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O Universo Ela


    Ela, que se voar bem alto não vou impedir, e que se eu não alcança-la, meu coração vai. Ela, que se for embora, vou chorar de saudade, torcendo para que seja ainda melhor que agora. Ela, que prefiro que a dor dela doa em mim do que nela. Ela, que eu quero que suba bem alto e todos possam ver quem é ela. Quem é ela? Falo "ela" porque pessoa é no feminino. Hoje, pouco me importa a matéria que ela se esconde e se apresenta. Hoje vim falar dela como gente, mas mais do que isso, como alma. Que alma! Se tirassem seu corpo não faria falta, porque ela é tão mais... Ela é tão mais profunda, além. O corpo dela é como a terra em um Universo inteiro. Importante, mas não diz tudo. Ela é Universo. Um Universo que eu entrei e nunca fiz questão de achar a saída. Aconteceu tudo tão naturalmente que parece que já estava escrito. E talvez estivesse. Os anos passam, mas todo dia que a vejo é como se fosse o primeiro, porque sei que ela sempre tem alguma coisa para eu conhecer, me ensinar, me inspirar. Eu danço pelo Universo dela sempre com muita sede de descobrir e ajeitar o meu próprio. Se encontrar qualquer coisa fora do lugar, quero ser quem escuta sobre aquilo para que ela possa arrumar ou desarrumar do jeito dela. O jeito dela...Ela é doce. Pensa numa pessoa doce. Ela é. Ela tem os olhos mais sinceros para o mundo. Ela enxerga cada pessoa além do que está ali, porque ela sabe que ela é muito além, ela se criou para ser e assim, consegue saber que todas as pessoas têm seu próprio além, mesmo que muito escondido. E aprendi isso com ela, muito tempo atrás, ainda pequena. Porque por muito tempo meu Universo ficou ecoando no vazio e eu só via minha dor e nada mais que corpos a minha volta. Ela me ensinou coisas sem precisar explicar, sem precisar querer, só por ser. Ela me ensinou a tirar os olhos de mim mesma. Ela é doce e vai colocar um pouco do açúcar em seu coração. Não precisa se preocupar porque ela sabe a quantidade certa para não te dar diabetes. Ela vai te olhar com calma e te sorrir com a alma. Ela vai andar de bicicleta com você e tirar as rodinhas se ela ver que tá na hora de você ir. Ela vai amar você mesmo se você cair, talvez ela até te ame mais ainda depois de te segurar. Ela é o tipo de pessoa que te dá dois tapinhas nas costas para você seguir, mas aparece na sua frente para te pegar se tropeçar. Depois, ela vai te falar o que tem que ser dito porque ela sabe que o melhor é te colocar na realidade e lutar por ela. E ela luta, porque ser ela é ser leve, mas custa esforço, foco e nunca se abandonar. A voz dela é livre de armas, mas lança segurança e calma aos teus ouvidos. Ela é boa. Ela é forte e faz de tudo para se cuidar e para cuidarem dela. Ela carrega dores como qualquer outro, ela carrega defeitos, ela carrega dificuldades. Ainda bem, porque assim ela pode sempre se superar e ganhar coragem. Devagar, porque a pressa é inimiga da perfeição. E uma vida perfeita é uma vida sem mais sentidos ou um sentido tão grande quanto a ilusão. Ela é inteligente para os padrões da sociedade e para os foras dos padrões. Ela faz contas e expressa suas artes. Ela repete fórmulas e racionaliza filosofias. Afinal, não sabemos desde quando exatas virou algo mais racional do que humanas, se humanas também existe, e muito, o pensamento? Material ou imaterial? Ela gosta dessas discussões de virar a cabeça e o mundo de cabeça para baixo, ou de ponta cabeça, como preferir. Ficaria horas tentando entender o mar de estrelas e o céu de ondas. Ah e não poderia esquecer de uma das características dela que mais me ganhou. A graça. Ela tem esse jeito bobo, idiota e inocente de ver graça em tudo. Fazer piada quando não deve. Rir sempre e até quando não pode, aí é que dá vontade de rir mesmo. "De todos os loucos do mundo eu quis você, porque a sua loucura parece um pouco com a minha.". Essa loucura de brincar e não morrer nossa criança.


"Eu que aprendi a ser criança depois de adulto
Eu deixei de pertencer
Ao grupo seleto dos que se comportam muito
Enxugo as minhas frustrações
E me sinto muito mais enxuto
Junto com você
A vida dá ré e eu volto a ser o que eu era com você
Eu que aprendi a ver o mundo através dos seus olhos
Encontrei a cor exata da felicidade
Que invade meu viver
Nem sei quem era antes de você". - Mar Aberto

  Deixa eu ser sua e por favor, seja minha. Assim, desse nosso jeito livre de querer e amar sem precisar de forma angustiada e faminta. Desse jeito de ser nosso, mas de abrir para o mundo e se joga! Se joga porque o mundo precisa te ter, minha pequena. Deixa eu te carregar se precisar. Entra na minha casa que você já é daqui. Passa aqui e toma aquele sorvete com nuttela que você ama! Ah, e com brownie? Deixa eu te abraçar e te falar coisas profundas que a gente tem aquele nó na garganta de dizer pessoalmente porque expõe nosso Universo. Deixa eu te dar meu sorriso com meu jeito de unicórnio, país das maravilhas numa 2ª dimensão (hahahah). Deixa eu ser um Universo dentro do teu.

Rima louca é Rap


  Antes de te conhecer o rap era como sua tatuagem debaixo do peito arranhada na costela, sem sentido, fútil e modinha. Não entendia, você não gostava de inglês e nem tão religioso assim.
Preconceito.
Revolução.
Arte.
Alma.
Corpo.
Dor.
Beleza.
Profundidade.
  Depois de te olhar mais afundo, fez sentido e me mergulhei no seu espírito escondido. Anos atrás, eu estava na estrada viajando para longe. Você me apresentou o rap. Como num clipe me imaginava e me sentia em câmera lenta. Eu sentia cada batida percorrendo minha pele, arrepiando meus pêlos.... a voz rouca quase sussurrando seguindo a onda da batida me faz delirar, até ir pra outro lugar. Adentrando, começava a pulsar no meu sangue até bater em meu peito. Sentia-me viva. Poderosa. Dançava no ritmo da música e ainda em câmera lenta. Mexia nos meus cachos macios, castanhos e rosas enquanto movia a cabeça. Fechava os olhos. O som estourando meus ouvidos. Era como fazer amor com a música. Viciante e não quero parar. Era como se drogar. Já diria Ari, a droga do amor. E amor era o que eu fazia e a droga, o rap. Como diria Don L com Flora Matos, vem curtir comigo, na rua eu sou bandido mas aqui amor, sou doce como licor. Arde. Eu jurava com os pés na sacada que eu podia soltar meus pés e flutuar. Era incrível a sensação de não existir tempo e tudo ficar mais lento.
Mais intenso.
Mais denso.
Cadê meu ar?
Vontade de gritar a letra pra entrar pelos ouvidos do mundo e fazer todo mundo entrar no nosso êxtase. 
O mundo parar para escutar.
Para se curar.
Se livrar.
Se encontrar.
"O futuro terá cura. O futuro é literatura."
Mais uma vez o rap falando, rapper Froid ensinando.
Conforme o tempo passava, mais eu queria e minha visão mudava.
Entendia que rap se aprende a ouvir.
Entendia que rap é poesia.
Com o tempo, fui me adaptando e conseguindo captar as letras e aí foi quando me perdi.
A letra condizia com as questões da minha alma.
Quebrava preconceitos.
Tapa na sua cara.
Caí no chão.
Me levantei mais forte.
Paulista ou carioca, escolha pela sorte.
Quem dera eu saber fazer umas rima, tá ligado?
Falar mais rápido
Tu tá ligado, parceiro?
Esse é o ponto certeiro
Nem sei se foi coincidência ou obviedade, mas foi tu quem me ensinou minhas verdades.
Amar (e) o rap, como preferir.
Não vamo discutir.
Tu sabe.
Esse jeito malandreado que não cabe.
Tão mal interpretado, tão mal falado
Mas é aquilo né,
O desconhecido incomoda.
E se tu não tá na fila,
É melhor tu dar a volta.
Me fez crescer, me fez quem sou
E continuo dando uma de louca no metrô.
Talvez eu não soubesse ficar quieta.
Sabe qual é?
Eu gosto mesmo de dar uma de esperta
Poeta
É que meu corpo é minha alma.
Calma?
Ficar quieta pra quem?
Ficar quieta pra que?
Eu te digo, eu prefiro ser louca do que desviver.
Vai, pode rir de mim,
Eu te acompanho,
Não existe alguém que ri mais de mim quando apanho.
Agora fica quieto.
Deita aqui no meu colo,
Vamo escutar aquele rap que um dia era nosso.
Dias atrás... Esse tempo já era.
Pela última vez,
Por tudo te agradeço,
Só não fique contando com a minha espera.
E fico nessa de
Eu.
O rap.
A rima.
A sina.
Você. - Luísa Monte Real

De Bem a Melhor

                                       

    E hoje é um daqueles dias em que eu acordo com o coração sereno. Aqueles dias que sinto que estou no caminho certo, mesmo sabendo que ainda tenho muitas batalhas para superar. É um daqueles dias que não sinto pendência nenhuma com você. Que me sinto com o dever cumprido e meu coração esbanja gratidão por ter vivido tudo que vivi com você. Que sinto que ambos fizemos nossos papéis na vida um do outro e precisamos nos libertar, para reconhecermos a nós mesmos de volta, para que possamos nos desprender dessa dependência de não saber o que é viver um sem o outro, para se querer de novo. Para que a gente possa preencher o que foi desgastado, para que a gente pare um pouco de se doar e possa se dedicar ao nosso amor próprio. Um daqueles dias que sinto uma saudade gostosa e fico recordando com muito prazer nossos momentos. Um daqueles dias que me sinto completa de amor e repleta de luz. Que dou aquele suspiro com gosto de valeu a pena. Um daqueles dias que sinto que ambos temos um caminho incrível pela frente e que estamos melhores um sem o outro agora, e que isso não derruba  tudo o que construímos. Um daqueles dias que tenho a certeza de que você também sabe disso nem que só bem internamente. Um daqueles dias que só tenho a te agradecer. Um daqueles dias que parece que todas as borboletas estão voando para fora de mim e as cicatrizes sendo cuidadas. Um daqueles dias que o Sol brilha em minha pele e eu sorrio de volta com o aconchego do abraço quente que a luz me dá. Um daqueles dias que eu paro para pensar e reparar em coisas simples como olhar uma formiguinha levando uma folha verdinha tão maior que ela até seu formigueiro, e ela tem tanto equilíbrio, força e noção do caminho e de onde ela tem que chegar, que me surpreende os seres humanos serem tão distraídos e perdidos. Talvez nós devêssemos olhar mais para as formiguinhas. 
    Um daqueles dias em que respirar não parece apertar meu peito. Um daqueles dias que eu me olho no espelho e enxergo coragem, força e a pessoa que eu gostaria de ser está bem ali na minha frente. Mexo em cada cacho e percebo que perdi um pouco de cabelo com minhas maluquices de pintar colorido, mas que nunca me achei tão bonita de um jeito simples e suficiente. Um daqueles dias que quero sorrir para um(a) estranho(a) na rua e olhar nos olhos dele(a). Já tentou? Sinceramente eu adoro, me sinto conectada, me sinto aqui, me sinto viva e me sinto pessoa sentindo outra pessoa, me sinto igual, nem melhor nem pior, igual. Um daqueles dias que abraço minhas imperfeições e digo "vocês são minhas". Um daqueles dias que relembro minhas qualidades, e por mais que meu caminho seja ser melhor e aprender a cada dia, faz parte reconhecer e valorizar nossa colheita. Um daqueles dias que precisar de alguém ou algo não faz sentido no mundo do amar e ser amada. Um daqueles dias que eu lembro a paciência e calma que aprendi a ter. Um daqueles dias que me amo por inteiro e sinto que há muito tempo não dava atenção a isso. - Luísa Monte Real

Quer achar a água comigo?

      Se não for para namorar você, não quero mais ninguém. É, isso mesmo. Não quero mais ninguém porque qual o sentido de namorar um outro alguém só para não ficar sozinha? Qual o sentido de namorar outra pessoa se é para fingir que você não me afeta mais quando afeta? Qual o sentido de ir namorando alguém e quando eu vejo eu só te apaguei com o passa-tempo e me acostumei com o outro confundindo com aprender a amá-lo? Qual o sentido de namorar se meu coração não está livre para mergulhar de cabeça? Qual o sentido de namorar só pro meu ego se massagear por ser desejada? Meu amor, nada disso faz sentido. Pelo menos não para mim. Amores de verdade não são substituídos, e se for, talvez não era amor, era outra coisa. Não quero relacionamentos como quantidade, e sim qualidade. Não quero uma vida marcada por acúmulos de experiências, quero uma vida marcada com intensidade. E o amor não está no ar, nem em uma fila de espera. O amor é uma construção, é uma escolha, que leva tempo, devagarinho, mansinho, gostosinho, sem que seja percebido, pouco a pouco. E é por isso que não quero mais ninguém. Quero manter esse amor comigo e trabalhar nele sozinha até que sua falta não doa mais. Até que sua falta seja tão presente que eu não perceba e não acorde todos os dias e leve facadas na manhã me lembrando de que não está mais ali. Quero tirar toda essa sujeira até que só sobre o amor da gente e eu entregue esse amor por todo o meu corpo e por onde eu passar. Quero aproveitar os amores que já tenho, o próprio, o da família e de amigos. Até eu estar renovada, limpa e pronta para construir um novo amor como esse com um outro alguém.
  Tem gente que fala eu levo relacionamentos a sério demais, que eu coloco sentimento demais nas coisas, que eu deveria aproveitar, curtir, somar e somar... Somar? Sempre fui ruim de matemática... Mas algo me diz que prefiro somar com coisas que realmente me adicionem na essência. Coisas que realmente me façam aprender, e aprender nunca foi algo a curto prazo, prefiro coisas que demoram, mas que me tocam por dentro do que coisas rápidas, que amanhã só foi mais uma. Eu costumo pensar que lidar comigo, com pessoas e sentimentos é sério demais. Levar algo a sério nem sempre é ser chato, sem graça e pesado, na verdade certas coisas como relacionamentos, sentimentos quando levados a sérios traz muito mais leveza e espontaneidade do que quando tratados como brincadeira... Oh como dá problema. Eu não sei você, mas eu não to aqui pra ser brinquedo de ninguém, nem sustentar ego. Estou aqui para ser intuitiva e realista, trocar sorrisos, me divertir, respeitar, cair, levantar, e amar com muita coragem no peito e brilho no olhar. Se eu não estou pronta para fazer tudo isso sem você, não quero com mais ninguém.
  Eu só conheço meu eu com você, se você não mais está aqui, quero aprender a ser eu novamente. Sozinha, mergulhar em mim como mergulhei em você. Porque eu sou assim, não sei cavar um buraco pensando em cavar  pela metade. Se decido, eu quero chegar até a água. Talvez por imprevistos, por chuvas e ventos, eu não consiga chegar até lá e tenha que recomeçar em outro buraco. Mas não faz mal, talvez chegar na água não seja o mais importante. Tenho em mente que se eu fizer me motivando e acreditando a chegar lá, eu vivo com vontade e esforço cada pá que retira a terra. E tudo bem, meu amor, que eu cavei esse buraco mais do que você, porque agora eu to cansada, mas consciente de que não quero mais você para cavar comigo, e se não quero você, não quero mais ninguém em um buraco que é só nosso. Porque esse buraco, meu amor, eu preciso tapar para que ninguém, principalmente eu, caia. E enquanto eu tapo, mais eu me conheço e junto terra por terra. Até o dia em que tudo possa estar tapado, em que ali nasça uma rosa vermelha e eu comece a cavar outro, olhe, e sinta novamente que se não for pra namorar com você, não quero mais ninguém. E eu olhe nos seus olhos e diga: Talvez a gente encontre o oceano inteiro. Então, quer achar a água comigo?

A minha fala, a sua escuta

    E hoje eu queria o teu aconchego de volta. Correr pra tua casa e dormir nos teus braços. Enxugando  minhas lágrimas em tuas mãos, colocando minhas mechas de cabelo pra trás, franzindo a sobrancelha e me olhando com aqueles olhos gigantes e redondos, castanhos escuro quase pretos, fazendo com que eu voltasse a sorrir. Hoje, eu queria te mandar aquela mensagem falando que preciso de você, e você perguntava o que houve e eu te contava toda minha revolta como uma garotinha mimada e chorona. E você ia me apoiar, e me escutar.... Me escutar. Era o que você fazia de melhor nos meus piores, melhores, pequenos e grandes momentos. Eu descamava todo o meu lado podre para você, e você me escutava. Minha voz nunca soou tão importante como soava em teus ouvidos. Você me escutava e queria escutar, fazia questão, seja lá o que eu houvesse a dizer. E amor, como eu precisava ser ouvida, era só o que eu sempre precisei. Você às vezes ficava angustiado e se sentindo mal por não saber o que me dizer, por não conseguir se expressar da maneira que queria, mas só a sua tentativa, sua voz e o seu silêncio já me eram o suficiente. Você às vezes não compreendia ficava revoltado de primeira, mas logo se calava, eu repetia e você ouvia. Discussão a gente tinha várias, parece que não falávamos a mesma lingua, mas hoje eu queria aquela parte que você se sensibilizava e me amava em um abraço de escuta. Você dizia que você era meu ratinho de laboratório e eu dizia que você também era o meu psicólogo em grandes partes, mas mais do que isso, sempre disse que era meu anjo da guarda. E talvez todos os nossos amigos, aqueles de verdade, sejam, mesmo que tenham ido pra longe como eu fui de você. Em uma tentativa falha, te procuro em ouvidos de terceiros que talvez fossem até melhores que os seus, mas que meu conforto e meu apego me cegam e vão de encontro aos teus. É você que eu quero. Você me escutava tanto que quando eu ficava quietinha era o seu maior incômodo, e pedia pra que eu falasse, e eu amava que pedisse  mesmo que o seu pedido desse continuidade ao meu silêncio.  Preocupado se o silêncio revelava alguma dor que eu pudesse sentir ou talvez até mesmo te revelasse a sua. Nunca vi homem sem reclamar que mulheres falam demais, mas você não se cansava de se importar, nem da minha voz e nem das minhas teorias mais malucas, sonhos mais distantes e dores mais sufocantes. E acho que essa foi a maior prova de amor que alguém já fez por mim, me escutar. - Luísa Monte Real

Mulher


  Sim, sou mulher, felizmente. Sou guerreira com muito orgulho nesse mundo onde o homem vive. Engraçado que ele é animal quando lhe convém, na hora de falar de "instinto" e "impulso", mas na hora de mandar é patrão e muito superior, quase rei. Felizmente sou mulher pra saber das dores e dos erros dessa sociedade. Descobri hoje que eu já sofri muito abuso sim. Nunca fui "piranha", nunca tive um corpo cheio de curvas, nunca usei roupas "indescentes", e se usasse, o problema era de quem? Já sofri diversas vezes como qualquer outra, com ou sem roupa. Engraçado né? Hoje quero contar uma dessas minhas histórias. Nessa história duas pessoas são vítimas. Eu e meu parceiro. Meu parceiro era machista, foi educado assim, sua família era assim, seu grande herói era assim, seus filmes prediletos eram assim, seus amigos eram assim, suas amigas eram assim. Sua insegurança era do tamanho do mundo, sua sede de controle para não sofrer e não fazer sofrer era do tamanho do mundo. Mas eu cheguei, toda feminista, cheia do amor próprio e jeito independente de ser, achando que me controlaria, achando que estava no meu próprio comando. E então me apaixonei. Me apaixonei por meus motivos que não vem ao caso agora. Aos poucos fui descobrindo na prática como era ser dominada por você e você sabia fazer isso tão bem, era inconsciente eu sei, era o jeito que te ensinaram. Ter você tornava-se cada vez mais um vício como qualquer amor e paixão, até você fazer doer, eu abrir meus olhos e eu dar um passo para trás. Ao mesmo tempo você se viciava no controle para conseguir me amar sem se machucar, até me ver chorar e perceber o seu erro, dizer que eu merecia coisa melhor, e me fazer derreter com aquela sua voz de cachorro pidão... Aconteceram algumas vezes até você criar confiança em mim. Mas até lá, muitas lágrimas já tinham rolado, minha autoestima já estava desgastada por tanto controle, por tantas mudanças que tive que fazer para me enquadrar nas regras que você desejava, no tanto que eu me entregava e não recebia na mesma moeda. Eu me perdia em você totalmente, você me fazia acreditar que eu era sempre a culpada e quando o contrário, eu tinha que aceitar que era seu jeito de ser e que eu entrei nessa já sabendo disso. Não estou aqui para crucificá-lo, ele não fez por mal, não era pessoal, eram os problemas dele com ele mesmo se refletindo em mim, era sem pensar, era imaturidade, eram mil e uma razões. Estava esperando ele construir toda sua segurança em mim para então conseguir o relacionamento que eu desejava, que eu merecia. As pessoas veem o relacionamento abusivo como se o homem estivesse realmente pensando em "vamos ter esse tipo de relação com ela", e não é assim, é algo muito mais complexo, é enraizado no homem sem nem mesmo que ele perceba. Não estou defendendo, coloquei minha visão feminista para ele muitas vezes, mas reeducar não é simples assim e por isso venho contar essa minha história. Eu sei, eu tava nessa relação porque quis. Eu sei, pode me julgar, falar que sofri porque quis. Eu sei, pode me julgar e falar que não tive amor próprio, que me submeti, que fui trouxa, hipócrita. Eu sei, eu deixei isso acontecer. Mas a errada não continua sendo eu, de errado e imoral não fiz nada, não sou errada por acreditar, confiar e ir atrás do que eu quero. Nenhuma pessoa merece tal tratamento, nem mesmo aquela que erra com a lealdade, com compromisso. Porque ninguém é merecedor de abuso seja ele psicológico ou físico, ninguém merece ser tirado de sua essência e se sentir desmerecedor de qualquer coisa que há no mundo. Mas deixa ao menos me justificar se você acha que procurei por isso. Sou uma jovem sonhadora que sempre lutou por aquilo que quis, que sempre acreditou que todos merecem uma, duas, três chances, que as pessoas mudam (e isso é verdade porque em um grande tempo ele teve sua confiança em mim e os abusos emocionais pararam nessa época). Eu estava apaixonada e sou uma menina muito inexperiente, queria sentir o sabor de ser correspondida, queria ver as cores do amor. Eu havia me doado completamente, não conseguia ser quem eu era, eu era completamente dependente, e nada mais importava do que conseguir ficar com ele, nem mesmo eu. Não sei explicar como isso aconteceu, sempre me respeitei, aprendi a me amar e joguei tudo fora por ele, nunca havia me abandonado de tal forma. O pior, é que eu sabia. Eu era bem informada. Eu sabia que estava nesse tipo de relacionamento, mas não conseguia sair. Depois de um tempo sem inseguranças quando tudo estava bem, sem brigas nem nada, ele resolveu mexer com o passado e cutucar a fera que estava dormindo. Ele pirou, era um ciúme doentio, ele acreditava com tanta certeza no que tinha em mente que me fez acreditar também e foi a gota d'agua para eu perder minha autoestima, fiquei me sentindo um lixo, uma pessoa negativa que estava fadada a acontecer tudo de errado, que eu só fazia os outros sofrerem. Não, ele não me disse essas coisas, mas me fez senti-las. E eu nunca me humilhei tanto tentando provar quem eu era, me humilhei tanto que nem eu mesma sabia quem eu era, acreditava na versão dele, qualquer coisa que acontecia ou me falavam eu levava como ofensa, chorava por coisas idiotas, levava tudo para o pessoal, desconfiava de tudo de ruim que as pessoas pudessem ver em mim, me sentia nervosa e culpada com coisas como  derramaram o refrigerante no chão e eu falava: "não fui eu." Tudo isso porque já nem sei mais quantas vezes em 4 meses passei o dia na cama chorando por brigas, sem comer, sem vontade alguma de fazer alguma coisa. Não sei como, mas você me sugava por inteiro. Dessa ultima vez meu nervoso foi tanto que cheguei a vomitar, me sentir enjoada e ter dor de cabeça já eram fatos quando brigávamos. Pode até ser que te magoei algumas vezes, mas não foram metade do que fez comigo, me desvalorizava e me desqualificava de uma forma que nunca pensei que alguém pudesse fazer comigo. Ele chegou a ameaçar que se ele voltasse comigo eu ia sofrer, que iria ser do jeitinho dele como se todo esse tempo alguma vez tivesse sido da minha maneira... Ele falava coisas que me faziam acreditar que namorar qualquer outra pessoa era melhor do que eu.  Dizia que seu ciúmes era porque ele sabia exatamente como um homem é por ser um, engraçado que ele nunca tentou ser diferente, né?! Dizia sempre que se quisesse ser corno namorava uma piranha, uma puta. Dizia que eu o fiz de otário. Fazia-me sentir desmerecedora de seu amor, e eu desejava tanto que ele me amasse e enxergasse que eu era diferente de todas suas anteriores. Queria ser especial, queria ser única para ele, e parte de mim ainda espera que eu tenha sido... Ele conseguiu atingir até mesmo o que tenho mais de especial, puro e sincero, a escrita. Cheguei mesmo a me achar a bosta em pessoa, desculpe o palavreado, mas para falar dessa sujeira só o palavrão se encaixa. Ele me fez ter medo dos homens, me fez ter nojo, não queria ser encostada, nem olhada que iria doer, estava em cacos, e você sabe, vidro corta. Toda a insegurança dele que eu quis resolver havia se estabelecido em mim, qualquer passo que ele atrevia fazer virava uma neurose pra mim, um leque de opções do que ele estaria planejando para se vingar, pra me machucar. Completamente irracional, afinal ele nunca havia feito nenhum plano pra me machucar propositalmente. Eu tinha um medo enorme de ser julgada por qualquer pessoa. Foi amor demais por ele e de menos por mim. Sempre prezei muito o amor próprio, mas me encantei em mergulhar de cabeça porque sempre fui tão reservada com medo de amar. A única coisa que me orgulhei de mim foi que a minha força sempre esteve presente, fruto do meu amor próprio, me sentia acolhida por mim mesma nas vezes que terminávamos, e mesmo acabando comigo mesma, em dois dias eu já estava sorridente e com paz novamente. O que eu não sabia era do desgaste que estava vivendo. É que eu mal reformava minha autoestima e já tava dando a ele minha cara a tapa novamente. A minha sorte foi estar ao lado de pessoas guerreiras como eu que sem me julgar me acolheram muito bem, fazendo-me lembrar de quem eu sou e que me amo. Não, não voltarei a ser reservada, nem a desacreditar do amor, o que houve não teve nada a ver com falta de sentimento recíproco, mas também espero que eu nunca mais volte a me abandonar por alguém, não importa o quanto doa ficar sem a pessoa. Gostaria muito que um dia ele lesse essa minha história, mas não sei se ele seria maduro o suficiente para não levar como ofensa e não dizer que eu sou a miss vítima certinha como muitos homens e até mulheres irão dizer. Não quero ofender ninguém nem me colocar como vítima, só mostrar como a educação e a moral dessa sociedade levam uma mulher a se odiar e ter nojo de estar na própria pele, ao mesmo tempo que ensina o homem a domar "SUA mulher". Sou mulher, e fui ensinada a competir com outras mulheres enquanto os homens riem e seus egos são alimentados por tudo isso. Fui ensinada a ter inveja, a querer ser mais que as outras, a achar que todas querem "roubar meu homem" - vamos combinar que ninguém é de ninguém e se ele me trocar a culpa não é da outra mulher, nem minha, é dos próprios gostos e vontades dele -, a achar que existe uma inimizade entre nós, a achar que sou menos se um homem não me quer e se não me enquadro na "santinha, pra casar". Sou mulher, sou guerreira como aprendi a ser, como todas ao meu redor merecem ser. Todas estamos dentro de uma luta contra toda essa coisificação da mulher, um grande número de mulheres ainda não enxergou essa luta e se esconde na máscara de ter que se submeter para satisfazer e agradar o homem. Agora só espero me recuperar com muita força, poder perdoa-lo e a mim mesma, espero guardar somente as lembranças boas dele e levar comigo tudo o que ele me somou, se é que somou algo além do meu próprio aprendizado. Não importa o que aconteceu comigo, não importa a destruição que fizeram aqui dentro, nada disso define quem eu sou, eu sou o que me torno depois disso, eu sou o que escolho ser e até mesmo o que deixei de ser, eu sou reencontro com o eu que perdi. Eu sou amor próprio e amor por aí. - Luísa Monte Real
  

Quem estragou nossa música?

   Por que as pessoas dizem que estraga a música lembrar de alguém que não mais está aqui? Tudo bem, talvez lembrar dela doa ainda e admitir que ainda dói dá uma angustia danada. A cobrança de superar o outro, de ser feliz é tão grande. Mas e dai? Não se cobre tanto. Quem está deixando estragar a música é você, porque sinceramente, uma música boa ligada a um afeto bom não tem como ser melhor. Não destorça uma lembrança boa só porque agora dói não ter a pessoa ou por algum rancor mal resolvido que você tenha com ela. Não esconda a dor debaixo do tapete, abrace ela, ela também precisa de carinho. Você é só uma pessoa e ter sentimentos bons por alguém não tem nada de errado, mesmo que ela só esteja no passado agora, mesmo que ela tenha te decepcionado. Todo mundo erra, perdoe-a. Liberte-se desse apego que te faz estar revoltado por querer tê-la, mas pensa que não deve ou não pode, ao invés disso ame e sinta a música, não perca a magia. Eu acho tão gostoso, é como se eu pudesse sentir ela ali comigo, e tão perto, como se a pessoa dançasse dentro de mim...
  Faz assim olha, feche os olhos, deixa o som alto no seu ouvido, comece a cantar junto com a música... De repente você vai se lembrar dela e vai se sentir culpado, diga: ah que que tem? E sinta tudo aquilo que está aparecendo ali na hora, eu duvido você conseguir parar de sorrir, às vezes até umas lágrimas de emoção começam a cantar pelas suas bochechas. É um sorriso que vem lá da alma que atrapalha até mesmo sua cantoria tão afinada e ritmada. Imagino as curvas de seus ombros, o contorno dos teus lábios, da tua risada de neném e rio no meio da música. Lembro dos seus olhos castanhos escuros de bola de gude destacados por cílios pretos e demarcados com suas sobrancelhas grossas. Tão lindo,  beirando a perfeição vinda dos meus olhares sob teu corpo e alma. Desenhando seu maxilar e seu queixo quadrado em um rosto oval, onde escorrega sua barba escura com falhas loiras que dão o toque de imperfeição mais gostoso que existe. Consigo reviver um mar de emoções que sentia misturado com uma nostalgia que é tão boa. Consigo enxergar que minha raiva não tem lugar ali, quero lembrar de você do jeito que você falou que gostaria de ser lembrado. De um jeito bom, de um jeito que me some, de um jeito que você ainda pulse aqui dentro. Lembro dos dias que cantava comigo, aquela saudade grudada a uma felicidade de ter vivido tudo aquilo com você. Sorte. Sinto-me a pessoa mais sortuda e viva do mundo. Talvez a música seja o mais perto que a gente chegue de uma máquina do tempo, quem sabe? Então, como qualquer máquina, você só tem o controle dela se aprender a usa-la com sabedoria, paciência e cuidado. E eu te garanto que se você quiser, ela pode ter muitas outras funções além das que aparecem no manual. - Luísa Monte Real

Distância


  "Distância: quantidade de espaço que existe entre dois pontos separados, medido por metros, quilômetros entre outras medidas." É, no dicionário até pode ser isso, mas para mim quando se trata de pessoas vai muito além. Não que o espaço não seja importante, afinal nada como a experiência de fato, a vivência, o contato e a presença física, olho a olho. Talvez em um tempo distante o espaço realmente contava muito, mesmo assim sempre fomos criadores de métodos que diminuíssem a separação de nossas relações afetuosas ou coisas, atividades. Tenho muitas pessoas perto, no peito, que nem mais na terra estão, quer dizer, pelo menos que eu não possa ver. Distância para mim pode ser aquele vizinho que vive tão perto, mas você nem tem ideia do nome dele. Distância é o que eu sinto quando estou com alguém e ela não é mais a mesma, não reconheço mais, seja de modo surpreendente ou decepcionante. Distância pode ser quando sinto falta dois minutos depois de ter terminado. Distância pode ser aquilo que queria que fosse eternamente meu, mas me escapa entre os dedos da mão. Distância é o que o tempo faz com as pessoas, com as histórias, com a rotina, com a dor e com a alegria. Distância é quando eu estou em um ligar chato com gente chata, mas estou falando pelo celular com alguém que amo, estou distante do mundo físico, mas perto do mundo espiritual, ou se achar banal e vazio, virtual, como preferir. Distância é mais do que medida, é sentimento. É o estar aqui e depois não estar mais. É a falta. É a possibilidade de estar perto, mas parecer longe. É a possibilidade de estar longe, mas parecer perto. Distância dá medo. É como estar em cima de um penhasco e embaixo só se ver a escuridão, não se vê o chão, e dá a impressão de que se cair, já era. Não importa o número de metros, é sempre essa a sensação. Angústia. Dor. Saudade. Não alcançar. Não tocar. Não ver. Desaparecer. Perder. Distância também pode ser aquilo que você quer de algo ou alguém que incomoda. Distância é suspirar aliviado. Libertação. Calma. Curativo. Distância pode ser um mero número ou um sentimento indefinido e paradoxal que depende de cada contexto. Distância é universal e particular. Distância é aquilo que eu menos quero de você. - Luísa Monte Real 

A hora das borboletas




    10h da manhã de Sol as borboletas saem para beijar as flores. Algumas são beijadas de volta, outras são rejeitadas, outras se beijam e as flores se juntam para dizer que é falta de flor. Outras voltam no dia seguinte e outra borboleta já está em seu lugar. Outras nunca nem acham uma para beijar, outras já cansaram daquele beijo mais ou menos de flores murchas. Outras estão esperando flores que parecem nunca desabrochar, outras são negadas por ter beijado mais de uma flor. Outras deveriam ser maiores, deveriam ser menores, mais coloridas, menos coloridas, prefiro as rosinhas, as marrons parecem mariposas, quem gosta de mariposas? Asas muito pontudas, asas muito redondas essa dança demais tem que ser mais discreta, essa dança de menos BLAHBLAHBLAH AAAAAHHHH CHEGA! Elas estão tontas, vão e voltam, giram e finalmente, caem. Tanta cobrança, não se encaixam e outras fingem se encaixar. Quebradas por dentro. Cansadas.
    O fato é que todo dia é dia de desilusão e decepção com flores que não chegam a metade das suas expectativas. Mesmo assim, todo dia as 10h elas dançam com suas asas coloridas levando um pouco de cor e beleza para o mundo. Beleza. Elas também cansam disso. As flores querem sempre as mais bonitas. E mesmo as mais bonitas são sempre substituídas por outras, porque sempre vai existir uma que a deixe menos perfeita. Descartáveis e reutilizáveis. Nunca boas o suficiente, mas sempre aceitáveis. Às vezes elas só queriam que as flores se desprendessem de suas raízes e fossem dançar com elas, dando ao mundo um novo sentido, mas elas não acompanham. E as borboletas cada vez mais dançam e menos beijam. E isso as faz um pouco desesperançosas e até solitárias naqueles dias mais frios em que o Sol resolve se esconder por detrás das nuvens. Aquele dia que não se diferencia as 10h da manhã do meio-dia.  E então ela resolve beijar uma flor novamente para ver se algo mudou. O cheiro? O mesmo. O beijo? O mesmo. A cor? A mesma. O desabrochar, cadê?! As cobranças? As mesmas. Quanto tempo mais esperar? E aí, ela já nem liga mais, ela nem insiste mais e prefere se juntar a uma causa maior e se unir por um mundo de mais amor às borboletas que tem tanto para dar mas que poucos sabem receber. E então elas resolvem receber tudo aquilo que passaram a vida toda tentando dar e nenhuma flor soube cuidar. Amor.  Respeito. E a liberdade, que apesar de sempre terem tido asas, nunca antes haviam se permitido a dar-lhes sua real função. Voar e o vento beijar. -Luísa Monte Real

Dormir e acordar no nada

 

    É que eles já não sabiam mais olhar o Pôr do Sol sem se avisar para olhar o céu, ou para ver como o céu estava com estrelas e a Lua linda. Ela já não sabia mais como era ter que deitar sem cair no sono escutando sua respiração ficando mais forte e devagar conforme ele ia se entregando para o travesseiro. Era uma coisa curiosa como a respiração dele não a causava incômodos, era tão particular e gostosa. Causava os mesmos efeitos que uma canção de ninar para ela, dava a certeza de que ele estava ali e tão perto... Ela já não sabia mais dormir sem achar graça das frescuras dele de conseguir dormir. Ela já não sabia mais o que era acordar e não ter que esperar algumas horas e ouvir ele se mexer todo sabendo que ele estava despertando. E ali, ela já abria um sorriso esperando ele gemer se espreguiçando e logo depois a chamando, sussurrando perguntando se estava acordada. E o tom de sua voz era de um sorriso estampado por acordar ao lado dela. Depois, perguntava se estava há muito tempo aguardando, e com um sorriso de brilhar os olhos, ela respondia sem jeito "mais ou menos". E ele perguntava se ela já tinha comido e por que não tinha ido comer ainda. E ela respondia: "estava esperando você". Ela não sabia mais o que era acordar, e um não se perguntar ao outro: "quem foi que dormiu primeiro?".
   Ele já não sabia mais como não fazer aquele ritual de ver séries com ela sempre querendo fazer a vontade dela pedindo para ela escolher qual seria a do dia, e depois ficar conversando com ela até a hora que sente que vai dormir e diz a ela que a ama com uma voz dengosa. Fica chamando ela mil vezes e com uma voz baixa, mimada e birrenta: "Eiii, eu gosto de você." Ela ri e fala que também gosta imitando a voz dele. E ele diz: "mas eu gosto de verdade". Ele já não sabia mais como não dormir sorrindo depois de ouvir a voz dela ecoando em sua mente que o amava e no silêncio calmo em que ela dormia como uma múmia, ele mergulhava achando sua paz. E ele, ao acordar, já não sabia mais como era acordar sem aquele motivo para sorrir. Ele sentia falta de como não só o mau humor não se fazia presente ao despertar com ela, mas em como acordava sorrindo apaixonado com paz e conforto no coração.
   E essa foi a parte mais difícil quando deixaram de ser um do outro. A hora de dormir e acordar. Era a hora em que sem  palavra alguma, olhar ou sentido consciente, eles se encontravam mais juntos em demonstrações de amor calado. Era a hora em que os corpos se desligavam totalmente e as almas se conectavam. Era a hora em que o amor recíproco dançava pelo ar e ninguém nem mesmo precisava se olhar para saber que o outro sorria e sentia aquilo. Um amor que trazia uma calmaria e uma alegria que só eles eram capazes de entender. Ela teve dificuldades em dormir e pesadelos por meses sem ele ali. Ele acordava chutando o armário diariamente sem ela ali. Com o tempo, foi passando. Mas toda noite e toda manhã era a mesma coisa. A falta. O vazio. O buraco. Ela costumava se distrair até que o sono a detonasse na cama e ela dormisse sem perceber. Porque se ela fechasse os olhos antes do sono a pegar... memórias, saudades, fantasias de estar com ele, choro... Sem ele. Ele ficava até de madrugada bebendo, transando, encontrava os parceiros para que chegasse morto em casa, capotasse na cama e acordasse atrasado para não ter tempo de ouvir o nada. Sem ela. O que era luz se tornava escuridão. O que era mágico e fantástico se tornava dor e náuseas. Não era saudade, era falta. Ela queria fazer um contrato de só poder dormir com ele, era só o que ela queria, mais nada, ela promete, era só para não ter pesadelos. Ele queria fazer um contrato de só poder acordar com ela, era só o que ele queria, mais nada, ele promete, era só para acordar sem mau humor. Eles só queriam seu canal de maior conexão de volta, não precisava do resto, sério mesmo. Mas no final, o que eles queriam mesmo é que o canal nunca tivesse se partido, e que o resto não fosse, na verdade, uma grande parte do nada que antes era preenchido. - Luísa Monte Real 

A loucura pela paixão


  Acho engraçado que as frases que mais ouço no meu dia são: "Luísa você tá bêbada?"; "Bebeu?"; "Pera, você não é maconheira???Mo jeito de maconheira"; "Luisa, tu fumou?"; "Quee isso tá doidooona...". E acreditem se quiser, meu apelido já foi até "cracuda". Não, gente, antes que digam qualquer coisa, não sou o estilo que bebe e finge estar bêbada só pra causar e chamar a atenção. Não sou aquele tipo "nossa, que ridícula, é uma adolescente perdida querendo aparecer". Para começar nem gostar de beber eu gosto muito. Eu simplesmente sou uma mistura de tranquilidade com um levei um choque na cadeira e sai rebolando por aí. Sou aquela mistura de introspecção com extroversão. Uma hora to lá e em um instante me conecto com algo aqui, em pensamentos que me deixam completamente fora da realidade. "Ih oh lá, tá viajando...". Estou mesmo, eu viajo o tempo todo, viajo em uma conversa, em uma música, em um sentimento, em um pensamento... Tenho o poder de me teletranspotar, e nem sabia disso antes de refletir sobre os tantos recados que recebi dizendo o quão maluca eu sou. Eu sou tão dentro de mim que acabo me expandindo para fora viajando em diversos universos, mergulhando no mar do outro com meu jeito sem vergonha de ser.      
   Quer saber?! Eu sou louca louquinha mesmo, porque gosto de me sentir humana. Gosto tudo intenso, gosto de mudanças e de poder ter o gostinho de ser tudo um pouco. Gosto de sofrer, mas sofrer por inteiro sem engolir uma gota de meu próprio veneno. Gosto de amar, mas amar com o peito aberto e inteiro. Gosto de rir, mas rir até doer a barriga. Gosto de achar tudo engraçado na idiotice e na bobeira. Também gosto de sentir raiva e sair gritando por aí. Gosto de ouvir uma música, fechar os olhos, sorrir e senti-la batendo em minha alma. Gosto de ser sincera e expressar o que sinto para o outro. "Luísa você é doida? Que coragem". Gosto de me ver livre de rancor e de dar chances para o outro. Gosto de ser rejeitada e ter a possibilidade de um recomeço andando no escuro. Gosto de arriscar e não me arrepender de ter tentado. Gosto de ter uma ideia e fazer na hora.  Já dizia Freud que paixão é uma loucura, e tenho certeza que essa é a minha. Gosto de me apaixonar, se não for pra se apaixonar nem confirmo presença, nem mesmo marco que tenho interesse. Sou apaixonada pela vida, pela minha história, pelos meus erros e acertos. Apaixonada pelos meus dons e pela minha vontade de ser sempre alguém melhor. Apaixonada pelo que sinto por alguém ou algo. Não estou dizendo que penso que vivo em um conto de fadas e saio idealizando e me iludindo por tudo que tem por aí. Talvez um dia eu tenha sido assim, mas hoje, penso que sou uma pessoa realista que simplesmente consegue e prefere ver o lado positivo das coisas, lutando e vivendo em uma loucura particular na qual encontro muita paz e um sorriso com emoção nos olhos. Porque se for pra sair de casa sem viver poesia, eu nem saio. E se for pra viver na loucura de só me lamentar, eu nem vivo. É essa loucura que me faz levar a vida com leveza. É ela que me dá a certeza de que o leve de viver está na felicidade que escolho e encontro dentro de mim, todos os dias. - Luísa Monte Real

Liberte-se e sinta



   Eu descobri o que era liberdade quando ser ansiosa não fazia mais sentido. Eu descobri o que era liberdade quando o meu maior objetivo virou viver um dia de cada vez. Quando me dei conta de que nada é certeza nessa vida e que essa é a graça. Quando descobri que a vida anda, gira e retorna independente de eu tentar calcular todos os passos que eu devo ou não dar. Independente do controle, a vida mexe, e ela é mais rápida e esperta do que você. Eu descobri o que era liberdade quando me dei conta que quem me prendia não eram meus pais, nem ninguém, era eu. Entendi que ser livre é me dar a chance de fazer escolhas o tempo inteiro. E de que fazer escolhas depende sempre de ganhar, mas ao mesmo tempo de perder. E lidar com a perda é o mais difícil, não é à toa que muitos se prendem a dizer não ter escolhas e não sair do lugar. Mas entendi que se eu me der liberdade e quiser eu posso escolher, voltar atrás, escolher de novo, reinventar e consertar. E ah, ser livre também é uma escolha. Sim, ninguém te dá a liberdade. A liberdade é só mais uma dessas coisas que se você não correr atrás, ninguém vai correr por você. Liberdade é entender que a vida é sua e que se você deixar, os outros não tem nada a ver com isso. Liberdade é deixar de ser egocêntrico e achar que tudo que o outro faz é para te atingir, é entender o outro além do que está na sua cara. Liberdade nada mais é do que ter responsabilidade por si mesmo. É se reconhecer como é, enxergar como quer ser e lutar para se tornar. Ser livre custa caro, mas o retorno é sem igual. Ser livre você tem que abrir mão desse seu orgulho, abrir mão de culpar sempre o outro por escolhas suas, abrir mão de ficar parado no seu lugar esperando a vida agir, dizer que é destino e se privar de tantas escolhas que podem ser feitas, ah se engana quem pensa que ficar parado não é uma escolha... E se você escolheu, tome responsabilidade do seu vazio. Ser livre é abrir mão do julgamento dos outros, e principalmente dos seus. O julgamento enquadra, tira possibilidades e diminui. Se permita se encontrar e deixe que o outro se encontre também, o tempo inteiro, não importa quantos anos você se conheça ou conheça o outro. Ser livre é reconhecer que você não consegue ser livre se não deixar o outro florescer também, se desprenda. Diferente do que muitos pensam ser livre nada que tem a ver com desapego. Liberdade é encontrar amor dentro de si e se permitir encontrar em outros corpos. Aquele amor tranquilo, que não controla, que não tem insegurança, que a certeza não tem lugar e que a naturalidade é quem passeia. Liberdade é entender que o outro não te deve nada, é fazer porque quer, e não pensando no retorno. Liberdade é desinflar o ego e investir no de dentro. É rir de si mesmo molhado quando esquece o guarda-chuva. É ser espontâneo. É aceitar, perdoar, permitir e amar os erros, pois sabe que são eles que nos dão a possibilidade de sermos melhores, e imperfeitamente livres. Liberdade é como andar numa floresta de olhos vendados onde você corre grande perigo, mas se depara com os sons mais relaxantes e bonitos, experimenta os cheiros mais saborosos e tateia uma diversidade de sentidos intensos e insubstituíveis. 

Pedacinhos do meu lar

     

    Uma vez eu te falei que não me sentia muito em casa, aquela coisa de "lar", morando no Rio. Por mais que eu amasse muito, é difícil morar em um lugar onde você não foi tão bem-vinda assim por ser paulista, e a primeira impressão me fez querer fugir dali. Difícil também, desconstruir essa imagem de "férias" que essa cidade tem para mim, era como se eu fosse voltar para algum lugar, algum dia... mas não sabia onde nem quando, porque minha infância toda mudei de cidade em cidade, e não sabia ao certo qual era meu lar. Se me perguntassem, não me sentia perto dos cariocas nem perto dos paulistas. Talvez meu lar fosse em um lugar em que eu nunca morei, mas onde eu sempre fui para visitar o resto da família. Ah, acho que também não... E então, quando te expliquei tudo isso, você me fez uma pergunta tão simples, mas que apontava para a resposta certa: "Eu faço você se sentir em casa?". Eu demorei a responder por alguns minutos porque nunca tinha parado para pensar sob esse ângulo, nunca havia reparado na proporção  que o seu aconchego tinha tomado em mim. E sem hesitar, eu respondi que sim com um sorriso, realizada e surpresa. Você falou que então, nada mais importava e que eu não precisava me cobrar tanto. Você é tão lindo e sabe exatamente o que dizer às vezes... 
     Hoje estava eu em minhas redes sociais e li "lar é onde você quer estar" e lembrei-me muito bem desse dia. Estou longe de você, da minha família e dos meus amigos. E nunca me senti tão fora do meu lar.  Lar é essa coisa que a saudade dói demais quando não estamos nele. Lar é essa sensação de ninho, acolhimento, essa sensação de pertencer, se encaixar - como sempre gosto de usar -, tudo é como um quebra-cabeça, e o lar é a sua pecinha se encaixando na outra, seja ela um lugar, os braços ou o olhar de alguém. Até mesmo viajando encontrei pedaços do meu lar por toda parte. Em lugares que passei por pouco tempo e fazem doer de saudade, e em pessoas que nem ganhei muita intimidade, mas que me conectei de alma e guardo no peito. Descobri que nesse quebra-cabeça, algumas pecinhas se encaixam em várias outras. Algumas pecinhas só se encaixam em algumas. E algumas pecinhas até mesmo conseguem mudar de forma para se encaixar. E de alguma maneira, no meio de tanto desencaixe e encaixe, nossas pecinhas se encaixaram muito bem. E seu abraço, seu sorriso e sua voz, hoje, parecem ser um dos meus lares favorito, seguro e aconchegante do mundo. E agora que estou aqui, parece ser o mais desejado quando estou longe. Enquanto nos encaixamos no encaixar de outros, nossas peças continuam a achar novos meios de se encaixar, formando uma bela dança de conexões múltiplas que é a vida.

Decepções na sua porta 2.0














E entre vindas e partidas,
Você disse vem...
E lá estava eu de novo
Eu que tinha jurado que meu amor,
Você perdeu.
Você me prometeu uma cama,
Um sofá, uma tartaruga e um cachorrinho
Prometeu até me fazer gostar de gatos
Prometeu cozinhar estrogonofe pra mim
Prometeu cuidar das minhas cólicas
Prometeu enxugar minhas lágrimas
Você prometeu me acordar
Todos os dias, com beijos antes da faculdade.
Você me prometeu uma casinha pequena,
Para dois e bem apertadinha
Você me prometeu séries e filmes todas as noites
Prometeu viagens nos feriados
Prometeu sorrisos e provocações
Prometeu ser meu lar
Você me prometeu amor
Prometeu me fazer a mulher mais feliz do mundo.
Então eu aceitei.
Te dei mais uma chance
Percorri toda aquela calçada mais uma vez
Dei "oi" pro seu porteiro,já cansado de me ver tantas vezes ali...
Te esperando.
Entrei.
Te abracei.
Me alegrei.
Despertei.
Um dia, cheguei.
A fechadura já não era a mesma.
Você a trocou.
E eu esperei no corredor.
A luz acendia.
A luz apagava.
Ouvi seus passos,
Mas não te reconheci.
Você abriu a porta.
Calei tua boca antes que falasse.
Minhas malas mal estavam desfeitas.
Juntei tudo e fui.
Menino, você não sabia com quem tava mexendo.
Sou mulher de atitude.
Você promete, eu cobro.
Você dá ideia, eu faço.
 Eu sonho, eu busco.
Tenho medo, e não reparo.
Não me alimento de desejo,
Me alimento de realização 
E na tua porta me deparei de novo.
Já você...
Ainda que me surpreendi,
Você caiu em si
Que pra ti,
Agora não dá.
E com coragem,
Me negar.
Você não se encontra.
Você mal sabe o que quer.
Você mal sabe onde fica sua porta.
Tem a audácia de falar,
Sem a responsabilidade de fazer.
Sem nunca focar e lutar,
Quer escolher.
Quer ter muito pra dar,
Quando não sabe receber.
Quando descobrir qual é a tua
Vai bater em minha porta
E vai encontrar
O vazio...
Que recebi enumeras vezes.
E agora, é a sua vez de receber
O eco do teu grito no apartamento
A marca do teu soco no cimento
A poeira deixada no esquecimento
Arrependimento
Sofrimento
Porque eu fui.
Mas fui mesmo de(ssa) vez.

-Luísa Monte Real

15 passos


  Eu só queria que eu ainda pudesse ser seu colo. Que você corresse pra mim pedindo pela calmaria que eu te dava. Que você deitasse aqui nos meus palitinhos que chamo de perna e eu entrelaçasse meus dedos em seu cabelo fazendo um carinho bem gostoso. Que você me ligasse chorando e jurando que nenhuma lágrima havia caído. Que você estivesse explodindo de raiva e eu te fizesse dar aquela risada tão gostosa. Eu queria, eu juro que ainda queria ser esse seu encosto. Dói-me pensar que você está por ai se sentindo perdido e sem amparo. Mas como você mesmo vivia me dizendo, as coisas não acontecem só porque a gente quer. E é por isso que eu tive que ir. Ei, não fica assim não, promete?! É pro seu bem, eu juro juradinho. Não, minhas palavras nunca foram falsas, sempre te disse que queria você por perto mesmo que fosse só nas lembranças, sempre te disse que meu amor por você não deixaria de existir e sim, ficaria guardado em uma gavetinha. Mantenho minhas palavras e infelizmente, chegou a hora de cumprir. É que por muito tempo eu fui seu apoio, e isso não é bom nem pra mim, nem pra você. Não estava sendo bom pra mim ter que cuidar mais de você do que de mim. Eu pareço ser essa pessoa cheia de estruturas, bases sólidas, forte, alegre, positiva pra você, mas também tenho que me cuidar. E meu bem, eu esqueci... Esqueci de mim por você, deixei de lado toda a minha forma para ser sua rede de balanço. Você sentou, se acomodou e ficou... Balançou, balançou... E por isso não era bom pra você também. Eu te prendi porque te dava aconchego demais. Você não andava pra frente nem pra trás. Só ficava ali, parado. Eu tentava te empurrar pra frente pra acompanhar meu balanço, mas você era mais forte e parava a gente. Amor, a vida não é um jogo, não se volta caminhos para trás, só se anda para frente. Amor, nós estávamos em outro nível e você insistia em voltar 15 passos para trás. Para andar os 15 já foi difícil... Eu te empurrava 2, você voltava 1. Eu te empurra 4, você voltava 3. Eu te empurra 8, você voltava 6. Eu fazia o esforço por duas pessoas. Eu te carregava. Eu era o mar inteiro e você uma âncora que só se mexia depois de uma tempestade. Eu perdi forças. Quando vi, virei uma praia só de areia um pouco molhada e você lá parado, há 15 passos atrás. Não deu mais. Tive que ir. Não tinha mais água que te puxasse pro nível certo. Agora, agora preciso me preencher de volta. E você meu amor, você precisa deixar de ser âncora e virar mar. Crie suas próprias ondas. Sua própria força. Seu próprio descanso e paz. Não é que você nunca tenha sido um repouso para mim, muitas vezes se fez praia, mas é que a sua praia se prendeu na minha com o balanço da minha rede e o peso da sua âncora. Meu amor, é que vida a dois é lado a lado, eu não posso mais ficar andando para trás e ir te buscar. Isso nos impede de progredir, eu nunca paro de voltar, e você nunca se mexe pra ir com o comodismo da carona. Então me promete só mais uma coisa? Promete que vai dar esses 15 passos sozinho? Promete que você vai surpreender o mundo inteiro com o mar que eu sei e vi que você é capaz de ser? Mesmo que eu não presencie tudo isso, só promete pra mim? Promete pra mim que você vai conseguir dar aquela gargalhada gostosa consigo mesmo? E quando você chegar no 15º passo sozinho você vai se lembrar de mim e vai entender porque te deixei, eu te libertei... - Luísa Monte Real 

Confuso? Talvez, com certeza.

    

    Se eu tivesse que dar uma entrevista sobre você e me perguntassem qual a melhor parte de se apaixonar pelo seu melhor amigo, eu diria que é a transparência. Po, melhor amigo é aquela pessoa sabe? Ah cara, você sabe, não dá pra explicar, aquela parceria que faz brilhar os olhos de ter conquistado. Melhor amigo é aquele que te entende mesmo sem entender nada, te acha a pessoa mais maluca e ao mesmo tempo a mais incrível. Ele te deseja o melhor do melhor que o mundo possa te oferecer e só quer o seu sorriso. O orgulho não passa por cima da preocupação de te ver mal. Amizade para mim é tudo, e a sua nunca foi diferente nem será. Pessoas que se amam, que se cuidam somando mais um tipo de amor. Não é fácil se apaixonar quando se tem um nível de intimidade o qual um não tem nojo de nada do outro, não tem vergonha, não tem mistério. Uma vez que acredito que a paixão vem do encanto, se apaixonar pelo real, pelo que se tem dentro e não só pelas aparências é muito mais sincero, e menos chances de ser decepcionante do que se apaixonar por um desconhecido. Ao mesmo tempo que não há surpresas é surpreendente. A certeza de que o respeito e o cuidado vão estar sempre presentes. Poder falar besteiras e coisas sem sentidos, não ter que fazer esforço pra impressionar, não ter inconveniências, ser você e só você, porque ele se apaixonou por você mesmo conhecendo todas as suas manias, chatices, bobeiras, piadas sem graças, te aguentando desde sempre naqueles dias ou você quando ele arrota muito alto e você continua achando nojento, mas não consegue não rir e acha-lo engraçado, e ainda por cima nem de longe tira todo aquele charminho que de uma hora pra outra você encontrou nele. Ver o seu melhor amigo não exatamente com outros olhos, mas com um olhar mais profundo, um olhar não só de cuidado e admiração como antes, mas de desejo. Querer fazer todo dia ele se surpreender por ter se apaixonado pela pessoa que ele menos esperava e ver que ele causa as mesmas surpresas em você... Gostar de alguém que já combinava tão bem com você mesmo tendo todos os gostos trocados, pensamentos opostos. Gostar de alguém que sempre esteve ali por você em todas as horas e era para quem você sempre corria para se aconchegar quando as coisas não estavam boas. Gostar da pessoa que só quer te ver bem e a sua felicidade é motivo de sorrisos e calmaria no peito dela. Se apaixonar por alguém que já se ama há tempos não tem preço, porque no amor já não tem timidez,  não tem medo de não agradar. Gostar da pessoa que te mostrou toda a alma dela e você a sua, todo o ser compartilhado um com o outro. Gostar de alguém e poder falar dela com ela mesma, afinal ela foi sempre a pessoa que soube de todos os seus rolos, sem medo de "estar falando demais", "rápido demais", "tá falando isso só pra me conquistar?".  Gostar de alguém que te faz questionar se você mesmo não a conhece melhor do que você se conhece e do que ela se conhece (Confuso? Talvez, com certeza). Desejar de uma hora pra outra que os abraços dela se transformem em beijos. De repente chamar e falar de "amor" não é tão casual assim e até dá aquele conforto e alegria no peito. De repente dizer "te amo" toda hora não explica metade das borboletas que dançam pelo corpo. De repente a gente fica todo idiota e descobre lados carinhosos um no outro e em si mesmo que nem sabíamos que existiam e que não temos vergonha alguma de demonstrar. De repente eu paro e penso "mas é meu melhor amigo". E afinal, tem coisa melhor do que aquelas que a gente ri e pensa que nunca aconteceriam? Tem coisa melhor do que se apaixonar pela pessoa que já estava na lista de preferências? Tem coisa melhor do que gostar e a pessoa ser sua melhor amiga, a melhor versão de você mesmo? 

Lar doce mar

    



   Eu nunca entendi meu amor pelo mar. Não que amor desse para entender, mas tudo bem... Sei lá, o mar é tão o mar... É aquela coisa que não para nunca. Já pensou nisso?! Mesmo aqueles mares sem ondas, sempre tem uma corrente, um movimento. E se for falar de onda, já pensou que a mesma onda nunca foi repetida?! Nunca é o mesmo tamanho, nunca são as mesmas moléculas juntas, nunca a mesma forma, sempre diferente. E a cor do mar?! Muda o tempo todo, uma hora é verde, outra azul e às vezes até mesmo marrom meio mate. O mar é essa coisa única que não para nem se repete. Ele dá a sensação de estar sempre limpando tudo que está por dentro dele, dá a sensação de liberdade por não conseguirmos ver seu final. Dá aquele cheirinho gostoso e refresca até a alma. Ficar olhando o mar me dá uma calma, uma paz... Quando estou triste gosto de chorar olhando para ele, parece que ele vai lavar minhas lágrimas, parece que de certa forma ele me dá essa sensação de que tudo passa e se renova, sempre. O mar é uma dessas coisas que gosto de ter por perto, ele pode dar desvantagens como a umidade que faz eu ficar meio melada e meu cabelo em pé, mas prefiro morar no litoral ou pelo menos perto. Sei lá, é tão bom saber que tem um lugar certeiro onde eu posso estacionar a alma por algumas horas e me encontrar, me redescobrir ou até mesmo fugir de mim. Esquecer de tudo por algumas horas. Lembrar de tudo em outras. O mar, e a praia como um todo é como se fosse um colo. Além de tudo, ele ainda tem sua própria música. Respirar de olhos fechados e ouvir ele cantar para você é uma sensação indescritível, é quase uma terapia, se já não for uma.... E quando você mergulha nele é como se você se deslocasse para outro mundo. Um mundo interno. Onde o silêncio se coloca tão presente que parece ser possível escutar nosso corpo e nossa alma por inteiro. Um mundo que você se conecta com a natureza de uma forma tão direta e mágica. Ah, e não tem nada que me encha mais a alma do que conexões, conexões são esses encantos inexplicáveis que não se vê, não se toca, só se sente e só se sabe. O mar é essa mistura de beleza natural que encanta e hipnotiza os olhos com sensações que tocam a alma sem nem abri-los, afinal dizem que as melhores sensações, temos de olhos fechados. O mar é paradoxal. E quando voltamos à superfície parece que você se renovou junto com todos os ciclos que ocorrem nessa perfeita imensidão que é o mar. O mar é paz. O mar é conforto. O mar é turbulência. O mar é liberdade. O mar é perigo. Precisa-se ter responsabilidade para saber lidar com tamanho compromisso de ser livre, já dizia minha avó "o mar não tem cabelo para se segurar", ele te leva e leva, e quem não sabe onde se quer chegar, se perde... O mar é lindo. O mar é louco. O mar é meu reflexo. O mar é lar. - Luísa Monte Real

É porque sou carente de você


  Nunca gostei de garoto muito grude, que quer minha atenção demais, romântico demais, carente demais, apaixonado demais,bonitinho demais... Não conseguia ficar mais de um mês com a mesma pessoa, nossa enjoava demais... Sempre reclamavam como eu era "grossa", "fria", "não dá carinho", "não é melosa", "só dá patada", era amiga, legal, divertida, bonita, mas amorosa e carinhosa? Nunca, era impressionante. E olha que eu tentava e chegava a pensar que estava fazendo esforço demais. É que é aquela minha coisa né? Sou sincera e transparente demais, não sei fingir o que não sinto. E ai veio você e de repente você era "grude demais", "romântico demais", "carente demais", "apaixonado demais", "bonitinho demais". E ai veio você e de repente eu era "bonitinha", eu era "engraçadinha", "carinhosa", "grude", eu era "linda". Pera, o que? Você está realmente me achando tudo isso? Não, pera, o que? Eu to realmente gostando dos seus "demais"? E então, foi quando eu descobri uma melhor versão de mim que você despertava. Você me fazia querer ser o que eu não conseguia ser com garoto nenhum. Você me fazia gostar do que eu não gostava em garoto nenhum. Não tem como explicar muito bem como isso aconteceu. Só sei que foi assim. Quis te colocar num potinho, te esmagar e morder, do tamanho sentimento que me transbordava. Queria te enfeitar um sorriso com as minhas maneiras mais doces e poéticas. Ficar abraçado e não soltar. Olhar tua foto e derreter de alegria e amor só por aquele rostinho existir em minha vida. Fazer de você meus melhores textos. Te fazer feliz como me fazia com todo teu amor.  A perfeição estava longe do nosso alcance, mas alguns momentos eram perfeitos. Queria te emprestar um pedaço meu e ter um pedaço teu. Deixa eu te contar que quando é raro encontrar isso é muito mais gostoso e único? Então, desculpe a todos os outros garotos, meu amor é muito sincero para ser desperdiçado e confundido por carências passageiras que qualquer um tapa e eu não tenho paciência. E quanto a você... Ah, é que eu sempre quero um pouco mais de você... é que eu, eu sou carente de você. - Luísa Monte Real

Seu reflexo sobre mim


   E todo mundo ama meus textos sobre você... Não sei a diferença. Para mim, escrevo todos os textos com o mesmo intuito: me expressar, tornar meus sentimentos e pensamentos vivos e dá-los a possibilidade de viajar e ser de outros. Talvez seja porque ainda exista essa ideia romantizada do amor de casal que o povo adora. Não sei, mas é uma dúvida que me vem toda vez que posto algo sobre você. Talvez você seja a maior inspiração da minha vida até agora. Não sei, mas os textos sobre você sempre tem mais visualizações. Talvez o meu sentimento por você seja tão forte, transparente e verdadeiro que eu passo toda essa sensação em minhas palavras e quem lê consegue senti-las. Não sei, mas também são meus textos favoritos. Talvez as pessoas consigam sofrer uma melhor catarse com os textos sobre você, porque o amor é universal e gostamos de nos colocar dentro dos romances, e os outros textos são mais particulares.  Não sei, mas a forma como me alivia te escrever é indescritível. Talvez seja porque foi você o meio que eu aprendi a escrever como escrevo. Não sei, só sei que toda vez me surpreendo com a reação das pessoas a seu respeito, confesso que isso me incomoda um pouco porque eu tenho um certo medo da supervalorização do amor entre casais, mas eu sei que a maior parte de mim fica muito feliz e me influencia a pensar que você é essa coisa única que me aflora sentimentos diversos. Mas, eu paro e penso. Nada disso é sobre você, é sobre mim. Sim, o que eu sinto por você, o que eu vejo em você dizem a respeito a mim, são as minhas interpretações sobre você, e são apenas minhas, eu criei e passei pro papel, até mesmo quem lê, lê suas próprias interpretações e fazem um "você" particular, um "você" que elas mesmas imaginam, e não o "você" que eu pensei quando escrevi. Então, desculpa, mas você não é essa pessoa única que me causa sentimentos, eu sou minha própria pessoa que eu mesma me causo sentimentos únicos por você, obviamente sem que eu escolha e até mesmo tenha grande controle. E desculpa, ainda podem existir outros "vocês" os quais eu desperte sentimentos únicos que também me inspirem de maneira tão colorida ao ponto de ser não só meus textos favoritos, como daqueles que me leem. E é aqui que eu me liberto de você, é aqui que eu entendo que o dom da poesia é meu com ou sem você, e que você é só mais um personagem o qual eu deixei que em meu jardim de rosas e tulipas - diga-se de passagem, minhas flores favoritas -, você florescesse da maneira que mais se encaixava nas minhas vontades. Eu reguei, eu cuidei e deixei ao Sol de maneira que você nascesse em mim da forma mais bonita, essa forma mais bonita inspira os meus textos, mas essa forma não é você por inteiro, essa forma é o reflexo de você em mim, e assim como o espelho não deixa de ser o espelho quando olhamos para ele e nós apenas uma imagem, eu não deixo de ser eu e o seu reflexo em mim apenas uma imagem sua a qual eu faço, e ela não é o seu verdadeiro eu. Um espelho que deforma, não significa que o que é refletido é um ser deformado, mas sim que o espelho é deformado. Portanto, meus textos sobre você nada mais são o reflexo de uma beleza que eu tenho e formei em mim, e espero que eu possa sempre refletir o melhor e o mais belo de todas as pessoas que eu queira escrever. - Luísa Monte Real