E aí, você não foi, né? Você
ficou, mas você não era você. Não sei ao certo quem era essa pessoa, mas ela me
torturava fazendo-me procurar naquelas palavras vazias um rastro daquilo que eu
amo em você. Eu sei que você ainda está aí, que você ficou, que você ainda é o
mesmo. Você não me permite te ver, tocar nem sentir. Você colocou essa máscara
que eu já conheci outras vezes, mas parece que ela ficou grudada em seu rosto
dessa vez e você não está disposto a tirar, e quem sou eu para querer saber
como você deveria agir? Só queria que explicasse e que eu pudesse ajudar, seja aconselhando,
ouvindo ou até mesmo me afastando se você pedir. Parece que ela está te
protegendo de algo. Eu queria que você se sentisse confortável o suficiente
para conseguir enxergar isso, e então conseguir tirá-la, pelo menos para mim,
eu nunca te julguei, mas talvez você só esteja sendo cruel consigo mesmo e eu
nem tenha nada a ver com isso.
Parece que ela te cegou, te tapou, não foi? Eu
sei que você ainda existe por trás disso tudo e por isso não desisto de você,
sei o que sente por mim e sei o que somos, irmãos, não é?! Pelo menos, era o
que você dizia, era o que você dizia que eu tinha me tornado..., mas eu avisei
que se você não se apressasse de ir embora ou tirar a máscara eu que ia, não
avisei? Desculpa, já estou farta, você me machuca. Então é isso, eu que fui de
vez dessa vez. Não, não desisti de você. Desisti de encarar essa máscara que me
dói, essa máscara que me assusta, essa máscara que me manipula a achar que te
perdi, a achar que você não me ama mais, que cansou de mim, que mudou. Um jeito
frio, grosseiro, que incomoda, mas nunca pega as malas e vai embora. Desisti de
olhar para ela e imaginar o que sangra atrás dela. Meu amor, eu vou estar aqui
se precisar, mas estou indo agora. Nunca deu certo ajudar quem não quer ser
ajudado. Eu sei que as coisas que te disse pegaram no seu orgulho, mas fala
sério, eu só digo aquilo que é preciso encarar para se ajeitar, para arrumar,
eu te dei tantas chances... com você é tudo tão pisando em ovos. Por que tão
mimado? Você não cede, e então me perde.
Só por um tempo, prometo... a máscara te
fez esquecer que o silêncio incomoda, mas talvez necessário quando as coisas
não vão bem, né? Não sei, você diz sem dizer, corta sem encostar. E por isso eu
que estou iniciando ele, tentei iniciá-lo sem avisar, de maneira sutil e leve,
mas não deu certo, a máscara te diz para sair, mas você volta, é uma briga
interna que quem vira o alvo sou eu. Então aqui estou eu, te dizendo que estou
indo embora. Talvez um até logo e sinceramente, espero que até logo.
Por favor, tente entender que é para o
nosso bem. Vamos só nos afastar, tudo bem assim? Talvez eu volte para verificar
se resolveu se livrar dela. Talvez você volte para me avisar. Não faz assim,
não finge que tanto faz, não me ataca só porque quer que eu fique. Ou se impõe e
diz o que quer, ou deixe-me ir sem me ferir. Tente se entender, tente enxergar
que você me suga, se coloque no seu lugar ou mesmo, no meu. Estou indo não porque quero, e nem estou indo
embora de você, mas acredito que continuarei me conectando com você pelas
nossas sintonias que sempre foram mágicas, espero que você as sinta também, não
sei quão profundo você está de você mesmo para receber. Tenho que acreditar que
ainda te recebo por telepatias, estar aberta a te receber por outras vias com
carinho e amor, porque assim então, você está no seu lugar de sempre, perto. E
mesmo se o tempo dessa ida seja tanto que um dia você chegue a se aprofundar e
se afogar dentro de mim, o que temos é intenso e pode ser trazido à tona em
qualquer instante se permitirmos, eu sei disso, porque o vazio é insubstituível
e a gente se fez dele. Te sinto perto e te levo comigo na mente, alma, espirito,
o que quiser chamar, mas deixo seu físico tomado pela porcelana envenenada de
sua máscara, ou se é que assim a inventei para não encarar que talvez esse seja só o seu
novo eu, tanto faz. Enquanto não descubro, fora me esqueço de ti e dentro, só te sinto
muito.
Fim
- Luísa Monte Real