A verdade é que eu te chamaria fácil de "amor" em meio a um
sorriso e risada boba, revirando os olhos dizendo que você tá com o hálito de
cerveja, e você faz careta dizendo que sou chata e não sabe como eu não gosto
dessa coisa tão sagrada. E aí depois a gente parte para outra discussão onde eu
tento entender o porquê de você e o mundo acharem que a palavra "top"
não é top. E você iria rir achando que eu sou estranha, enquanto eu te abraçava
e sentia em meu ouvido sua risada ecoar por dentro do seu corpo e sentiria seu
calor ao me abraçar de volta.
É que eu facilmente me imagino com você em um domingo frio, em
um final de tarde de tédio, na sua sala de estar, terminando de ver algum filme
que a gente nem gostou e ficamos em silêncio olhando um para a cara do outro
esperando a noite chegar e eu ter que ir embora, deixando sua casa vazia numa
sensação de como se a tarde tivesse sido tão mais legal assim comigo. A verdade
é que eu consigo me imaginar te olhando com os olhos brilhando como se você me
despertasse uma luz de alegria boba que vem de dentro para fora. E eu fitaria
meus olhos em sua boca e depois olharia por dentro dos teus olhos implorando para que
você adentrasse nos meus. Enquanto se aproxima para beijar minha boca que você
acha ela tão bonita, desenhadinha, em forma de coração onde na ponta ela tem
uma falha que a torna única, que te desperta mais ainda o desejo de ser só sua.
É que eu não sei se você é perfeccionista. Se for, essa seria a falha perfeita
em meus lábios, e se não for, os lábios seriam perfeitos pela falha. E aí, eu
viraria o rosto para você beijar minha bochecha e sentir meu cheiro que te faz
me querer mais apertada em teus braços.
É que eu consigo imaginar a gente discutindo quais sabores de
sorvete são os melhores e você me achando um E.T. por dizer que eu nem sou tão fã
de sorvete assim, e eu te achando ridículo por ver tanta graça assim. É que eu
consigo imaginar essa mistura de uma fantasia quase sem graça de tão clichê,
com uma chatice viciante de tão gostosa. É que eu consigo imaginar a gente
caindo na rotina de um amor sem graça e comum, mas que dá sentido e
euforia. A verdade é que eu consigo imaginar você fazendo piada de como eu
durmo na posição de uma múmia dando a impressão de que morri, mas o quanto na
verdade adora acordar antes para ficar me analisando naquela cena engraçada que
faz eu parecer tão linda em teus olhos. Depois em uma vontade de me esmagar,
você deita a cabeça em meu ombro encostando o nariz no meu pescoço e sentindo
meu cabelo em seu rosto, me abraça com pernas e braços dando um
sorrisinho que é quase um suspiro da alma. A verdade é que eu consigo imaginar eu fingindo que dormi nos teus braços, só pra você ajeitar meu cabelo para trás
da orelha e beijar minha testa. E aí quando ouço sua respiração mais forte sei
que dormiu e coloco-me mais perto para ouvi-la melhor enquanto desenho
devagarinho seus braços, seus ombros e seu tórax com a ponta dos dedos. Depois
brinco com a sua barba bem devagar para não te acordar, e penso que nunca fui
muito de gostar de barbas, e que elas pinicam, mas que a sua cai tão bem no seu
rosto. Aquela barba meio ruiva, meio castanha, que não sei como virou moda do
nada se genética não se pinta. E penso que não interessa com ou sem barba, eu
iria achar a coisa mais gracinha para se refletir antes de dormir. Você. A
verdade é que eu ainda não sinto nada dessas coisas e nem sei se sentiria, mas
consigo imaginar e mergulhar nisso como se realmente tivesse vivenciado ou
quisesse vivenciar com você. Talvez você me ache louca, mas desenhei em minhas
memórias toda uma rotina do nosso amor e já não sei o que é meu e o que é do
(a)mar que inventei de nadar com você. Sem saber se quero querer, eu imagino
querer te rotinamar. - Luísa Monte Real