noite já é quase segunda... Muitos do(r)mingos por mais lentos que sejam, chega a noite e não durmo. Os pensamentos começam a correr e já não acompanho para torná-los sonhos. 
    No domingo tampouco se faz aquilo que se crê-scer uma grande decisão, e talvez essa seja a maior liberdade e importância da escolha, em que você cria, em que você radicalmente escolhe. Diante do vazio que se estende, a criação, o luto, o silêncio, a saudade. É dia de conversar com o estômago. Gostinho de café e cheirinho de fubá. A fofoca da semana, o segredo do cotidiano. 
      O pôr-do-sol na roupa molhada em que já não se seca mais nada, ou o dia nublado em que nem chove nem faz Sol. É neutro. O do(r)mingo tem a minha condição natural de nada, de impotência e desimportância, que no meio do cotidiano com tantos sentidos tenho a ilusão de certeza de caminho. O do(r)mingo é questão, mas seguir ao vizinho. O outro me diz, o outro me convoca. Deito no braço dela em meus pensamentos, sinto seu cheiro no Sol que abre a janela. O reencontro de algo que nunca tive. Nada como companhias sombrias no do(r)mingo. Que me fazem sombra e me guiam na solidão, no tédio, e no desencontro. Os lábios dela tocam o meu com a preguiça no olhar. Já é tarde, a janela vamos fechar. No escurinho do do(r)mingo gostaria de me entrelaçar. Me esconder em sua selva e repousar em teu andar. 

2 comentários:

  1. Me deparo com a perguntinha no final,
    E ai? O que você sentiu ou pensou?
    Pensei na paixão, nos desencontros, no arrependimento, do famoso "e se...", e se eu tivesse feito? E se eu tivesse tentato? E se fosse diferente? E se as decisões fossem outros? A eterna angústia de viver, estamos condenados a isso. E me volta novamente a paixão que se foi, a dor e o vazio.

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  2. Muito obrigada por dividir teus sentimentos aqui!! Se escrevo é para que a gente possa estar junto por meio das dificuldades da vida e fazer dela algo mais bonito e suportável

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E ai? O que você sentiu ou pensou?