Pesquisar

A desconfiança de confiar

    


    Confiança não existe sem o risco. Se você não arrisca, você desconfia. Você se preserva. E tudo bem, porque esse texto nem é de autoajuda. Desconfiança pode ser bom, e se for ruim, quem foi que disse que a vida é boa? Confiança é saber que pode quebrar a cara, mas confia que você reconstrói ou até mesmo acha outra. Confiança para mim não é essa coisa de vidro que todo mundo fala, caiu, quebrou até cola, mas fica a marca. Se ficou marca já não é mais confiança, nem nunca foi. Confiança para mim vem de dentro, vem de acreditar. Confiança é para quem tem peito de tentar, mas principalmente, de errar. Entendi que a confiança de que mais preciso só cabe numa relação minha comigo mesma e que o resto é consequência. Entendi que o descontrole é o melhor amigo da confiança, porque quem tanto controla, tanto desconfia, tanto sufoca, e perde o que não se pode ter, o outro. Confiar é o exercício de aceitar que eu sempre sinto que preciso que o mundo inteiro reconheça e goste de quem eu sou, mas saber que isso é o que todo mundo quer, que no final está todo mundo tentando, está todo mundo olhando para o próprio umbigo, inclusive eu. Talvez para variar tentar olhar para outros lados que não o meu deva ser confiar. 
    Confiar é aquela corda bamba entre penhascos em que você anda de olhos fechados, mas se dá conta que nela se encontram tantas outras pessoas que você resolve dar a mão. Permitir que em alguns momentos as mãos não estarão ali e que meu peito se esvazia sem elas, mas talvez isso seja para que eu possa voltar a preencher de uma nova forma. Criar. Reconstruir. Mudar. Talvez confiar seja o melhor amigo da coragem. Entender que a confiança que eu espero não está naquilo que alguém me dá, mas no que eu escolho fazer com cada passo da corda, com cada mão tocada e separada. Talvez a confiança mais difícil de se ter é aquela em que eu não vou me cobrar tanto. A gente pode até mentir pra gente mesmo falando que a culpa é do outro, mas no final quem mais a gente castiga somos nós mesmos. E se eu mesma quebrar minha confiança metendo o pé com tudo dentro do cimento molhado, hei de confiar que a água, o sabão e o esfregão limpam toda a sujeira, ou quem sabe um outro sapato. A confiança não está em fazer tudo sempre certo e acertar nas escolhas, nem mesmo em ser cego e acabar acreditando em coisas tolas. Acreditar que sempre saberemos a verdade é bobagem, é controle, aceitar que não se sabe talvez seja o mais próximo da verdade, e que ser enganado só faz errado o mentiroso que sabe que mente. Mas o pior mentiroso é aquele que mente a si mesmo, que somos todos nós. 
    A confiança está na liberdade de aceitar que fazer escolhas é difícil, mas é o que temos. Mas que, talvez quando você deitar no travesseiro, pode até haver as dores que são inevitáveis, mas há a paz de quem tentou e não deixou o sapato intoxicando e endurecendo com o cimento. Entender que a confiança é uma escolha sua, e que se você não tem, ninguém pode te dar. Sempre te falei isso... E se você não tiver, tudo bem, porque só fica aqui entre nós que confiança 100% já desconfio... Só escolha um passo a dar para encaixar o seu lugar, e desconfiar no seu sentimento de que confiar também tem a sua hora de chegar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E ai? O que você sentiu ou pensou?