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Dia 4. Escreva se inspirando no seu escritor favorito

Clariceando
   
     Ainda bem que eu sou chata por vezes. Às vezes, vezes um, às vezes, vezes dois. Não tem nada mais chato do que ser legal demais, ou chato demais. 

“E eu vou ter que ficar dentro do que é”; 

    Amor demais é ódio. Ódio que exista um outro. É tudo um. Não tem nada mais chato do que tudo um, tudo igual. Não é nem espelho, porque o espelho ainda marca uma diferença, o contrário. Mas parece tudo uma mesma geleca e não tem nada mais chato do que ser geleca. Que sufocante!! Que irritação. Ainda bem que eu tenho o ódio, porque nada pior do que amor que engole, que come, que é imperativo. Ainda bem que eu ainda sou chata e me irrito. Lembro que na pior das hipóteses, eu sou o pior, eu sou só inumana, como diria Clarice: Imunda. Fora do mundo, além do mundo, não-mundo, e extremamente sujo. Aquilo que grita em sua imundice muda. Clarice obrigada por sua pequenez. Pelo seu ódio, por sua esquisitice e falta de paciência. 

“Na verdade eu havia lutado a vida toda contra o profundo desejo de me deixar ser tocada - e havia lutado porque não tinha podido me permitir a morte daquilo a que eu chamava de minha bondade; a morte da bondade humana. Mas agora eu não queria mais lutar contra. Tinha que existir uma bondade tão outra que não se pareceria com bondade. Eu não queria mais lutar.” 

    A resposta que é resposta radical, que não preza pelo entendimento e a caridade, mas pelo corte, pela fala em sua estrutura mais primária de contorno e revelação. Que salta do nada. Do nada, em seu sentido duplo, que agora não sei se é o mesmo. E nossa!! Ainda bem que tem o que não sei. Porque nada mais chato do que quem sabe. Nada mais chato do que quem tem resposta! Que em sua arrogância mais alta é agressiva e precisa destruir o não saber. Que coisa mais chata! Me irrito e me calo, quero ficar sozinha. Ainda bem que tenho minha irritação que é quando me falo que chega! Vai um pouco menos, se retrai, se para. Ah deixa pra lá mesmo! Seja sozinha, me dê esse tempo fala sério, cala a boca um pouco!     
Nada mais chato do que ouvido de pinico e cotovelo que fala. 
     Ainda bem que às vezes as pessoas tem medo, é porque tem lugar que não é seu mesmo e se contente com isso. Que coisa chata... Nem tudo se alcança, quando você vai entender, hein? Nem mesmo a morte escapa, ah esqueci que você é... Esquece. Já vou me calar, porque está tudo muito chato pra mim. E o que vim dizer é que não tenho nada a dizer, porque eu queria mesmo é estar vivendo e sendo chata lá fora com outras pessoas mais ou menos chatas. Aqui tá chato demais! 

“eu me lembro de como o jogo da beleza era bom, a beleza era uma transmutação contínua.Mas com alívio infernal eu me despeço dela. O que sai do ventre da barata não é transcendentável - ah, não quero dizer que é o contrário da beleza, ‘contrário de beleza’ nem faz sentido - o que sai da barata é: ‘hoje’.”.

-Trechos: A paixão segundo G.H. 
—Luísa Monte Real 
Desafio:@ogirassolescrito 

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