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Filme Inimiga Perfeita: O retorno do recalcado Texel Textor

PARTE 2 





Ela se apresenta pelo nome em um dos primeiros momentos do filme. Nomeando sua função. Ela diz para Angust o significado e a origem de seu nome: seu nome Textor significa palavras entrelaçadas, aquela que tece textos. Isso já me chamou bastante atenção, por eu estar trazendo tantas analogias aqui sobre a escrita e a costura. Mas o que ela vem mostrar é que muito mais do que tecer uma narrativa, ela veio destecer, fio a fio. Aqui é interessante lembrar a afirmação de Lacan que o inconsciente é estruturado como linguagem, em uma cadeia de significantes, Textor vem revelar a nós, amarrações de histórias. 

Texel se apresenta falante, fala sem parar, como muitos no início de uma análise. Uma pessoa meio confusa, inconveniente, persuasiva, já chega com o pé na porta, insistente quanto a pulsão. Ela escoa, ela aparece de alguma maneira assim como o Retorno do Recalcado. De início ela é essa que gera incômodo, mas a gente deixa entrar porque não quer ser rude, não quer constranger. Deixamos entrar por uma distração de não reconhecer aquilo que não sabemos que sabemos. O sujeito do inconsciente aparece em uma análise por essas brechas, onde sua fala vazia peca, sem que este dê muita importância muitas vezes. E Angust deixa ela entrar, muito mais que em seu taxi, mas em seu íntimo. Mas também é justamente isso que de certa forma o filme (de maneira brilhante e perspicaz) e Texel Textor causam: desejo de saber. Em um discurso histérico muito bem estruturado, você se vê nas teias, nos emaranhados e tecidos de desvendar, te seduz. E ela faz isso com o personagem, e é isso que de início uma análise tende a causar. 

 Há uma maquete no aeroporto em que ficam aparecendo pontos de sangue como se algo de ruim estivesse próximo de ocorrer, e é aí o filme tem um jogo interessante entre presente, futuro e passado. Assim como o fio do desejo passa por essas camadas do tempo. Vai dando um ar desse medo de que algo ruim está prestes a acontecer, denunciando ao mesmo tempo, que algo criminoso já aconteceu. Isso retorna enquanto um fantasma. Essa ideia de crime é muito bem colocada no filme, e me fez pensar sobre como o crime junto da culpa também nos constitui, aponta para algo universal (o Incesto e o parricídio), e o quanto Texel Textor revela coisas nojentas, assustadoras de sua história, e Angust se vê enredado pelas palavras dela por acreditar que em algum momento ela terá algo a dizer sobre ele, ele se identifica, ainda que sem saber porquê. 

Ele parece não querer saber, mas parece inevitável cair na armadilha dela, não dá mais para fugir, não dá mais para negar. E ele pergunta para ela “você estava na minha palestra?” Como se dissesse: você está me perseguindo, você me conhece, mas eu não te conheço, quem é você? O medo de que isso o mate, é isso que se mostra na clínica: o medo saber a verdade, saber é sentido como um medo da morte, porque de fato tem a ver com uma certa castração, uma certa morte e perda de si, a finitude e a impossibilidade de realizar seus desejos mais íntimos e destrutivos. 

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